Surfando na Net, deparei com a seguinte notícia: "El presidente de Venezuela, Hugo Chávez, envió varios regalos, entre ellos, las obras completas del libertador Simón Bolívar, al líder cubano, Fidel Castro, con motivo del 48 aniversario de la revolución"
O caso começa a ser sério e vamos ver como acaba a experiência venezuelana (o "quando", temo-o bem, é no dia em que acabarem as jazidas de petróleo ou quando a sua importãncia diminuir).
De facto, a revolução bolivariana, a mais de começar a influenciar outros países da América Latina, promete algo que não deixa de ser imperioso (embora me confesse céptico, para já e quiçá por ignorãncia minha, em relação à via proposta por Hugo Chavez): há que analisar os pontos em que o mercado livre se tem revelado insuficiente para prover as necessidades dos cidadãos. Falo da necessidade de criar uma rede mínima de dignidade social (não só do ponto de vista material, mas também de direitos e deveres a consagrar), abaixo da qual ninguém deve cair. Para o resto, aí sim, o mérito que faça a diferença (havendo, neste caso, que eliminar constrangimentos ao seu fucionamento, mormente em sociedades laxistas e com benevolência para com a corrupção, como a nossa).
E aí, uma segunda nota de interrogação: não será contraproducente suprir o desemprego por programas de base estatal (penso, no caso, no facto de muitas pessoas encontrarem trabalho nas cooperativas patrocinadas pelo Estado)?
Por outro lado, dar tudo a quem nada tem (a Venezuela tem uma forte política assistencial, ao que ouço dizer) não favorecerá o situacionismo? Quando muito, parece-me que o fenómeno do micro-crédito celebrizado por Mohamed Yunus é o mais longe que deve ir-se, pois não esquece a responsabilização da pessoa ajudada.
Outro dos pormenores a observar, a meu ver, é que Chavez está a usar a parafernália mediática para seguir o seu caminho, num golpe de mestre. Peronismo mediático? Chavismo puro? A ver vamos...
No entanto, uma pergunta me assola o espírito: será que a "revolução bolivariana" teria tantos seguidores, nos países vizinhos, se a Venezuela não pudesse gerir imensos recursos naturais? Por outras palavras, afinal o socialismo de Estado não acaba por usar a mesma arma do diabo capitalista? Vladimir Putin, esse sim, já viu o filme todo...
12 comentários:
Caro Gonçalo: Na minha modesta opinião, os ingredientes da "Caldeirada Chavista" são: petróleo (muito e caro) que permite ao aprendiz de cozinheiro acrescentar os restantes - programas sociais emblemáticos q.b. que sustentem a áurea e prestígio do autor; pacotes de populismo e demagogia baratos servidos a granel; um sortido (um pouco déjà vu) de fantasmas para assustar os clientes mais renitentes (EUA, Capitalismo, Globalização, George W. Bush, Tony Blair, etc); abundante cobertura de solidariedade pan-bolivarista que, sustentado no ingrediente primário, permite fermentar as relações com camaradas cozinheiros mais necessitados ou menos lúcidos, em Cuba, na Bolívia, no Peru, no Equador, na Argentina...
Penso, contudo, que a sustentabilidade do cozinhado não é famosa, e quando o molho de hidrocarbonetos começar a escassear, ou o seu valor a diminuir, o bolo tenderá a colapsar e o resultado deverá ser uma massa inconsistente, melada e imprestável, que vai deixar os Venezuelanos mais vulneráveis (a maioria) na, como direi, na gelatina fora de prazo e o cozinheiro a banhos em Varadero, ou a ser transformado em queijo suíço pelos ex-camaradas de caserna.
P.S. A prioridade dos petro-produtores deveria ser a de preparem a economia e os cidadãos dos respectivos países para a era pós-petróleo que chegará inelutavelmente. Quem não o fizer, está a semear a miséria futura sobre a prosperidade comjuntural.
O teu "P.S." (salvo-seja) vai direitinho ao alvo, meu Amigo.
Senhor Gonçalo
Permita que comente o seu "post" começando pelas palavras do grande conservador inglês Winston Churchil, palavras que o Senhor conhece bem :- " A Democracia é o pior dos regimes , exceptuando todos os outros".
Considerado portanto como o melhor dos sistemas políticos, ele não é visto assim por todos. Porquê ? Talvez porque nenhum regime corresponde completamente ao ideal democrático, que exige uma honestidade absoluta dos poderosos para com os fracos, uma condenação radical de todos os abusos do poder, exige eleições livres, imprensa livre, oposição livre, sistema judiciário independente e alternativa política.
Apesar de considerarmos que vivemos em democracia há já muitos anos , a França e o Reino Unido nem sempre respeitaram os direitos dos povos que colonizaram.
No pós-guerra, dois dogmas vieram completar as regras essênciais da democracia : a economia de mercado e a democracia representativa.
Em nome destes dogmas, fazem-se guerras e invade-se países para ai os instaurar.
Em nome destes dogmas tortura-se.
Em nome destes dogmas divide-se o mundo em "estados não democráticos" ou ainda "estados vadios " ou fazendo parte dum "eixo do mal" ou "satânicos".
Uma só condição para escapar a esta classificação mortal : organizar eleições livres!
Mesmo assim, tudo depende dos resultados.
Como o demonstram as eleições recentes na Bolívia, na Palestina, no Irão e na Venezuela .
Condoleeza Rice reclama ao Congresso 75 milhões de dollars para financiar no Irão a " promoção da democracia! ".
Na Palestina os resultados não convêm e então bloqueiam-se os fundos que pertencem à Palestina, criando assim o caos!
Na Venezuela , apesar de eleições controladas por observadores internacionais, ( O.E.A -Organizaçao dos Estados Americanos - e o Centro Carter, o resultado não agradou e as pressões de todo o género, e mesmo um golpe de estado militar, foram desencadeados contra aquele que foi eleito "democraticamente"!
Nesta ordem de ideias criou-se uma linha de separação : Os bons estados democráticos e...os outros. Na América Latina, o Chile socialista é "razoável", no Costa Rica Arias é "razoável", no Uruguai Vàsquez é "razoável", no Brasil Lula da Silva é quase "razoável" !
Ao contrário, no Nicarágua , Ortega não sei se durará muito tempo, no Equador, se o contrato de exploração do petróleo da América Ocidental Petroleum for anulado e os activos confiscados, pode correr mal! Na Bolívia, Morales é a peste !
Conclusão : O que irrita muita gente é que não se possa determinar o resultado antes das eleições. Porque alguns gostariam de estabelecer democracias
" de encomenda" . Resultado garantido.
O caso Chavez é extraordinário. Os partidos da direita, A.D. e COPEI, o primeiro (Acção Democrática) e o segundo (Social-Cristão) praticaram a alternância desde 1953 ( Jimenez), até 1999 ( Chavez ). Alias não foi Chavez que nacionalizou o petróleo mas sim o Social Cristão Rodriguez .
Durante dezenas de anos este pais viveu dezenas de golpes de estado, perpetrados pelos dois partidos que alternavam no poder, mais as forças armadas.
O resultado ? Pode-se ver uma amostra ao aterrar em Caracas (como no Rio de Janeiro ao chegar a Santos Dumond ) nos milhares de favelas, autênticas cidades, ninhos de delinquência de todo o género, (a Venezuela é considerada como o terceiro pais mais perigoso da América Latina!).
Mais de 70% dos Venezuelianos vivem na miséria.
O desemprego atinge 20%.
Sem duvida, o facto que Chavez tenha favorecido a classe desfavorecida com certas medidas justas, tais como a assistência médica, o ensino, o direito a uma casa para viver decentemente (ainda há muito para fazer!) e uma forma de reforma agrária limitada, trouxe-lhe os 60% de votos com que ganhou as várias eleições. A clientela existia!
A inflação desceu para menos de 20%.
Mais de 20% do orçamento foi dedicado à instrução.
A Venezuela reembolsou em 2006 , 5 biliões de dollars ao FMI , com o qual tinha uma divida de 24 biliões de dollars.
Em previsão do futuro, Chavez comprou 1, 6 bilião de dollars de "papel" do tesouro argentino. A Venezuela começa a ser credor na América Latina.
Tudo isto graças ao petróleo, sem duvida.
Mas a minha questão é sempre a mesma :- Entre o que o petróleo permitiu hoje e o pouco ou nada que se fez no passado,( 50 anos ! ) porque é que os partidos que estiveram no poder até 1999 não fizeram eles mesmos estas reformas ? Porque no fundo são eles que elegeram Chavez !
Quando uma autarquia ou um governo se apoia sobre a maioria social local e defende ou pretende defender os seus interesses, a vitoria está perto. Mas só se manterá se respeitar os compromissos.
