domingo, 8 de abril de 2007

Descubra as diferenças


O PNR resolveu surgir em cena e colocou em pleno centro de Lisboa um outdoor a criticar a actual política de Imigração do país. As "deixas" são claras: "Basta de imigração" e "Façam boa viagem", a roçar o tom xenófobo... reconheça-se.
Um dia depois, quatro jovens que estão mais habituados a estas luzes da ribalta que os senhores nacionalistas, satirizam o citado outdoor pedindo "Mais imigração" e desejando as "boas-vindas" aos estrangeiros.
Tendo o Marquês de Pombal como palco, esta novela muito tem dado que falar. E ainda agora começou...
Primeiro foi o choque do conteúdo do cartaz para uns, depois a ilegalidade da resposta dos "gatos". Agora, as ameaças que estes últimos tem sofrido acicatam a questão que já tomou contornos desagradáveis.
A liberdade de expressão (e portanto, a diversidade de opiniões) parece-me que pode justificar esta missiva do PNR, alertando para uma política de Imigração que poderá não ser a mais adequada para o país. Com efeito, concorde-se ou não com o conteúdo do outdoor (a meu ver, um pouco insensato...) a verdade é que um partido tem o direito de expressar-se sobre um determinado tema. Mesmo que a sua opinião desagrade alguns. E mesmo que usem expressões disparatadas como a do "façam boa viagem"...
Mas esta mesma liberdade de expressão deve servir igualmente para os quatro humoristas. De uma forma genial e acutilante, como já nos habituaram, os "gatos" têm exactamente o mesmo direito de usar a sua sátira como arma política. Eles não fazem política, mas sabem que podem desencadear um sem número de reacções políticas quando fazem (bom) humor.
A ver vamos é por quanto tempo mais, uma vez que sempre que resolvem pôr o dedo na ferida, aparece alguém a querer pôr à prova as suas sete vidas...

6 comentários:

Gonçalo Capitão disse...

A meu ver a resposta dos "Gatos" foi o que de mais inteligente se poderia ter feito.

Conheço os regulamentos, mas lamento a estupidez da Câmara de Lisboa que, se calhar, demora séculos a agir em situações urgentes (por exemplo, o meu bairro aguarda pela resolução de um impasse administrativo para se fazer estacionamento, há anos) e foi célere a remover um dos grandes momentos políticos do século... Lamento dizer - até porque sou amigo do vereador - mas se a limitação matasse...

Quanto à liberdade de expressão, creio que o PNR não passou do limite e quem bateu no peito só lhes fez o jeito...

Luis Cirilo disse...

Cara Dulce
Estou de acordo,de uma forma geral,com o seu post.
E também acho que o PNR tem direito a existir,a ter posições divergentes de todos os outros partidos nalgumas matérias e ser,de alguma forma,o contraponto á direita daquilo que o Bloco de Esquerda (Gonçalo,se o nosso "amigo" Louçã lesse isto ficava doido...)é,ou foi,á esquerda.
Realmente as posições fracturantes não são exclusivo de uma esquerda caviar que goza das boas graças de grande parte da imprensa.
E o que penso do PNR é igual ao que penso do B.E.: Tem o direito a serem respeitados por mais que discordemos das posições deles.

Inês Tavares disse...

Se não concordo com xenofobias, não posso concordar com estes cartazes, mas analisemos um e outro.

O do PNR diz boa viagem aos clandestinos, ilegais. Como não concordo com o desrespeito pela lei, tenho de concordar com o cartaz. A culpa da situação é do sr. Guterres que abriu a porta, sem controle e dos palhaços -lembram-se da Mº de Jesua Barroso aos guinchos no aeroporto, para entrarem ilegais?

Claro que alguns -demasiados- estrangeiros dedicaram-se ao crime, que era a sua profissão no país de origem -resultado muitos portugueses já associam criminoso a imigrante, o que é indecente para os que trabalham honestamente e que eu conheço no dia a dia.

