Sendo consensual a mais valia intelectual e política de Paulo Portas, não me parece, por muito amor que tenha à causa, que o actual estado do CDS por si só justifique o seu regresso, ainda para mais com o “positivo” passado recente.
A verdade é que Paulo Portas vê aqui uma oportunidade única de crescimento significativo do seu partido e que não há ninguém melhor do que ele para estar na linha da frente.
Muitos analistas falaram da viragem do governo socialista para o centro direita e entrada deste no eleitorado social-democrata, criando aqui um nicho de mercado a aproveitar pelo CDS que, em contraponto com uma “eventual” descida do PSD, se tornaria no único partido de direita a subir nas intenções de voto e eventualmente, com aspirações de se tornar no principal partido de oposição.
Não me parece que a visão seja assim tão linear, no entanto, importa ao PSD reflectir sobre o intento estratégico de Portas, a que infelizmente não me parece alheio.
E por aqui me fico…
2 comentários:
Antes de mais, saúdo o teu regresso ao "lodo"! Faz sempre falta ver na tribuna o sócio nº2 em antiguidade.
Depois, deixa-me dizer-te que, finalmente, Marques Mendes não entrou a destempo à bola: não atribuir relevo ao facto foi, do ponto de vista do premier laranja, a melhor atitude.
Porém, entrando no tema, creio que o regresso de Portas é imperioso num partido pequeno como o CDS.
Recordo que, em 1991, Marcelo Rebelo de Sousa definiu o CDS com uma simplicidade genial: é um partido pequeno porque não tem votos e não tem votos porque é um partido pequeno.
Portas parece dar a capacidade de percorrer a "extra mile"; é carismático, inteligente, moderno na expressão, conservador na autoridade e já percebeu o filme mediático, há anos.
Fecha-se a tenaz, Ricardo. O Engenheiro aperta no lado social (veja-se o Estado na Educação, na Segurança Social, na RTP2, etc...) e pelo lado liberal (Simplex, internacionalização, parcerias em grandes obras públicas, emagrecimento da Administração Pública) e Portas promete mais do mesmo: liderança carismática e autoritária, quando preciso, liberalismo na Economia e conservadorismo de Estado em algumas vertentes assistencialistas.
No meio, uma liderança do PSD que, por muito séria que possa ser, não está compaginada com o tempo mediático. Creio que entre a euforia quase histérica do período santanista (mea culpa, com certeza) e o cinzentismo oficial de hoje, há que procurar um meio termo que nos liberte do espartilho.
No último congresso disse (quando muito dos nomes consagrados se calaram ou fizeram discursos a meio-campo) que os partidos não são eternos e o PSD muito menos, já que tem uma matriz nacional muito própria, não tendo nascido como prole natural de uma das grandes famílias ideológicas internacionais.
Contudo, não entendo que devamos dramatizar em excesso a volta à tona do brilhante Paulo Portas. O facto que o reclama será o facto que o matará, já que os fenómenos políticos excessivamente personalizados (e, logo, debilmente institucionalizados) perecem com a capacidade de auto-renovação do "chefe da banda" (como diria Ribeiro e Castro); veja-se o Bloco de Esquerda, em relação ao qual as pessoas começam a vomitar Louçã pelos ouvidos(aleluia!!!).
Diferente seria o futuro se o dr. Santana decidisse criar com Portas um novo partido. Porém, não acredito nisso, nos próximos tempos.
Excepcional exercício de análise Gonçalo. Deu gosto ler. Congrats!
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