Uma das notícias do dia (que podem ver, por exemplo, no Diário de Notícias) é a de que os portugueses gastaram, nos primeiros 25 dias de Dezembro, o equivalente a 994€ por segundo. Assim mesmo, sem vírgula no número... Quase mil euros ou duzentos contos, portanto.
Reflexão óbvia: as pessoas queixam-se da crise, mas não têm o menor bom senso no que toca ao consumo.
Reflexão menos imediata: creio que a (in)cultura mediática entorpeceu fatalmente o espírito crítico das pessoas, que já pouco raciocinam sobre o que é essencial e sobre o sentimento que pode fazer de um presente de valor simbólico uma jóia de marajá.
O consumismo infrene que é induzido pela florescente indústria publicitária está a levar-nos para além do saudável. O que está na moda hoje, já não está na próxima semana (vale dos telemóveis à roupa e das consolas de jogos aos automóveis) e comprar o "último grito" é quase uma necessidade biológica, produzindo-se uma sensação psicológica de menoridade em quem não tem o que já há na escola ou no emprego.
Daí o sucesso das siglas do momento, sejam elas Cofidis, Capital Mais ou outra, esquecendo-se o feliz comprador que, seja com estas empresas ou com um banco tradicional, tudo haverá de ser pago e com juros.
Aqui fazia falta pedagogia explícita pelos políticos. Mas saberão eles do que falamos? Será que não estão, também eles, "contagiados"?
Reflexão óbvia: as pessoas queixam-se da crise, mas não têm o menor bom senso no que toca ao consumo.
Reflexão menos imediata: creio que a (in)cultura mediática entorpeceu fatalmente o espírito crítico das pessoas, que já pouco raciocinam sobre o que é essencial e sobre o sentimento que pode fazer de um presente de valor simbólico uma jóia de marajá.
O consumismo infrene que é induzido pela florescente indústria publicitária está a levar-nos para além do saudável. O que está na moda hoje, já não está na próxima semana (vale dos telemóveis à roupa e das consolas de jogos aos automóveis) e comprar o "último grito" é quase uma necessidade biológica, produzindo-se uma sensação psicológica de menoridade em quem não tem o que já há na escola ou no emprego.
Daí o sucesso das siglas do momento, sejam elas Cofidis, Capital Mais ou outra, esquecendo-se o feliz comprador que, seja com estas empresas ou com um banco tradicional, tudo haverá de ser pago e com juros.
Aqui fazia falta pedagogia explícita pelos políticos. Mas saberão eles do que falamos? Será que não estão, também eles, "contagiados"?
4 comentários:
Amigo Senhor Gonçalo
Como tem razão ! O bom senso mesmo. O Senhor escreve como o Papa Bento XVI falou no Natal ! Mas creio que vai na má direcção ao pensar que , eventualmente , os políticos poderiam, deveriam, fazer obra pedagógica e chamar a atenção dos cidadãos/eleitores sobre os riscos do endividamento sem controlo.
O natural dos políticos é de vender " les lendemains qui chantent " !
Ou então os Portugueses preferem seguir a filosofia de Monsieur de La Rochefoucauld" , que disse : - Quem vive sem loucura não é tão ajuizado como ele crê"
Senhor Gonçalo:
O meu primeiro comentário, rápido, feito sob uma forma um pouco irónica, deixou de lado o fundo do problema, que é o do papel desempenhado pela publicidade, que o Senhor muito bem frisou. Este seu tema, Senhor Gonçalo, considero-o mesmo como um dos mais interessantes, , de actualidade, do seu "blog"! Nele vejo dois ou três aspectos interessantes :-
Na minha opinião, a "pub" é o grande mal da nossa época, porque ela exarceba a necessidade de consumir, e não a necessidade de satisfazer uma ...necessidade!
Antes da "pub" existia o "reclame" que mostrava o objecto que podia eventualmente satisfazer uma necessidade. Hoje a "pub " incentiva a criação de necessidades , elogia a satisfação de "desejos", de sonhos, estes sendo uma reacção psíquica, um fantasma, mais que outra coisa. Dizendo doutra maneira, trata-se de aspirações individuais e colectivas, que tomam a forma de "valores essenciais" que mesmo a própria igreja já não consegue deter!
E para satisfazer estas aspirações a violência pode ser , por vezes, a arma utilizada, como se vê nas escolas , onde certos jovens, sempre prontos a "comparar" os respectivos "Nikes" e o modelo de telemóvel, mas não tendo os meios necessários, utilizam a violência para os obter.