Quanto ao futuro, sem petróleo, ninguém pode imaginar o que vai ser o mundo daqui por meio século. Os únicos que não terão problemas de futuro são os Emires que investiram no mundo inteiro e que não têm nenhuma classe social para proteger, excepto a deles. Os trabalhadores do Paquistão, da Palestina, da Índia, da Síria , do Sri-Lanka, do Bangladesh que ai trabalham regressarão a casa. E os oásis serão imensos Clubes Méditerrannée para férias.
Senhor Freitas Pereira
Espantou-me como não repescou também o clássico exemplo da Argélia...
Quanto à Palestina, não me diga que defende que se dê dinheiro a um governo liderado por uma "seita" de terroristas?!
É que se tem razão quando diz que os países ocidentais são arbitrários quanto aos resultados eleitorais, há vários contra-argumentos a ponderar: ab initio, há que saber se considera a sua civilização, embora não exclusiva, a melhor de um ponto de vista ético. É que, sendo assim, não pode aceitar qualquer minus em relação, por exemplo, aos direitos humanos.
Dir-me-á: então e a complacência com os governos da Arábia Saudita e do Uzbequistão?! Pois... Aí entra algo que nunca me furtei a reconhecer (a hipocrisia do sistema de relações internacionais), mas que, a meu ver, não invalida o raciocínio anterior.
Em segundo lugar, há que dizer o seguinte: a sua observação - no sentido de que deviam aceitar-se os resultados das eleições, mesmo que menos simpáticos - a mais do problema axiológico, que abordei supra, padece do mal que assiste, na minha modestíssima opinião, a quem opta apenas pela análise jurídico-constitucional dos requisitos da democracia.
De facto, sendo segura e necessária, creio que deve ser complementada por uma visão sociológica dos pilares do regime de que falamos (a democracia). Há abordagens na ciência política moderna que propõem a adopção de escalas de medida (por exemplo, da realização de eleições justas, livres e frequentes, do acesso a fontes alternativas de informação, do controlo da agenda política pelos cidadãos, entre outras) para se ir "apalpando o pulso" às auto-denominadas democracias.
Ou muito me engano, ou muitos dos regimes em que pensamos chumbariam no teste, mesmo com as eleições que mencionou (ao invés, as democracias ocidentais têm elevados padrões, como calcula).
Quanto à Venezuela, confesso que estou curioso, ainda não tendo decidido o que pensar.
Acrescento apenas mais um dado: uma edição do Finantial Times, do verão passado, mencionava que a Venezuela ultrapassara já a Colômbia na taxa de homicídios por habitante (só não o fez em termos absolutos porque tem menos vinte milhões de habitantes, mais coisa, menos coisa).
Sr. Freitas Pereira: Nas eleições, toda a gente (governos estrangeiros incluídos) prefere uns resultados a outros. É normal. Às vezes ficamos mais contentes, outras vezes menos. É a tal questão do gosto (ou do interesse).
O Gonçalo fez uma excelente distinção entre o que é a democracia real e a democracia formal, por isso eu gostava de focar um só ponto do seu comentário: "No pós-guerra, dois dogmas vieram completar as regras essenciais da democracia : a economia de mercado e a democracia representativa." Mas, concebe Democracia sem democracia representativa e economia de mercado? Eu não. E isto não é invenção do pós-Guerra, é algo de genético na Democracia.
Senhor Rui Miguel Ribeiro (desculpe o erro sobre o seu nome , por favor ) e Senhor Gonçalo
Sim, a Democracia nem sempre vai de par com a economia de mercado. Mesmo se a maioria dos países desenvolvidos adoptaram a economia de mercado, isso não quer dizer que a democracia exista da maneira como a descrevi e que compreendo.
A China adoptou a economia de mercado e não satisfaz nenhum dos requisitos indicados.
A economia de mercado para a China consiste na produção ao mais baixo preço, sacrificando todos os direitos de milhões de indivíduos .
A Indonésia também a adoptou mas não deixa de ser um regime integrista onde as liberdades são ultrajadas.
A Arabia Saudita também. Quanto à democracia....
Portanto quando o Senhor Miguel Ribeiro escreve que Democracia e Economia de mercado nao se podem conceber uma sem a outra, eu duvido.
Quanto à democracia representativa apresentei-a como um dogma do pos-guerra porque ela nao existia em muitos paises europeus em 1945. Como no nosso pais, por exemplo.
