terça-feira, 30 de maio de 2006

Amnésia


A situação em Timor-Leste, começando por coisas verdadeiramente sérias, tem tudo para ser, pelas más razões, um caso de estudo.

Antes da independência falei e escrevi sobre Timor, até ao ponto de alguns correligionários (alguns dos quais com funções de relevo e que, agora, “enchem a boca” com as gentes timorenses) satirizarem, mas logo sublinhei, quando as notícias começaram a ganhar cores alegres, que o mais fácil seria, de então em diante, esquecer Timor.

E assim se viveram os últimos tempos, com o espírito de quem se livrou de um peso na consciência ou de quem “já deu para esse peditório”.

A somar ao “nacional-porreirismo”, as restrições orçamentais e a proximidade de potências como a Austrália e a Indonésia foram atenuando a “moda” de 1999, excepto no que diz respeito ao brio dos cooperantes e forças de segurança, por um lado, e ao afecto que os timorenses têm por nós, por outro lado.

Nisto, esquecemo-nos de ancestrais divisões étnicas, familiares e políticas que percorrem o jovem País. Ainda há cerca de 30 anos, vizinhos matavam-se uns aos outros, algo que foi agravado durante a ocupação indonésia, em certos casos.

Tudo isto se joga, agora, mormente se pensarmos que o governo é dominado por elementos que estiveram exilados em Moçambique (a tendência mais à esquerda); também esta clivagem - a do local de exílio – serve para ler a política timorense, acreditem ou não. Esta predominância gerará, sem dúvida, rivalidades que agora ressurgem e que geram a união em torno do Presidente da República.

Ou seja, com excepção dos diplomatas, creio que, de facto, nos esquecemos de Timor, o que, como sempre acontece quando se procura aligeirar os problemas, sempre se paga, e com juros.
Sobre as medidas a tomar, reconheço humildemente que me faltam habilitações para a prescrição, mas o que sei é que Timor é e será uma questão premente da nossa política externa, durante muitos e (espero eu) bons anos. Resta saber se estamos dispostos aos sacrifícios inerentes. Entendo que, olhando o passivo histórico e o activo cultural e estratégico, é uma causa a abraçar.

Sem comentários: