Depois das preocupantes conclusões de um estudo encomendado pelo Presidente da República e divulgado em tom de lamúria nas comemorações do 25 de Abril, Cavaco reuniu ontem com dirigentes juvenis para debater a relação da juventude portuguesa com a causa pública. Dali saíram alguma ideias para acicatar as novas gerações e consciencializá-las de que, sem valores, sem capacidades, sem ambições, sem visão, sem sentido, sem rumo... não têm futuro.
A falta de sensibilidade dos jovens para as questões cívico-políticas não é novidade. Cresci com gente que não fazia a menor ideia do papel que pode e deve ter no seio familiar, no seu bairro, na sua vila, na sua escola, na igreja, na associação recreativa, etc, etc. Cresci a partilhar cadeiras de escola com gente que não sabia distinguir um PM de um PR, com gente que achava que cidadania era um qualquer palavrão da família do vírus HIV, gente que se juntava às manifestações por dá cá aquela palha, desconhecendo as motivações das mesmas..., e até gente que achava que uma AE era sinónimo de reduto de alunos nos tempos mortos.
O problema não é de agora. É de sempre. E não se escudem - quer os novos, quer os velhos - naquela ideia de que os jovens tendem a afastar-se da coisa pública porque o cenário político é negro. Este argumento tem tanto de falso como de perverso.
Vejamos: quando é que se nos aflora a vontade de participar, denunciar, propor, defender, agir e exigir? Será que é quando as coisas correm de feição ou... precisamente quando as coisas não vão bem?!...
O comum - e o mais fácil - é imputar responsabilidade aos adultos pela irresponsabilidade cívica dos jovens. Dizer que a classe política tem que saber cativar as novas gerações e que têm que ser criadas condições e estratégias para captar o interesse daqueles - que cliché..!
Se bem me lembro, quando eu era adolescente não havia nem metade das oportunidades - e facilidades - que há hoje para poder participar activa e proficuamente na sociedade civil. E isso não impediu que criasse o meu próprio espaço de actuação cívica aos poucos e fosse adquirindo conceitos de cidadania que hoje muito estimo, que vi reconhecidos e que têm sido decisivos no meu percurso pessoal.
No que toca a cidadania e intervenção político-partidária, os jovens não tem que ser levados ao colinho. Há, e sempre houve, os que estão despertos e sabem (ou pelos menos conhecem) as vias que podem usar para fazer a diferença. E há, como sempre houve e continuará a haver, os jovens que não se envolvem mais na causa pública porque estão centrados no seu umbigo, alheios àquilo que os rodeia ou, pelo menos, àquilo que não lhes toca. E não se pense que estou a ser demasiado incisiva nesta separação (quasi 'trigo do joio' ): muitos destes últimos reconhecerão isto sem qualquer constrangimento.
Ao contrário do que possa parecer - atendendo ao que venho escrevendo - não ilibo totalmente os adultos desta questão. Aliás, creio que desses é imprescindível que parta uma mudança de mentalidade, já que há muito quem subestime ou até mesmo menospreze os novatos. É vital que se dê voz à juventude e que haja uma predisposição para escutar o que eles têm a dizer. Esta mudança influencíará desde logo a integração daqueles na sociedade, bem como o seu progresso pessoal, intelectual e cívico.
Uma outra medida é a desejável intodução no plano escolar de uma disciplina de Cidadania. Se os jovens não adquirem naturalmente valores cívicos no seio familiar ou noutros circuitos, convinha que alguém lhes dissesse que não vão a lugar algum se continuarem imbuídos nas frivolidades que a sociedade actual lhes impinge, vivendo a sua vidinha como se as demais vidas nada importassem. Este despertar de consciências poderia bem passar pela introdução daquela disciplina, alertando-os para o mundo que os circunda e para o contributo que eles podem e devem dar.
Não tenhamos ilusões: não há muito a fazer para inverter estas estatísticas. Uma ou outra medida poderá amenizar o problema e despertar alguns jovens menos propensos ao entorpecimento cívico, mas não se esperem milagres.
A falta de sensibilidade dos jovens para as questões cívico-políticas não é novidade. Cresci com gente que não fazia a menor ideia do papel que pode e deve ter no seio familiar, no seu bairro, na sua vila, na sua escola, na igreja, na associação recreativa, etc, etc. Cresci a partilhar cadeiras de escola com gente que não sabia distinguir um PM de um PR, com gente que achava que cidadania era um qualquer palavrão da família do vírus HIV, gente que se juntava às manifestações por dá cá aquela palha, desconhecendo as motivações das mesmas..., e até gente que achava que uma AE era sinónimo de reduto de alunos nos tempos mortos.
O problema não é de agora. É de sempre. E não se escudem - quer os novos, quer os velhos - naquela ideia de que os jovens tendem a afastar-se da coisa pública porque o cenário político é negro. Este argumento tem tanto de falso como de perverso.
