Sendo que não me passa pela cabeça ser candidato a líder do PSD e que tenho alguns reparos a exteriorizar, pergunto-me, baseado no desafio respectivo do dr. Menezes, se estas linhas me valerão a expulsão do partido…
Não obstante, não deixo de voltar a preocupação que de há muito me assola: entendo que os partidos, em Portugal, fazem política para a próxima eleição e de uma forma disruptiva. Já lá vai o tempo de um ideal social, em que às pessoas era explicado o modelo de sociedade que se buscava, com a preocupação de fazer com as diversas propostas “encaixassem” umas nas outras.
Pego no caso do PSD porque é aquele que, no espectro político, vivo com mais emoção e na liderança do dr. Menezes pois nele votei, com a esperança de que refrescasse a liderança com coerência.
Confesso (à atenção da maioria do Conselho de Jurisdição), porém, que está a faltar ousadia aprumada e alegria “no trabalho”. Este não é o dr. Luís Filipe Menezes que sempre conseguiu despertar-me uma nota de simpatia e, na última contenda, de apoio, pese embora acalente a esperança de, qual Lisandro na outra margem do Douro, consiga adaptar-se e começar a proporcionar-nos “jornadas de glória”.
Vamos por capítulos; a meu ver pareceu excessivamente provocatório o facto de passar vários dias a incitar os adversários a avançar para clarificar o partido. Este partido, desde que me lembro, sempre foi assim, conspirativo, irrequieto, excepto quando há “comida na mesa” (leia-se, poder), altura em que as tribos repartem e acalmam (embora não com a eficiência socialista…). Sá Carneiro soube-o... Marcelo pagou-o... Durão suportou-o...
Acresce que me parece que o dr. Menezes fez mais ou menos o mesmo a lideres precedentes e cá chegou a sua vez de liderar, sem que tivesse perdido legitimidade por ter criticado.
Que tivesse desafiado os seus críticos por uma vez já parecia pouco firme (desprezo é sempre o que mais mata), mas várias vezes pode fazer pender entre sobranceria e desnorte.
Depois vem a desastrada ironia (espero que tenha sido essa a ideia, pois, caso contrário, seria apocalíptico) de, para equilibrar as coisas, pedir Ribau Esteves e Manuel Alegre na RTP (um para responder ao partidarismo de António Vitorino e outro para colmatar a alegada imparcialidade de Marcelo Rebelo de Sousa) e, pior ainda, sugerir um comentador partidário do PSD (por causa da distância de Pacheco Pereira) e uma figura do PS crítica da liderança, António José Seguro (anulando Jorge Coelho), na “Quadratura do Circulo” da SIC-Notícias.
Mesmo que tenha resolvido fazer humor (não correu bem…), a coisa tem os seus problemas… Desde logo, mesmo satiricamente, propor-se intervir na comunicação social pública é entrar numa linguagem que censura (e bem) ao PS. Quem não esteja atento (e nem toda a gente vê os noticiários com a atenção de um militante partidário) pode pensar que se deixarem o PSD interferir também, não fará mal que Sócrates e Santos Silva intervenham na comunicação social, como alegadamente têm intervindo. Já no que diz respeito à estação privada a tirada atinge o zénite da inconveniência, já que nem a brincar há lugar a sugerir alinhamentos para uma cadeia televisiva privada. Não estamos em Minsk, nem em Caracas…
Em terceiro lugar, relembro o episódio mais recente: pedir o aumento dos poderes constitucionais do Presidente da República, sem desvirtuar o sistema semi-presidencial.
A mais de ser muito difícil mexer no sui generis equilíbrio de poderes do sistema de governo misto plasmado em 1976, não se livrará o Presidente do PSD de estar a pedir uma alteração da nossa lei fundamental por ter um Chefe de Estado que tem sido contrapeso inteligente ao Governo. Aqui, sob o meu prisma, o erro é duplo: parece confissão de incapacidade e embaraça o inquilino do Palácio de Belém que, não é preciso ser visita de casa para o saber, aprecia recato para pautar o seu papel moderador.
Em suma, registo o que disse no início: nada disto tem um fio condutor e, sobretudo, pouco diz aos eleitores sobre a alternativa que o PSD quer ser. Aliás, voltarei a este registo para falar de assessoria de imprensa...
Resta-me a esperança de serem desacertos pontuais (o dr. Menezes já provou saber fazer muito melhor), com o que, todavia, não se livra de perguntas sobre a forma como se rodeou.
2 comentários:
Também apoiei Menezes e nele votei porque acreditei nele. E acredito. Acredito que possa trazer uma visão diferente e alternativa (e sim, coerente) para Portugal, que passe, nomedamente, por um Estado menos pesado, menos asfixiante e menos omnipresente, mas mais eficiente, transparente e responsável (e responsabilizável). E que, concomitantemente, os cidadãos sejam mais livres, mas também eles mais responsáveis por aquilo que fazem de bem e de mal.
No entanto, também eu estou desapontado. Luís Filipe Menezes fez melhor oposição ao Governo quando era ele próprio oposição no PSD. Perdeu garra, vivacidade e criatividade; desapareceram as propostas concretas, as ideias inovadoras e alternativas. Não marca a agenda e enreda-se na agenda alheia. Enfim, falta o spark.
Aguardo que ele surja. Senão surgir, estamos muito mal.
Como seria de esperar, concordo contigo e com o teu bom senso.
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