Os supermercados já estão cheios de cadernos e a minha caixa de correio (a real, não a virtual) repleta de folhetos a anunciar as mochilas mais baratas. Este ambiente de regresso às aulas, ligeiramente antecipado fruto do hiperconsumismo, suscitou-me uma breve reflexão que partilho aqui.
O nosso sistema educativo constrói-se sobre a obrigatoriedade de frequentar a escola, aprender os programas definidos ao nível nacional e ser avaliado segundo parâmetros o mais paralelos possível.
Quando uma criança falta à escola durante uns dias sem aviso, a escola tem o dever/ obrigação de procurar entrar em contacto com os pais e quando tal não é exequível, é função da polícia fazer as devidas averiguações. Todos já ouvimos histórias onde a polícia vai a casa buscar as crianças que pelos mais variados motivos não comparecem às aulas.
Contudo existem no nosso país comunidades dedicadas a uma vida mais próxima da mãe natureza, que professam ideais ecológicos e defendem um mundo mais saudável. De tempos a tempos surgem na comunicação social, através da qual ficamos a saber que do estilo de vida mente sana em corpo são em que vivem faz parte uma educação "tradicional" praticada dentro da comunidade.
No nosso país existem crianças que não vão à escola, a escola provavelmente não sabe que elas existem, a assistência social idem idem aspas aspas e a comunicação social quando fala no assunto é no sentido de valorizar este comportamento.
Pergunto-me se estas crianças não têm o direito de aprender o mesmo que as outras, pergunto-me o que é feito da igualdade de oportunidades e denuncio aquilo que julgo ser uma discriminação positiva.
Positiva porque a sociedade vê nestas comunidades uma tentativa de regresso às origens, e isto combina muito bem com uma ideia preconcebida e muito difundida de que antigamente é que era bom e que por consequência as crianças educadas no seio da família são priveligiadas.
Mas isto são mitos porque na realidade ninguém sabe o que é que estas crianças aprendem nem o que sabem. E ninguém na realidade se preocupa em saber.
3 comentários:
Interessante...
Sabes que o que me preocupa é a mediocridade dos conteúdos e o laxismo.
Cá, com medo de traumatizar os meninos, não disciplinamos na conduta e na aprendizagem.
No fundo, achamos que os alunos podem fazer o favor de escutar professores que, por em muitos casos já serem filhos do ambiente intelectual do pós 25 de Abril, já pouco e mau têm para rezar....
O trunfo das debilitadas economias de além Cortina de Ferro tem a ver (também) com a elevadíssima formação dos seus recursos humanos. Na Rússia, por exemplo, o ensino da ciência é profundo e exigente.
Num País pobre como o nosso execelência de profissionais e I&D, bem como Cultura e turismo de qualidade são chaves de sucesso.
custa ver a nossa educação assim neste estado de coisas.
as crianças de agora são criadas e educadas sem prespectiva de futuro,mais como uma ocupação do tempo, e sem apertar ou berrar muito porque se não, coitadinhas ficam traumatizadas para vida...
o desinvestimento cultural e cientifico, estão á vista os resultados- milhares de jovens incultos e sem prespectivas de vida.
Rita,
Ocorre-me a propósito deste teu texto, a brilhante reportagem do jornalista Pedro Coelho, que passou na SIC no passado domingo e que emocionou meio mundo. “Rosa Brava, pastora de sonhos e outras histórias” – um documentário focado em Rosa, 16 anos, que vive num lugarejo perdido algures na Serra da Estrela e que só completou o 1º ciclo. Desde aí, ajuda os pais como pastora e por muito que deseje, vê-se impedida pelos mesmos, de regressar à Escola.
O provincianismo, a pobreza intelectual e o conformismo caracterizam aquela gente do Portugal profundo que não consegue perceber a importância da Escola, nem a necessidade que as crianças têm de observar outros horizontes - que não aqueles que terminam mesmo ali, do outro lado da montanha.
Contudo, a meu ver, pior que esses, são os que tendo acesso facilitado à Educação, a menosprezam.
Curioso que, enquanto uns se aborrecem com os livros e até com os computadores... outros tentam fugir às rédeas da pobreza (sobretudo, mental) e procuram conhecer um outro mundo que lhes não é acessível.
Enquanto uns menosprezam a Escola que frequentam, outros tudo dariam para se sentarem nas mesmíssimas carteiras.
São os contrastes do nosso país. Em pleno séc. XXI....
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