quinta-feira, 6 de julho de 2006

Resta-nos OPELar aos santos...

O mais recente drama em torno do putativo encerramento da fábrica da Opel, na Azambuja, com o qual relaciono o mais recente impasse (a memória hodierna é curta, bem sei) vivido na Autoeuropa, traz à colação recentes índices sobre a alegada baixa produtividade dos trabalhadores portugueses.

Diz a Opel (General Motors) que sai mais caro produzir em Portugal do que em Espanha, imagina-se. E, factores de produção e impostos à parte, são mais do que muitas as suspeitas sobre o brio e zelo da nossa mão-de-obra. Basta lembrar que, no caso da fábrica de Palmela, enquanto os próprios trabalhadores alemães (creio que não falamos, em bom rigor, do terceiro mundo) aceitavam recuar nos salários, aprovando cortes, ou seja, perdendo um pouco para que se não perdesse tudo, os seus congéneres lusos lutavam por aumentos e pela manutenção de horas extraordinárias remuneradas regiamente (a imprensa falou, em 2005, de valores que podiam ir até aos 200%, aos sábados, e aos 500%, aos domingos).

Vendo bem, a mentalidade é mesma dos tempos em que havia o ouro do Brasil: enquanto estiver a dar, que se danem as agruras. Isto é, pensar o dia de hoje é bem mais relevante do que acautelar o futuro (próprio e dos sucessores), já que sempre nos desenvencilhámos, desde D. Afonso Henriques…

Claro que, a este ponto da prosa, posso ser acusado de insensibilidade. Far-me-ão ver que o poder de compra alemão comporta cortes, ao passo que, em Portugal, muitas famílias não suportam sequer um aumento de vinte euros na prestação da casa.

Porém, mesmo aqui, não excluindo que haja situações verdadeiramente dramáticas, não sei se um mercado de arrendamento mais atractivo não acabaria com a mania de sermos proprietários (embora tal faça sentido, se olharmos à pouca diferença que ainda existe entre os dispêndios da compra e do arrendamento) e um combate ao consumismo não dariam frutos.
Neste último capítulo, acho notável que estejamos nos lugares cimeiros das estatísticas sobre o número de telemóveis por habitante, que se vendam tantos plasmas e LCD (já vi gente com menos posses mais bem artilhada, a este respeito, do que eu que ainda me vou contentando com os clássicos televisores), que as agências de viagens esfreguem as mãos e que os carros saiam tão bem dos stands… Tudo graças ao miraculoso crédito e às sãs discípulas, as “indolores” prestações, sejam da banca ou da verdadeira agiotagem que se faz no crédito instantâneo pelo telefone.

Deveria haver mais pedagogia em todos estes domínios. Seria possível trabalhar menos horas, se produzíssemos mais e com mais espírito de grupo, nas horas laborais. Não seria preciso abrir ATL às 8h30 e depois das 17h30, se os progenitores (assim menos presentes na educação dos filhos) trabalhassem com afinco de japonês. Não faria diferença proteger o posto de trabalho, aceitando congelamento de salários, se não se derretesse dinheiro em coisas que só na publicidade são essenciais.
E por aqui me fico, antes que me torne um tipo de esquerda…

2 comentários:

el s (pc) disse...

O trabalhador japonês é o segundo da OCDE que mais horas trabalha por semana (atrás dos americanos, penso que para o americano são 72h/semana e para o japonês 68) e o segundo com menos férias (14 dias vs 12 dos amercianos e 24 dos Europeus)
O aluno japonês é o que tem mais horas extra escola em ATL, explicações, etc... no mundo.

Portanto... ... não é por ser mais ou menos produtivo que se trabalham mais ou menos horas.

Gonçalo Capitão disse...

A conclusão é tirada com a sua lógica de Sniper e, portanto, é boa.

Todavia, como sei que percebeu, referia-me mais ao espiríto patente, por exemplo, nas chamadas "greves de sobreprodutividade".