terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

Quando o diferente quer ser igual

Já que falamos de liberdade e de tolerância, e alguns dias volvidos sobre o prime time da questão, falta uma palavra sobre as duas concidadãs que tentaram, assistidas por um advogado, registar o seu casamento na conservatória.
Indo por partes: parece-me, em primeiro lugar, que os três sabiam que a Lei Civil impedia esta união, já que tutela especificamente o contrato de casamento, ao passo que a Constituição enuncia princípios genéricos contra a discriminação.
Pode, por isso, dizer-se que procuraram chamar a atenção para uma situação que reputam de injusta.
Até aí, vamos indo, mas, em segundo lugar, é preciso que haja a consciência de que cada vez que se torna pública a vida privada, a devassa , mesmo quando não desejada, passa a ser regra; ou seja, se já se sentiam alvo de olhares e atitudes discriminatórias, creio que a situação não tende a amenizar (antes pelo contrário).
Depois, não creio sequer que possa falar-se em discriminação legal. Se formos sinceros, reconheceremos que é sabido o facto de o casamento ter sido pensado para unir pessoas de sexos diferentes. Foi uma ideia que fez curso na lei e na tradição.
Virá, nesta altura, o "Che" de serviço dizer-me: "mas a lei e a tradição mudam, senão o marido ainda podia abrir as cartas da mulher!"...
Pois sim, mas há discriminações antigas que não tinham alternativa; no caso dado era simples: ou podia, ou não podia ler correspondência alheia.
No que ao casamento diz respeito, a mais de se misturarem valores ideossincráticos que tocam fundo a muita gente, há alternativas de direito - como a parceria registada, creio, do direito francês - que permitem dar igual estatuto jurídico e cívico aos casais do mesmo sexo.
No fundo, creio que a luta dos casais de homossexuais e lésbicas é usufruir dos mesmos direitos (e deveres), pelo que o essencial não é o nome a dar ao laço jurídico que os une. Insistir em chamar casamento pode aumentar a animosidade social, sem que daí advenha proveito algum, e não deixa de ser curioso que a luta pelo "casamento" venha, no plano político, de sectores que, antes, o achavam uma instituição reaccionária.
Pessoalmente, valha a verdade, vejo com sincera normalidade a união de homens com homens e mulheres com mulheres (e se vier a ser permitido o casamento dos mesmos, não me apoquenta minimamente), esperando apenas que a minha heterossexualidade não venha a ser um estorvo, no futuro, já que parece que há certos sectores da extrema esquerda e dos media que fazem parecer inaceitável qualquer opinião de tom mais conservador.
Também neste domínio, há que usar de tolerância, permitir o exercício da liberdade, mas procurar um ponto de equilíbrio entre as sensibilidades da maioria e da minoria.

7 comentários:

el s (pc) disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
el s (pc) disse...

Acho que tem toda a razão, nomeadamente na parte em que diz:

«...ser permitido o casamento dos mesmos (mesmo sexo) , não me apoquenta minimamente), esperando apenas que a minha heterossexualidade não venha a ser um estorvo...»

a discriminação positiva é tão má como a negativa.

O Politicopata disse...

Caro Gonçalo Capitão: "não deixa de ser curioso que a luta pelo "casamento" venha, no plano político, de sectores que, antes, o achavam uma instituição reaccionária!"
Isto é bem verdade... Aquela malta do clube do Loução só gosta de coisas manhosas... De qualquer forma, todo este circo montado para a Comunicação Social foi vagamente deprimente (sapatonas como dizem os brasileiros, com pouca instrução, uma delas era coxa, o advogado andava à caça de clientes nos sites gay, etc). Foi tão mau, que nas palavras de Marques Mendes seria qualquer coisa assim: "Isto não foi nada credível e eu prezo muito a credibilidade e a coerência! Os casamentos entre sapatonas não dão nenhuma credibilidade ao País e faço já um ultimato ao Eng.Sócras, para tomar uma posição clara sobre o assunto, sob pena de eu o pôr com umas orelhas-de-burro a escrever 100 vezes no quadro a palavra CREDIBILIDADE, que se diga de passagem são muito menos vezes do que aquelas que eu a repito por dia..."

Um abraço do
Politicopata

PS- Gostaria que o seu Blog tivesse um mail próprio.. Quer pensar nisso???

