terça-feira, 3 de outubro de 2006

A pronúncia do Norte


A Coreia do Norte anunciou que vai realizar um teste nuclear, em data não especificada.

Cá para nós, que ninguém nos lê, estou em crer que é mais uma ameaça, a que não será estranha a ciumeira que deve estar a causar a quase certeza da eleição de um sul-coreano para secretário-geral da ONU.
Porém, mimos como este e como o recente lançamento do míssil Taepodong 2, não obstante ter explodido poucos segundos depois do lançamento, devem fazer-nos pensar sobre a estratégia de Pyongyang que, como parece óbvio, decidiu contrariar a sua obsolescência convencional pela dissuasão nuclear.
Este tem sido o rumo do regime de Kim Jong-il, desde os alvores da década de 90, e nem mesmo a insistente oferta do restante grupo dos 6 (que inclui, a mais da Coreia do Norte, a Coreia do Sul, os EUA, o Japão, a China e a Rússia) parece poder (ou querer, no caso chinês, digo eu) convencer o herdeiro do "Grande Líder" a trocar atómos por dinheiro.
Ao mesmo tempo que reforça a defesa, Pyongyang consolida o poder interno, lançando as maiores dúvidas sobre um parto sem dor de um qualquer regime que não seja aquele que vigora.
Baralhando e voltando a dar, as minhas ideias são estas:
  • não vale a pena sonhar com mudanças nesta ponta do "eixo do mal", a breve trecho.
  • não há qualquer vantagem do regime norte-coreano em desencadear um ataque (excepto, como é óvio, em auto-defesa), mesmo quando vier a ter poder efectivo para tal.
  • vamos ter que aturar muitas mais chantagens e birras, porque, ainda assim, não compensa correr o risco de encostar à parede Kim Jong-il e as forças armadas que fazem a festa a norte do paralelo 38.

Solução?! Além de manter a pachorra do costume, sonhar com o dia em que Pequim tenha interesse em proceder a obras na casa do vizinho e rezar para que dê certo, nessa altura...

5 comentários:

Rui Miguel Ribeiro disse...

Eu não teria tanta certeza quanto ao 2º ponto. Não sei o que é mais forte em Pyongyang, se o instinto de sobrevivência, se a paranóia do regime e do líder. Esperemos que a Coreia do Sul não fique com um Secretário-Geral da ONU e sem capital...
De qualquer modo, se nada for feito, mais vale atirar o regime de não proliferação nuclear para o cesto dos papéis e aceitar que todo o bicho-careta pode ter uma bombitas atómicas para aumentar o ego, ou rebentar com os vizinhos menos simpáticos.

Gonçalo Capitão disse...

Sim, não podemos ficar de braços cruzados.
Porém, como sabes, o Afeganistão e o Iraque estão a exaurir o Ocidente e, mormente, os EUA.
Enquanto a UE persistir em ser palavrosa e balofa e achar que o grande investimento em defesa tem de ser feito pelos "bárbaros" americanos (às vezes, parece ser este o pensamento de Berlim e Paris, para gáudio de Moscovo), a capacidade de demonstrar a superioridade da cultura da liberdade (vulgo, democracia) será mais ou menos a que temos...
No que diz respeito a Pyongyang, subscrevo um artigo que li, há dias, na imprensa estrangeira, que defendia que, apesar de tudo, mesmo as atoardas do regime norte-coreano são ditadas por uma estratégia de intimidação dos vizinhos e de preservação interna.
Sei que é uma aposta que não te importarias de perder, mas apostaria que não haverá grandes novidades do género das que temes...

O Politicopata disse...

Hahahahaha! Este post está LINDO!

Luis Cirilo disse...

Eu acho que regimes como o da Coreia do Norte,assentes em ditaduras mais proprias da idade média,só entendema linguagem da força.
Vejam bem como em 1966 o Eusébio os meteu nos eixos !
Nunca mais se atreveram,sequer,a aparcerem num mundial de futebol...
Falando a sério: Creio que mais dia menos dias,até porque vizinhos destes estragam literalmente a paz de qualquer condominio,a China vai ter de proceder a umas arrumações em casa do vizinho do lado de molde a restabelecer algum sossego.
O problema é que essa arrumação pode,por "lapso" chegar ao vizinho do andar de baixo e aí ja nao sei se o senhorios desses vizinho (leia-se USA)vai concordar com a arrumação ...
Existe contudo uma esperança: Num proximo "Pros e Contras" a Fatima Campos Ferreira pode convidar as duas Coreias,os Estados Unidos,a China e a ONU para debaterem a paz na peninsula coreana.
Estou certo que depois de duas horas a aturá-la sentir-se-ão todos muito mais motivados para um entendimento.
Se houver algum,mesmo assim,mais recalcitrante é levá-lo á "Grande Entrevista" da Judite de Sousa.
Estou certo que no ano a seguir o desgraçado ganha o Nobel da Paz !

Gonçalo Capitão disse...

Já lá mora!!!
Segundo Pyongyang (notícia não confirmada, mas já condenada a nível mundial) fez o ensaio nuclear, esta madrugada...

Luís: quanto ao vizinho de baixo de que falas, tens razão na especulação. Acresce que Seul fica a pouca distância da fronteira, o que, em caso de conflito, promete ruínas...