E hoje, nos nossos países ocidentais incluindo os EUA é o pragmatismo económico , para o grande beneficio de alguns, que prima sem fazer caso dos estragos colaterais. Não posso considerar como democrático o facto de aceitar o que se vê hoje nos nossos países, onde milhões de indivíduos são abandonados na berma da estrada. A economia de mercado é em muitos países sinónimo de exclusão.
Como diz o Senhor Gonçalo, se fizermos um estudo cuidadoso dos requisitos da democracia em muitos paises, haveriam poucos eleitos...
Mesmo se li Ricardo, sempre pensei que Keynes assegurou trinta anos de crescimento , sem os excessos de hoje.
A economia de mercado integral também não existe, porque os monopólios vivem tempos dourados, e são por vezes mais nocivos que os monopólios de Estado, que não aceito, porque ineficazes.
A posição intermediária parece-me mais apropriada, i.e. uma economia de mercado parcialmente regulada afim de evitar os excessos e impedir a desgraça de muitos. E como sabem, hoje, os governos não têm o poder de decisão; este passou para a mao das multinacionais.
Sem abordar o problema do crescimento selvagem, que não é o tema, direi mesmo assim que o desenvolvimento actual da economia mundial não corresponde à obrigação de salvaguarda da perenidade da nossa civilização.
E para comentar a questão do Senhor Gonçalo sobre o problema da assistência social , eu direi que estaria de acordo com o lema da " Economic Freedom is more Sucessful than Economic Aid " se não existissem forças enormes que não deixam o mínimo de possibilidades de acçao aqueles que estão fora do sistema já ao nascer.
Senhor Gonçalo
Há dois pontos do seu interessante "post" que eu não aprofundei e que merecem um comentário.
Trata-se da validação do processo democrático em tal ou tal pais, através duma escala de medida ou outro sistema , permitindo a verificação do respeito das liberdades fundamentais, pelo menos, a um dado momento da vida das nações.
Eu creio sinceramente que a democracia , tomando caminhos diferentes para se implantar num pais, seria dificilmente avaliada pelos países que se arrogam o direito de julgar a partir de padrões que lhe são próprios, mas que não correspondem forçosamente à cultura e à civilização doutros países.
Os pilares, como diz, são forçosamente diferentes e não têm o mesmo peso em cada pais.
E depois há também a historia da implantação da democracia, mais ou menos violenta, que impõe um lapso de tempo mais ou menos importante para que os povos respectivos retirem todos os beneficias do sistema...permitindo assim a avaliação do estado da democracia.
Por exemplo, o caminho da democracia em Portugal foi a revolução. Em Espanha foi a influência da Europa.
Nos EUA foi a reunião de aspirações comuns e de crenças comuns que levaram à convicção que a democracia era o melhor dos sistemas . Mas se tivéssemos "tomado o pulso" deste pais em certos momentos da sua historia não creio que lhe teríamos dado o "labéu" de democrático. Isto é valido para o passado como para o presente.
Por exemplo, uma lei votada no Massachusetts no século XVIII pronunciava a expulsão dos padres católicos à prisão perpétua e mesmo à morte se eles voltassem !. Os quakers foram igualmente perseguidos. Que caminho percorrido até à tolerância religiosa de hoje !
Mesmo se, mesmo se, hoje , os tele-evangelistas exercem uma influência política que eu considero nociva para a democracia. Alias, cada vez que a religião e a política se deram a mão, onde quer que seja, a democracia regrediu, excepto nalguns casos felizes nas ditaduras comunistas.
Alguns dos actos da Administração Americana nestes últimos meses , no interior como no exterior dos Estados Unidos , são contrários aos princípios da democracia, como por exemplo a lei proposta por G.Bush o mês passado autorizando a leitura do correio privado de cada Americano. Depois da escuta automática das conversações telefónicas, e outras medidas do Patriot Act n° 2, a democracia Americana evoluiu no mau sentido, mesmo se é possivel justificar algo.
Como será possível para este grande pais definir as regras da democracia para os outros agindo de tal maneira ?
Por conseguinte, a democracia formal, mesmo respondendo à análise jurídico-constitucional, não constitui, a meu ver, uma garantia suficiente da boa aplicação da democracia.
Senhor Freitas Pereira,
Pois então estamos de acordo num ponto: não chega a avaliação jurídico-formal de um regime.
Quanto ao mais, verá, pegando no exemplo do convívio de democracia com religiões, que tudo depende do grau de distorção introduzido pelos "artistas", pois, de génese, só a religião hindu, dado o sistema de castas, é incompatível com as bases filosóficas da democracia (só poderão coexistir se a política se impuser, sendo o Estado laico, como na Índia).