Como diz o texto do post «alertando para uma política de imigração, que poderá não sr a mais adequada para o país» é benéfico. Não é depois d termos uma 'guerra de extermínio' de estrangeiros que vamos reagir. Lembrem-se da história!

Quanto à ilegalidade da colocação do cartaz dos 'fedorentos' tenho a mesma posição de sempre. E não admito a 4 rapazolas que digam que nós os 9 milhões de portugueses não prestamos. NÃO ADMITO O RACISMO DESTES TIPOS! Não gostam do país que os meus antepassados criaram -imigrem e -boa viagem. Eu pago o bilhete, mas só de ida.

Quanto ao PNR e aos Gatos Fedorentos exprimirem a sua opinião, dentro da lei e sem insultos, nem racismos, concordo totalmente.

As ameaças são verdadeiras? Todos sabemos que em certos círculos políticos todos os meios, justificam o fim. Se as houve discordo, mas em Portugal a vitimização funciona. Afinal todos conhecemos histórias dessas -e falsas.

Sara Gonçalves Brito disse...

Dulce,
Eu também já tratei deste tema e, "aqui entre nós", não vejo de forma positiva a exposição, tanto de um, como do outro outdoor, embora, confesso, reconheça a lberdade de expressão a ambos.
Acho francamente negativa a dimensão que, ultimamente, a exaltação de pensamentos xenófobos e extremistas têm tido junto de nós (não fosse a arrogância da esquerda desmedida, penso que não chegaríamos a este "pé"). Quanto aos "gatos", penso que descredibilizar ainda mais o político com sátira não nos faz bem e mais, os próprios se tornaram no que dizem criticar mais, políticos. Por isso, também, não se tornam diferentes só porque são comediantes, penso!
Como tudo, já sabem, é somente uma opinião ;) ****

Gonçalo Capitão disse...

Atendendo ao bom debate que aqui se gerou, continuo na minha, pois, se calhar pela minha maneira de ser, acho que a criação artística não deve ter "doutrina", sendo a sua fruição uma questão de gosto.

Já pode é, extra-cartaz, pensar-se se deve ser o Orçamento de Estado, via RTP, a pagar aos "Gatos". Eu não vejo mal, mas percebo que haja quem pense de maneira diversa.

cparis disse...

Não posso discordar mais do Gonçalo Capitão. A resposta dos Gatos Fedorentos, quanto a mim, não foi inteligente.

E digo isso, porque os Gatos, tvz por influência do RAP têm a tendência de não fazer humor com a política, mas sim fazer política com o humor. E fazem não uma política positiva (de alternativas, de constatação de injustiças),mas, como neste caso, uma política de confrontação e de humilhação do adversário. Reparem que eles não criticaram as ideias, mas os mensageiros (PNR, MRS).

E isso acho uma burrice por parte de humoristas que cavalgarão a onda por um tempo, mas que desaparecerão quando se notar o abuso.

Por exemplo, os Gatos nunca ridicularizaram Louçã, ou qualquer atitude apoiada pelo Bloco de Esquerda. Estou em crer que se estiverem no ar na altura de qualquer campanha política será por demais evidente as críticas que farão ao PS (tal como fizeram quando interviram a favor do aborto com a sátira Marcelo Rebelo de Sousa).

E nunca serão justos porque nunca criticarão Louçã ou atitudes do BE. E ao pessoalizarem as questões irão criar anti-corpos. As ameaças que agora responderam são o reflexo de quem se sente ofendido e não pode, não consegue responder de igual para igual.

Mas nem sempre será assim. Ou seja, irá existir um tempo em que nem PS nem PSD os quererão no ar, porque sabem que serão ridicularizados e satirizados (as pessoas e não as dieias).

E nessa altura, perder-se-ão os humoristas mais sagazes que nós temos.

P.S. Curiosamente, neste caso, os únicos delinquentes foram os Gatos que colocaram um outdoor ilegal. Mas claro, estamos em Portugal. As leis só servem para o povo.