Gonçalo Capitão disse...

Caro Politicopata:

Se o "Tiro ao Mendes" vier a ser desporto olímpico, o meu amigo arrisca a medalha de ouro...

Perdoe-me a ignorância: o mail no blog, regra geral, serve para...?

O Politicopata disse...

Caro Gonçalo: Se acha mesmo que "este amigo" arrisca a medalha de ouro, se o "Tiro ao Mendes" vier a ser desporto olímpico, deixe-me que lhe diga, que este amigo acha que o "representante" por Coimbra dos "Meninos do Pombal", é capaz de não lhe ficar atrás...
Sou do PSD, mas não suporto ver o que Mendes está a fazer ao Partido! Nem vale a pena falar de Sócrates, porque o Governo está completamente à solta! O PSD está partido em mil bocados: Menezes, Aguiar Branco, António Borges ou Manuela Ferreira Leite, Marco António, Rui Rio, Cadilhe, Santana (agora já para as directas) e agora até já se fala em Morais Sarmento...
Para se fazer "cair" um Governo como o de Sócrates, não basta apresentar-se em 2008 para se candidatar à liderança do Partido... Quem o fizer, não vai ter tempo para mostrar uma alternativa CREDÍVEl aos portugueses... É que Sócrates não é o Guterres e cada vez mais estou convencido, de que ele irá ganhar as legislativas de 2009!
Perdemos 33 deputados (como infelizmente sabe), grande parte à custa do que Mendes fez a Santana Lopes! Mendes ajudou a derrubar o PSD (estando no poder) e não foi pouco!
Sei que corre por si próprio, mas também sei que pelo menos "era" um "próximo" de Santana... Não me parece que discorde radicalmente do que estou a dizer...

Por fim e em "regra geral" o mail serve para as pessoas escreverem e partilharem informação com os autores dos Blogs (não aguento não ser cínico nesta parte, hahahahahaha )! Caso tivesse um mail do Blog, eu gostaria oportunamente lhe poder chamar a atenção para alguns assuntos, sem que para isso tivesse de passar pelos COMMENTS que toda a agente lê...

Queria ainda dizer-lhe uma coisa: Considero-o um político muito inteligente e arguto, óptimo parlamentar (já me dei ao trabalho de o ver no canal Parlamento nas Comissões Parlamentares, por diversas vezes) e com muita piada (ainda que por vezes queira parecer um bocadinho "fanif", se me permite)!
Já por diversas vezes "chamei a atenção" a alguém, para o facto de no seu caso (por não ser agora deputado), deveria passar pela cabeça do líder (este ou o próximo), convidá-lo para um cargo partidário de relevo, aproveitando a "sua arte" mas também os apoios que poderia mover... Este cenário, como por certo desconfia, está fora de questão para o Credível Mendes!

Um abraço amigo do
"Credível" Politicopata

O Politicopata disse...

Esqueci-me disto: O e-mail no seu blog serve também para me escrever para o meu mail, confessando em quem é que votou na sondagem do Politicopata! Isso sim é que eu gostava de saber...

Afectuosamente,
Politicopata

Gonçalo Capitão disse...

Amigo Politicopata:

Agora sou eu: ah ah ah...

É simpatia sua, mas não é tempo de quem quer que seja me convidar para cargos de destaque.

Aprendi, am Coimbra, a custas próprias que a minha maneira de ser vale o exílio e não o convite.

Em 1999/2000 (a propósito de directas, imagine) ataquei (com gosto duvidoso, reconheço) o Presidente da Jurisdição, Carlos Encarnação, que se pronunciara pelo cariz anti-estatutário (os estatutos do PSD não têm limites materiais de revisão, relembro), e fui corrido das listas autárquicas seguintes, da colaboração no "Povo Livre" e de outras coisas de que não posso falar.
Claro que nada é assumido, mas o embargo é total.

Em 2002-2005 foram-me transmitidos alguns "recados" que não acatei (e voltaria a não acatar) - algo de que também ainda é cedo para falar.
Claro que nada é assumido ou assumível, e nem sei se explica parte do que aconteceu.

Aceito bem as fatwas, mas sei por que é que não me convidam.

Os seus elogios, digo com sinceridade, são excessivos, mas simpáticos.