Depois, não posso discordar mais sobre aquilo que fica implícito quando fala dos EUA: não tenha dúvidas de que fala da "land of the free". Os excessos existem, mas a prova da liberdade é que toda a gente sabe tudo sobre o Estado, mesmo quando os fenómenos ameaçadores pedem formas de combate novas. Repare que muitos dos erros de que fala derivam da necessidade de adaptar o pesado "elefante" Estado democrático para combater com a hábil e ligeira "cobra" terrorismo; simplesmente não pode tratar-se esses bandalhos como se fossem assaltantes de lojas.
Dir-me-á: mas e o que fica da superioridade ética da democracia? Creio que muito, apesar de tudo. Os autores (americanos) dos abusos mais graves foram ou estão a ser julgados nos EUA.
Por fim, um apontamento sobre a forma inteligente como abordou a questão democracia-mercado. É que esqueceu-se (creio que deliberadamente) de fazer a pergunta ao contrário, mas deixe que eu faço, sob a forma de pedido: um exemplo de uma democracia, tal qual a entendemos no Ocidente, que não tivesse economia de mercado (mais ou menos livre)?
Caro Senhor Gonçalo
Respondo ao seu pedido: Claro que o Senhor compreendeu perfeitamente o meu ponto de vista: - democracia e mercado ( eu diria "desenvolvimento") são as duas faces da mesma moeda. Em principio não há um sem o outro. Só que considero que sem soberania popular não há democracia, que sem redistribuição não há democracia, porque esta mais o investimento devem andar de par, para que a democracia seja plena e inteira.
Se no pós-guerra a maioria dos países adoptaram o "mercado", uns pela via democrática, outros pelo golpe de Estado militar (Argentina e Chile), e outros ( a China) numa porção do território nacional, mas sob regime comunista, e outros (Singapura) sob um regime autoritário, nem sempre a democracia foi a alavanca dessa transição para o mercado, mas antes a acção de oligarquias político/económicas, que a impuseram.
A democracia é bem uma condição necessária do desenvolvimento económico e não pode ser reduzida aos aspectos políticos da liberalização da economia.
Sem duvida, a melhor definição da democracia é bem a separação do Estado, da sociedade política e da sociedade civil. O mercado não pode desenvolver-se sem o respeito desta condição. Mas o que eu combato precisamente, é o facto que a sociedade política e a sociedade civil utilizam em certos países o Estado, para servir interesses particulares . Quando isso acontece, a democracia cessa de existir na sua "plenitude", porque a soberania popular perde as suas prerrogativas e sofre materialmente desta confusão dos poderes económico e político. São os excessos actuais da democracia liberal, que privilegia a economia , esquecendo a redistribuiçao dos benefícios acumulados. Esta situação pode criar movimentos sociais perigosos para a democracia, sobretudo quando as massas que nao retiraram os beneficios da democracia, sao levados a recusar o Estado arrogante, ao mesmo tempo que se encontram face a face com o mercado. As crises economicas sao plenas de ensinamentos .
O Senhor Gonçalo que me parece interessado pela evolução da Rússia no contexto actual, pode recordar-se que em 1917 foi a crisa económica que criou a revolução, que permitiu aos Sovietes de confiscar o poder, que nunca mais retrocederam ao povo.
Em 1929, foi a grande crise que levou Hitler ao poder, com a consequência terrível que o partido nacional socialista não hesitou em tornar os Judeus em bodes expiatórios.
Mesmo nas democracias fortes como os EUA e o Reino Unido, o esquecimento passageiro de certas regras sociais, podem levar à queda dos lideres. Não lhe posso esconder que fiquei perturbado quando constatei a deriva autoritária de M. Thatcher, aureolada portanto de três vitorias consecutivas , mas que a historia da " poll-tax " derrubou. Ela tinha ultrapassado a linha ! Ela tinha esquecido algumas regras essenciais da democracia, o compromisso, por exemplo!
A mesma coisa de Donald Reagan, que perdeu muito da sua imagem nos dois últimos anos do seu mandato. Por razoes idênticas e não só o Irão Gate .
Em conclusão : Escrevi num comentário precedente que sou favorável a um sistema que permita de corrigir os excessos do liberalismo. Creio , que sem ser necessário voltar a Keynes, uma adaptação da economia de mercado e da democracia seria possível, como elas permitiram a adaptação a civilizações estrangeiras aos seus princípios de base.