Vejamos: quando é que se nos aflora a vontade de participar, denunciar, propor, defender, agir e exigir? Será que é quando as coisas correm de feição ou... precisamente quando as coisas não vão bem?!...
O comum - e o mais fácil - é imputar responsabilidade aos adultos pela irresponsabilidade cívica dos jovens. Dizer que a classe política tem que saber cativar as novas gerações e que têm que ser criadas condições e estratégias para captar o interesse daqueles - que cliché..!
Se bem me lembro, quando eu era adolescente não havia nem metade das oportunidades - e facilidades - que há hoje para poder participar activa e proficuamente na sociedade civil. E isso não impediu que criasse o meu próprio espaço de actuação cívica aos poucos e fosse adquirindo conceitos de cidadania que hoje muito estimo, que vi reconhecidos e que têm sido decisivos no meu percurso pessoal.
No que toca a cidadania e intervenção político-partidária, os jovens não tem que ser levados ao colinho. Há, e sempre houve, os que estão despertos e sabem (ou pelos menos conhecem) as vias que podem usar para fazer a diferença. E há, como sempre houve e continuará a haver, os jovens que não se envolvem mais na causa pública porque estão centrados no seu umbigo, alheios àquilo que os rodeia ou, pelo menos, àquilo que não lhes toca. E não se pense que estou a ser demasiado incisiva nesta separação (quasi 'trigo do joio' ): muitos destes últimos reconhecerão isto sem qualquer constrangimento.
Ao contrário do que possa parecer - atendendo ao que venho escrevendo - não ilibo totalmente os adultos desta questão. Aliás, creio que desses é imprescindível que parta uma mudança de mentalidade, já que há muito quem subestime ou até mesmo menospreze os novatos. É vital que se dê voz à juventude e que haja uma predisposição para escutar o que eles têm a dizer. Esta mudança influencíará desde logo a integração daqueles na sociedade, bem como o seu progresso pessoal, intelectual e cívico.
Uma outra medida é a desejável intodução no plano escolar de uma disciplina de Cidadania. Se os jovens não adquirem naturalmente valores cívicos no seio familiar ou noutros circuitos, convinha que alguém lhes dissesse que não vão a lugar algum se continuarem imbuídos nas frivolidades que a sociedade actual lhes impinge, vivendo a sua vidinha como se as demais vidas nada importassem. Este despertar de consciências poderia bem passar pela introdução daquela disciplina, alertando-os para o mundo que os circunda e para o contributo que eles podem e devem dar.
Não tenhamos ilusões: não há muito a fazer para inverter estas estatísticas. Uma ou outra medida poderá amenizar o problema e despertar alguns jovens menos propensos ao entorpecimento cívico, mas não se esperem milagres.
7 comentários:
A questão da cidadania – e portanto da educação à cidadania- ressurge cada vez que a sociedade se interroga sobre os seus fundamentos, a perenidade do contrato social e a legitimidade dos seus dirigentes.
A recrudescência das formas de exclusão e a explosão das incivilidades, sintomas duma fragilização do elo social e duma interrogação sobre a noção mesmo da cidadania , é um momento forte desta questão.
Vê-se hoje na educação à cidadania um meio de adaptar a instituição escolar às exigências da democracia moderna, fundada na participação, na iniciativa, no debate critico.
No meu tempo escolar, existia a educação moral e cívica, constantemente associadas.
Mas não existia a formação ética nem a formação à cidadania. Quanto à política, ela estava confiscada.
Hoje a educação moral tende a desaparecer em beneficio do conceito da educação à cidadania.
Em meio século passou-se portanto da prioridade da dimensão moral da educação ( na qual a educação política não seria mais que um complemento e uma consequência) a uma prioridade
da dimensão política, na qual a moral seria mais ou menos incluída.
Ora o paradoxo é que esta politizaçao da educação cívica e moral coincide com uma crise do político.
A derrocada das grandes ideologias históricas e a fraca eficácia das políticas publicas engendram uma grande desconfiança para com os homens políticos. Ao mesmo tempo, a recorrência do tema da cidadania, demonstra a evidência da necessidade de redefinir a relação política.
Quando esta for feita, creio que os jovens interessar-se-ao à política.
Que pensa a D.Dulce Alves ?
Gostaria de acrescentar que mesmo se recordo da minha escolaridade, que a educação parecia ser mais da responsabilidade da Igreja e da família que do Estado, considero mesmo assim que incitar os jovens a interessar-se à política é um dever da educação, porque é assim que se preparam os cidadãos ao Estado.
E se o déspota só tem sujeitos, a Democracia só deve ter cidadãos, para poderem participar. Mas esta participação supõe que sejam capazes, o que supõe também o direito e o acesso à educação .
Viva o avozinho de Portugal!!!
