domingo, 23 de abril de 2006

D.J. Telespectador

Apesar dos meus tenros anos de vida, ainda sou daqueles que se lembram de ter televisão a preto e branco em casa e da opção ser unicamente a estação de serviço público (será?). Hoje, com a proliferação de meios de comunicação, nomeadamente televisivos, todo e qualquer espectador, munido de um telecomando é capaz de escolher, “in loco” a sua preferência televisiva e não ficar sujeito a uma oferta limitada e imposta. Se antes era-mos sujeitos a programações às quais era quase impossível fugir, nos dias que correm qualquer um pode ser D.J.!
Quando vou a um bar e a música é má (segundo o meu critério de avaliação), dedico-me ao balcão (moderadamente, pois está claro!), ponho a conversa em dia, ou então, pura e simplesmente, vou para outras paragens. Ou seja, não tenho grandes hipóteses de mudar de som, pelo menos naquele espaço. Se estiver a ver televisão e o programa não me interessar, mudo de canal.
A diferença é que num tenho possibilidades de escolha, enquanto que noutro, a opção é mesmo o retiro voluntário!
Digo isto, porque o que me chateia é que a maioria dos consumidores televisivos portugueses são maus D.J.’s, e os editores televisivos (salve excepções) são péssimos!
A demonstrá-lo está a ascensão meteórica de jovens estrelas televisivas, muitos com inegáveis qualidades estéticas, mas com poucas “artes” de representação. Não obstante, e porque a exigência da audiência não parece exigir mais, responsáveis televisivos disputam-nos no sentido de aumentar “share” e cativar públicos.
Em causa, parece estar sobretudo a exploração dos nossos instintos mais básicos: o gosto pelo sangue, a apetência pelo sexo e a curiosidade como idiossincrasia do ser humano. Sobretudo no que concerne a este último aspecto, isto é, o voyeurismo, confesso que abomino a utilização da vida pessoal em certos programas televisivos. Providenciar uma namorada ao Zé Maria, verificar o grau de fidelidade de um casal, fechar pessoas numa casa, quinta ou raio que o valha onde o principal ponto de interesse é a possibilidade de romance, etc, são exemplos. Há pessoas para tudo, editores para muito mais!
Recentemente, assistimos ao exacerbar desta exploração com o aproveitamento da morte de uma jovem estrela televisiva para cativar audiências. Inclusive, foi divulgado pela imprensa, que foi pedido dinheiro a outra estação televisiva para passar imagens do seu trabalho em vida, com o intuito de noticiar a sua morte! Fez-se directos do cortejo fúnebre, entrevistaram-se alguns dos presentes!
Parece-me urgente manusear o telecomando ao estilo de um Carl Cox nos discos de Vynil e fazer ver a alguns responsáveis televisivos que o “exagero” não compensa.

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