terça-feira, 6 de novembro de 2007

0-1

Gostava de dizer-vos que acho que Santana Lopes venceu José Sócrates, no debate do Orçamento de Estado para 2008, mas não consigo...

José Sócrates falou de um país maravilhoso que nem Lewis Carrol conseguiu imaginar com "Alice no País das Maravilhas".
Ora as "Alices" que nos governam dizem que caiu a despesa pública, que se reduziu a dívida pública, que saímos do défice excessivo sem receitas extraordinárias, que cresceram as exportações, etc, etc, etc...
E pergunto eu: por que é que os portugueses não sentem um aumento da sua qualidade de vida? Por que vivem as famílias afogadas em prestações (sem pedagogia política)? Por que aumenta o fosso entre ricos e pobres (Portugal tem números negros na Europa a 27)?

E, já agora, por que não perguntou Santana Lopes sobre isto?
Ou então, à semelhança de Paulo Portas, por que razão não atacou o Orçamento propriamente dito, nas suas medidas?
A minha opinião é que Pedro Santana Lopes caiu na mais previsível das armadilhas, quando respondeu ao truque de ilusionismo vulgar do Primeiro-Ministro, que o responsabilizou pelo passado para, com a sua arte e na resposta áquele, lhe lembrar que os portugueses o julgaram fragorosamente - com tempo ainda para satirizar a culpabilização que Santana faz dos inimigos do PSD, da oposição e do Presidente da República (à data, Jorge Sampaio). Como dizia, errou o ex-lider do PSD ao gastar grande parte do seu tempo a auto-justificar-se...
Sócrates teve ainda tempo, como previra noutro texto, para fazer intriga, explorando alegadas divergências entre Luís Filipe Menezes (questões concretas feitas ontem, via media) e o seu lider parlamentar que, segundo o Premier, não fez as perguntas sugeridas pelo presidente do PSD.
Sendo que, tirando uma ou outra boa medida, o discurso de Sócrates podia ser transformado em queijo suiço, fiquei com um grande melão...

Nota: foto DN

5 comentários:

luis cirilo disse...

Caro Gonçalo:
não partilho inteiramente da tua opinião quanto ao benfica-sporting,quero dizer socrates versus santana,de hoje á tarde.
Penso que santana deixou o assunto resvalar para o passado por uma questão de estratégia,ou seja,sabendo que era inevitável o tema quanto mais depressa melhor.
acho que argumentação,de parte a parte,foi dentro do previsivel até porque ambos já tinham deixado "cair" as principais linhas de argumentação.
Por mim o resultado terá sido 1-1.
mas no desempate ganhava Santana por uma simples razão: teve muitissimo menos tempo para argumentar.
Por outro lado acho que PSL,esgotando o tema passado,pode em futuros debates trazer sócrates para o terreno da realidade.
E essa é cada vezmais negra para o governo.

JAbreu disse...

Caríssimo,
como é possível fazer da baixa de IRC para o interior uma medida extraordinária? Digna de um génio?
O PSL devia ter propalado a propaganda barata e bater-se nas medidas propostas pelo líder do partido, e não fez. Deixou-se cair na tentação da resposta pela resposta, mal.
Mas com umas aprendemos para as outras.
Veja lá se alguma vez viu o primeiro ministro sem se exaltar num debate? Aquilo é que foi
treinar... há que tirar as devidas lições, não podemos ser Naïf.

Anónimo disse...

Caríssimos,
sou mais da opinião do Luis. De facto, com a ascensão de PSL à liderança do grupo parlamentar do PSD, seria, naturalmente, fácil ao engenheiro sócrates o ataque político... e assim se viu: passado, passado, passado!!! Julgo que PSL esteve bem... respondeu à letra e clarificou alguns assuntos relacionados com os governos do PSD e utilizados pelo PS para justificar as suas políticas menos populares desde que é governo. Mal fez Mendes em não combater algumas das muitas barbaridades que disseram de um ex-primeiro-ministro do seu partido.
PSL tinha de justificar ao país algumas coisas... e dentro do possível, fez!!! Agora, o PSD pode e deve falar unicamente do futuro... e nesta matéria PSL atirou "em 2009 as suas (para o eng.) eleições são com LF Menezes" e bem!!!

Com um discurso mais maduro (deixando o passado no passado) julgo que os dias que se seguem serão mais proveitosos. Não falo do resultado final, pois o “jogo” ainda agora começou…

Dulce disse...

A meu ver, pior que PSL “dar-se ao luxo” de cair - qual ingénua criança - na artimanha de Sócrates, é ter um Primeiro Ministro que quando se desloca à ‘sua’ magna casa se limita a tecer considerações sobre o passado e sobre o seu antecessor, ignorando descaradamente a matéria que ali o traz.

Mais grave, quando à altivez do costume lhe ocorre juntar uma pitada de ironia e humor, achando que com isso cairá nas boas graças dos portugueses.

Sócrates daria um óptimo stand up comedian, não haja dúvida.
Ou, pelo menos, terá mais facilidade em arrancar umas gargalhadas aos portugueses que conquistar-lhes o respeito, a credibilidade e outros tantos atributos exigíveis a um homem de Estado.

Gonçalo Capitão disse...

Como sabem, sem a pretensão de ser um "expert" no que quer que seja, sou sempre um pouco crítico, pois acho que para palmadinhas nas costas há milhares de pessoas. Não falo de vós, que estimo e muito, mas da rapaziada que, a seguir a uma intervenção menos conseguida, diz que "foi óptimo!".

Por exemplo, no último congresso do PSD fiz uma intervenção que esteve longe de ser das minhas melhores... Acontece e acontecerá mais vezes. Importa é a crítica construtiva dos amigos e companheiros e eu próprio diagnosticar o que menos apreciei. No caso, não me passara pela cabeça falar, posto o que gizei o esquema mental da intervenção em cima da hora e dormi pouco (retira critividade a quem, como eu, gosta de ter tópicos e, depois, improvisar).

Eu acho que todos os meus amigos, embora sem intenção, são um nadinha responsáveis pelos insucessos de Santana Lopes.

O Governo caiu não apenas pela "conspiração" interna e de Belém. Caíu também porque houve falhas graves e falta de "trabalho de gabinete". Porém, Santana recebe palmadinhas e muitos ainda disseram que o livro "Percepções e realidade" era útil e bom.

Entramos sempre em desculpabilização, quando se fala em Santana e o próprio em auto-justificação.

Pedro Santana Lopes é (muito) humano e também falha. O problema é nem sempre viver bem com isso e escolher rodear-se de algumas pessoas que adoram ver o reflexo da sua cara nos sapatos do primeiro.

Santana Lopes caíu na armadilha de Sócrates e pronto! Os 5 minutos não são desculpa, pois estavam definidos à partida. Até eu que não fui, sou ou serei tão bom político como o nosso lider parlamentar sabia estruturar a intervenção para o tempo limite, guardando uma eventual tolerãncia (Mota Amaral tinha pouca para com o PSD...) para fazer "flores" extra.

Não se perderá tudo, se tiver servido de lição para a próxima. Acredito que sim.