Compreendo o seu ponto de vista, mas reitero a ideia de que não se pode usar a crise do político como bode expiatório dos escassos níveis de cidadania dos nossos jovens. É certo que uma actuação política mais credível, mais escorreita e mais eficaz poderia estimular os jovens nesse sentido. Mas a verdade é que- por defeito ou por virtude - nem todos têm que estar predispostos para as questões cívico-políticas. Compreendo quem não "esteja para aí virado", exceptuando claro, no que respeita aos incontornáveis deveres cívicos - i.e. mesmo que não se queiram arrogar dos direitos cívicos, devem pelo menos assumir os correspondentes deveres.
Em suma, o que acho é que não cabe impingir cidadania só porque é hora de amadurecer a nossa democracia (indo de encontro àquilo que V. chama de "democracia moderna").
Antes, ir pela via paulatina, i.e., formar os jovens e passar-lhes de forma transversal valores (que podem muito bem ir da 'velhinha' moral à cidadania) e que estes poderão, ou não, levar em conta. O certo é que assim estimular-se-á uma democracia participativa, que a seu tempo se revelará bem mais profícua que uma mera apologia da democracia já consentida.
Compreendo perfeitamente o seu ponto de vista, quando diz que « nem todos os jovens estão interessados pela política ».
Mas penso também que é através da educação que se lhes pode fazer compreender que esta é o único meio de tornar real a igualdade dos direitos, a qual, a igualdade, se encontra necessariamente confrontada à desigualdade das “faculdades morais”, i.e., dos talentos e da disposições naturais que fazem que alguns são “favorecidos duma organização mais feliz”.
O problema não é de facultar a todos a mesma quantidade de educação, pois que esta identidade não anularia a superioridade “natural” de alguns em relação a outros.
O problema é somente de evitar que esta superioridade inevitável e incontornàvel não provoque uma dependência real entre os homens: digamos que cada um seja suficientemente instruído para exercer por ele mesmo, e sem se submeter cegamente à razão de outrém, os seus direitos legais.
V; compreende que o exercício autónomo da razão basta para transformar o indivíduo empírico em cidadão esclarecido, consciente dos seus direitos como dos seus deveres e decidido a exercê-los.
A monopolização deste poder intelectual nas mãos de alguns indivíduos ou de “algumas castas de iniciados ou de herdeiros” ( era assim que o sentia na minha juventude em Portugal !), conduz fatalmente a uma sociedade despótica. Inversamente , a difusão deste poder entre todos, abolindo qualquer possibilidade de dependência e de opressão mutua, constitui a condição necessária duma sociedade democrática.
Vai talvez pensar que com estas reflexões procuro fazer as minhas contas com a sociedade Portuguesa da minha juventude, mas não é verdade. O que eu penso é que a desigualdade socio-economica , a dos ricos e dos pobres, não cria somente uma “diferença das luzes”, mas também uma diferença dos gostos e dos sentimentos que é uma consequência inevitável.
O que me importa é que sem educação apropriada , as distinções de classes traduzem-se por desigualdades quantitativas de riqueza, de saber, de esperança de vida, etc., mas também por diferenças qualitativas de atitudes, de valores, de compreensão do mundo, de relação à linguagem e aos outros.
Ora a lei, a acção política só, não podem nada contra estas diferenças se o indivíduo não estiver preparado para as combater.
Estamos então de acordo: uma verdadeira sensibilidade cívica passará inevitavelmente pela formação dos jovens nesse sentido, embora eu esteja em crer que isso não bastará...
Se me permite,onde entramos em desacordo é quanto às desigualdades sociais que, sob o meu ponto de vista, não têm necessariamente que ver com um maior ou menor sentido ético e cívico. Há muito menino de boa linhagem que se está nas tintas para os assuntos sociais ou - numa escala mais grave e como mero exemplo - há muita gente com boa formação académica e profissional que pratica corrupção, revelando assim gravíssimas falhas de formação ética e cívica. Por outro lado, o que não falta por aí é gente de pouca instrução com o sentido cívico bem apurado... até porque é quem mais sente na pele as dificuldades quem acaba por revelar maior responsabilidade cívica. Os outros fazem jus àquela velha história do "se não me incomoda, não me interessa..."
Sim creio que estamos de acordo sobre o essencial, D. Dulce Alves.
Quanto à corrupçao ! Ah, a corrupção ! Tem muita razão, desde a Grécia antiga, e que dizer dos Romanos ! Todos os regimes políticos a praticam. Infelizmente ninguém a quer combater porque a níveis diversos ela encontra sempre um terreno propicio.
Branca, cinzenta ou vermelha, dos jeitinhos simples da vida de todos os dias, à corrupção descarada na economia e mesmo nos desportos, à corrupção política que permite a certos políticos de obter financiamentos extraordinários, a corrupção é o veneno que assassina todos os esforços daqueles que precisamente querem ensinar a ética e a cidadania. Pela pedagogia e pelo exemplo.
Em certos países ela movimenta mais capitais que os circuitos normais dos negócios.
Verdadeiro poço sem fundo, onde naufragam as democracias.
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