Os adultos , esses, endividam-se para lá do razoável para o mesmo fim, como muito bem escreveu.
Fico por vezes estupefacto da habilidade dos especialistas da "pub" para recuperar estas aspirações humanas e transpor-las no mundo dos objectos consumáveis. E se escrevi sobre os jovens, é que eles mergulham, hoje, muito cedo no "sistema", sem distância de precaução alguma, porque na TV, nas ruas, nos magazines a mensagem que lhes é astuciosamente endereçada faz "tilt" !
O segundo aspecto, é o económico que o Senhor muito bem detectou. Hoje, o indivíduo serve o sistema industrial trazendo-lhe não as suas economias, porque não faz quase nenhumas e o sistema combate as economias, mas consumindo o mais possível. E para isso o crédito também faz a sua publicidade dizendo-lhe que tudo é possível...Transformado no homem-consumidor vital, ele nem dá por isso, absorvido como está na ânsia de consumir! Esta actividade é continua, e se ele se esquece algum tempo de consumir, alguém virá dizer-lhe que ele está a perder uma boa ocasião de ser "feliz" e que se arrisca mesmo a transformar-se num "excluído" , como assim se chama aos que tentam de resistir!
Uma pessoa amiga dizia -me recentemente : " Não pode imaginar a pressão social que existe em Portugal quando se trata de estar " ao nível " ! Em tudo o que se vê do exterior e no exterior !"
O terceiro aspecto veio-me ao espirito ao constatar que os supermercados distribuem agora sacos plásticos ecológicos (que por vezes se devem pagar!), com o fim de proteger a natureza!
Enfim, alguns grandes expertos da economia começam a por-se algumas questões sobre o dilema do "consumo, crescimento e preservação do planeta"!
Porque , claro está, isto é algo contraditório, e se acrescentarmos a imagem da bicicleta da economia que se arrisca a cair para o chão se as pedaladas cessarem de ser enérgicas, então verifica-se que estamos perante um dilema terrível.
Sim , porque se no inicio do século passado éramos 1 bilião de indivíduos, hoje, isto é, 100 anos depois , passamos para 7 biliões de indivíduos. Dentro de 40 anos o petróleo será raro, o gaz. dentro de 60 anos. E à medida que formos extraindo será cada vez mais difícil de extrair!
Dentro de 20 anos haverá o dobro dos automóveis. O planeta está ao bordo da asfixia no que ele pode oferecer , e a sua capacidade de absorção do resultado da nossa expansão chega ao limite. Algum dia temos que acordar!
A sociedade de consumo está condenada, a liberdade como ela é interpretada por todos nos - " faço o que quero", sem responsabilidade alguma, é condenável. Consumir menos e consumir melhor deverá ser o principio que permitirá de salvar o planeta. Temos de decidir se vamos para a auto-destruição ou para a mutação necessária. Desacelerar para melhor regular e controlar a mutação, isso sim. E os políticos deveriam meter-se à obra e fazer obra pedagógica, como escreveu. Quererão ? Poderão ? A produção de massa estando na base do capitalismo, sistema vigente por excelência, receio bem que eles estejam já ultrapassados.
O "homo oeconomicus" de qualquer maneira é sem duvida uma espécie em perigo !
A verdade sobre a publicidade é essa: trata-se de uma indústia que cria as necessidades de que se nutre...
Acresce, se lermos Sartori ou Popper, que o cidadão que vê televisão é bem menos capaz de raciocinar criticamente do que o seu congénere de há alguma décadas atrás.
Depois, no que toca às questões do endividamento, tenho-o dito e escrito, entendo que estamos a criar autênticos direitos de propriedade sobre sujeitos e novas formas de escravatura adocicadas pela liberdade de optar, que a economia de mercado tem implícita.
O problema é que o exercício da liberdade exige um arbítrio esclarecido, que me parece arredio do nosso mundo ocidental. A isto acresce um movimento paradoxal: quando a liberdade se torna infrene, nega-se a si própria.
Eis a razão pela qual sou um reformista, guardando o liberalismo (nunca a outrance) para o adorno (vulgo, cereja).
Perfeitamente de acordo. Estamos ainda longe do sonho da sociedade humana onde se criariam exclusivamente "objectos socialmente uteis" preservando assim o futuro do planeta o que significa o futuro da humanidade.
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