sexta-feira, 2 de maio de 2008

Mediatização da violência dá origem a mais violência

Quem o diz é Carlos Poiares, professor de Psicologia Criminal - que por sinal foi meu professor e dos melhores que tive... - mas não creio que seja necessário ser entendido na matéria para perceber que a excessiva mediatização de casos de violência seja via televisão, cinema ou até mesmo por vídeojogos gera precisamente... mais violência.
Nos últimos tempos, três (entre tantas outras...) formas distintas de violência têm preenchido o nosso quotidiano:

1 - Violência no meio escolar, com o caso do vídeo da aluna que agrediu a professora, ininterruptamente difundido pela tv a descobrir a ponta do iceberg.

2 - Os casos de carjacking e o incidente no Posto da PSP em Moscavide, episódios que proliferam pelo país e que têm sido mediatizados e explanados ao mais ínfimo pormenor.

3 - A crescente criminalidade associada à noite, mormente, na Grande Área do Porto.

Pergunto eu:

1 - O alarmismo (ainda que legítimo, senão inevitável...) não terá efeitos contraproducentes nos jovens?!

2 - Terá isto algum efeito dissuasor? Pôr a nu as fragilidades das nossas autoridades que (sobre)vivem com falta de meios humanos não é quasi estender a passadeira vermelha aos criminosos?

3 - Até que ponto é oportuno bradar aos céus os focos de criminalidade associados à noite? Tal lesa os empresários porquanto afasta clientes e potencia novas rivalidades entre aqueles estabelecimentos.

Posto isto, eis onde eu queria chegar: é legítimo e até necessário que os media divulguem os casos de polícia de um Portugal cada vez mais inseguro, mas nem tudo pode ser feito à mercê da transparência e da liberdade de informação, mormente quando outros direitos tão ou mais importantes estão em causa.

Ninguém tem dúvida de que gratuitidade (e muitas vezes, a impunidade) da violência pode influenciar, se não mesmo incitar irreversivelmente à agressão que começa no seio familiar e escolar e que muitas vezes acaba por se estender ao grave delito criminal.

Se por um lado se espera que os responsáveis tomem sérias medidas e que um Ministro da Administração Interna - que também já foi meu professor, mas este bem menos afável... - venha prestar as devidas explicações; por outro, espera-se que os senhores que se ocupam do conteúdo e alinhamento dos telejornais passem a levar estas notas em conta e revejam as matrizes da informação que prestam. Urge uma informação menos alarmista, mais responsável, mais circunspecta.

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