terça-feira, 17 de maio de 2005

Druidas

Já a 29 de Março escrevia aqui no blog que, pelas razões ecológicas, saudara a decisão tomada de parar o processo de abate de sobreiros em Benavente. Estava longe, confesso, de imaginar o rol de implicações que viriam a ser alegadas – nada ainda provado, sublinhe-se – e ainda mais distante de pensar que, em Belmonte também se aprovara algo a “mata cavalos”.

Da ligação entre dirigentes do CDS e administradores do Banco Espírito Santo nada sei, e este é o primeiro ponto de análise. É que todos nós já sabemos mais do que devíamos saber. O segredo de justiça continua a ser mal tratado, por cá. Neste caso, como é que sabemos que Abel Pinheiro foi escutado durante cinco meses, milhares de vezes?! Que é feito da preservação da privacidade dos presumíveis inocentes?!

Se me parece soberbo que comecem a “rolar cabeças”, sempre que as mãos hajam sido metidas na “massa”, a verdade é que duas coisas não podem suceder: a primeira é que permaneçam impunes os agentes judiciais que devassam a vida de cidadãos, muitas vezes inocentados, mais tarde, permitindo grosseiras fugas de informação. A segunda é que se façam duas ou três purgas mediáticas e se deixem sobreviver as linhas intermédias dos partidos que, embora o diga por mera intuição, terão, em muitos casos, dificuldade em explicar o seu património com base na declaração de IRS…

Há anos que ouço falar em “bloco central de interesses” e outros fantasmas que, a bem da credibilidade da política, é bom que se dissipem quer haja apenas fumo, ou mesmo fogo.
Este é um fenómeno de subdesenvolvimento, como outros que vão alimentando a sociedade portuguesa.

Por outro lado, temos o prisma político das questões (Benavente e Belmonte), sem que, para não incorrer no erro que critiquei, aborde o caso concreto. Manda o bom senso que, no período de gestão dos governos, se despachem situações pendentes que não possam esperar mais, em nome do interesse público.

E não se pense que me refiro à resolução de alguns casos individuais – que pode suscitar apreensão em alguns casos, mas que, sob apreciação casuística, pode justificar-se, até em homenagem à prestação de serviço público (para não fugir ao tema, não me parece nada grave que, quando haja mérito, quem prestou relevante serviço público num gabinete, possa ser recompensado com uma reintegração compatível). Penso, isso sim, na adjudicação de contratos vultuosos e decisões estruturais, em diversos sectores; a prudência obriga a que nenhum executivo, qualquer que seja a sua cor partidária, condicione fortemente a acção dos seus sucessores.

Penso que esclarecer dúvidas – desde que se não descortinem razões de ajuste de contas – ainda mais justifica que se pare este e outros processos, com duas advertências, porém: por um lado, quando se esclarece que os processos estão isentos de crime, deve repor-se o status ante para não ferir as expectativas envolvidas.

Por outro lado, é bom que quem desata agora a apedrejar o telhado antigo não use vidro na construção do novo.

Todos, sobretudo na política, já ouvimos “histórias” que não podemos provar. O sistema judicial, querendo, pode…

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