Senhor Gonçalo
O seu parágrafo discordando da minha posição sobre os EUA, mereceram umas pequenas notas, tomadas a 2880 metros de altitude, na mesa do restaurante frente às montanhas cheias de neve e de sol, depois de ter perdido duas descidas com a minha Esposa que é realmente melhor do que eu!
Tenho receio que a sua reacção às análises criticas que faço a certos aspectos da política americana o levem a pensar que detesto este pais e faço anti-americanismo cego e sistemático.
Sejamos claros:- O Povo Americano merece toda a minha admiração e considero-o como um dos mais corajosos do mundo, trabalhadores e patriotas por excelência. Penso conhece-lo bem, nas suas qualidades e nos seus defeitos, estes sendo por vezes a consequência do poder imenso que detêm e a juventude da Nação.
A minha critica visa somente a utilização que os políticos americanos fazem do poder económico, político e militar, sobretudo quando este serve interesses particulares de grupos ou indivíduos.
A Nação Americana precisamente por causa do poder que tem, impõe-lhe responsabilidades imensas em relação aos povos da terra.
Por esta razão acho que temos o dever de lhe falar a linguagem da franqueza quando não estamos de acordo com certos actos da sua Administração.
Mesmo se lá para o meio do século os EUA vão perder alguma da sua influência nos "world affairs", devido à emergência da China e dos grandes tigres asiáticos, e mesmo se já em 2007, talvez, algumas decisões serão tomadas sem interferência dos EUA, estes permanecem a referência em matéria de segurança para o mundo, de desenvolvimento cientifico e de democracia, apesar dos erros e faltas graves já assinalados.
E é precisamente por causa do que precede que devemos chamar a atenção deles para a maneira contraproducente como os negócios do mundo são geridos por alguns políticos, não ;porque eles detenham esta responsabilidade directa pelo sufrágio universal mas porque toda e qualquer acção dos EUA em não importa qual matéria afecta automaticamente o resto do planeta.
Os problemas actuais nas várias regiões sensíveis do mundo e os problemas futuros da saúde do planeta estão patentes aos olhos do mundo. E eles são graves para todos nos.
Proteger a América contra ela mesmo seria a conclusão lógica do meu discurso.
A Democracia é multifacetada e envolve um conjunto de liberdades incontornáveis que, na sua versão mais estrita, correspondem aos Direitos Humanos fundamentais conforme enunciados no nascimento das democracias na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos e na Revolução Francesa. Tal envolve direitos como o direito à vida, à liberdade de opinião, informação, expressão e associação, o direito de eleger e ser eleitos, o direito à segurança, entre outros e o direito à livre propriedade. Ou seja, a propriedade privada, nele incluído o direito de e explorar economicamente em proveito próprio e da comunidade, é um dos direitos básicos da Democracia. Obviamente, este direito não faz, por si só, a Democracia e os casos do Chile e da China são disso bons exemplos, mas a inversa também é verdadeira: Democracia sem liberdade económica não existe.
Hoje em dia há muito menos ditaduras do que havia há 30 anos, mas as democracias plenas, no plano político e económico, formal e suibstantivo continuam a não ser tantas quanto isso. Agora, não tenho dúvidas que os países da NATO, da UE, a Austrália, a Nova Zelândia e o Japão estão entre os bons exemplos e haverá mais alguns.
também não posso concordar que o keynesianismo seja um requisito da democracia ou, sequer, da justiça social. Aliás, os Governos do PS em Portugal têm mostrado abundante e infelizmente, como o Keynesianismo pode ter efeitos perversos sobre a economia, atrofiando o sector privado e tornando a sociedade e a economia estado-dependente.
Eu acredito no Liberalismo económico temperado, mas o tempero tem de ser q.b. e administrado por mão prudente, para não ficarmos todos a "arder".
Certamente, temperado, estamos de acordo. Em economias de mercado como nos EUA, Reino Unido, França, etc, quem não se recorda do "tempero" necessário para salvar a Chrisler nos EUA (Jimmy Carter)e de Boeing, da British Leyland no RU (que não serviu para nada, porque a industria automóvel inglesa desapareceu), na França com Air France e outras, etc.
Na realidade, Government's view of the economy could be summed up in short phrases:
a) If it moves, tax it !
b) If it keeps moving, regulate it !
c) And if it stops moving, subsidize it !
That's all.
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