Depois do prolongado encontro (duas horas e quarenta minutos) com Vladimir Putin, Sócrates fez questão de enfatizar que domínios como a democracia e os direitos humanos "devem ser discutidos com abertura e franqueza, mas sem ter a pretensão de dar lições aos outros: nem a Rússia à Europa, nem a Europa à Rússia". Putin, então, não podia ter sido mais claro: "Há prisões e torturas em vários países Europeus, há problemas com os meios de comunicação social, e países que têm leis de imigração contrárias ao direito internacional".
Depois disto, resta congratular-me com o facto de Sócrates só ter levado 2h40 para perceber o que custa a entrar na cabeça de muitos governantes europeus e que nunca sequer iluminou as mentes americanas...
A meu ver há, por isso, que sistematizar algumas observações:
- A Rússia vai ressurgir como potência mundial. As suas reservas energéticas (que Putin usa com mestria, no plateau internacional) e o elevado grau de qualificação dos recursos humanos russos (um exemplo interessante a par do que se passa na Índia) garantem, assim o Estado continue a pôr os oligarcas da era Ieltsin en su sitio, que a "Mãe Russia" vai voltar.
- Na sua história, o País jamais foi democrático, excepto no pós 1991, se de democracia se pode falar no país dos czares e dos soviéticos (embrenhar-nos-iamos numa enormérrima discussão sob a forma do regime, desde logo com a polémica entre constitucionalistas e sociólogos sobre os requisitos da democracia).
- A Rússia é o mais extenso Estado do mundo, tem dezenas de etnias e outros tantos conflitos potenciais, dentro das suas fronteiras (a Tchechénia é apenas o mais visível).
- Se Moscovo for forte, temos contra-peso a Pequim e Nova Dehli, economicamente falando, e moderação na Ásia Central e no Cáucaso, de um ponto de vista do radicalismo islâmico (tem piada que a ONU ande entretida a propor a independência do Kosovo, mostrando que não aprendeu nada com a insana "cóboiada" que os americanos armaram no Afeganistão, com o pretexto de ganharem mais uma das bandeiras em disputa na Guerra Fria).
- O melhor que pode esperar-se a Leste é ler-se que "diz que é uma espécie de democracia", sugerindo-se o aplauso ocidental, como bem entendeu o nosso Premier.
- Embora eu seja "pró-ocidental" (seja lá o que isso for) e adepto do modo anglo-saxónico, quando se bate o pé no Kremlin, evita-se que a euforia de Washington resvale para a histeria.
Em suma, creio que José Sócrates já viu o filme. O trabalho vai ser explicá-lo aos "Mários Linos" deste Governo...
P.S. (salvo-seja): oferece-se um fim-de-semana no Gulag a quem souber a posição do PSD sobre o assunto(a invenção a partir do nada deve ser punida).
2 comentários:
Custa-me a entender o "modelo" Putin. Do político ao económico, sem excepção. Talvez inspirada por ares ocidentais entenda-os como a língua, é russo! O que será um género de: é chinês :s
De qualquer forma penso que Putin colocou a Russia num patamar de respeito frente a uma Europa céptica e a uns Estados Unidos cheios de si (para variar), mas não sei até que ponto isso será bom!?
Quanto a Sócrates só posso pensar que para ele se dar tanto na Rússia é porque vê uma relação promissora (senão não se daria ao trabalho) e, esperto, o Sr. "Engenheiro", é.
Concluindo, não dá para concluir nada do que escrevo aqui mas deve ser instado por este sentimento que tenho. Será o cepticismo europeu que me motiva? Talvez!
Posição do PSD: somos fieís aos nossos aliados! Onde os EUA e a Inglaterra estiver, nós estaremos ainda mais depressa...
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