quarta-feira, 17 de abril de 2013

A crise e os valores

Hoje em dia, falar de valores apela, só por si, à materialização, visto que até os ditos são objecto de “bolsas” que lhe dão um aroma mercantil.

Se pensarmos bem, quem não tenha hábitos (não falo de crenças) religiosos dificilmente ouvirá referências a valores enquanto pilares de uma ética pessoal e/ou colectiva que, mesmo quando não norteiam, condicionem o processo que é o modo de vida.

Estou eu a consurmir dois parágrafos com tão hermética arenga em homenagem a uma situação que comigo se passou em torno do conceito de amizade.

De facto, quando considero alguém como amigo (doravante o termo engloba, bem entendido, as amigas), sou dos que não enjeita jamais essa amizade, mesmo que a pessoa passe um momento menos feliz do ponto de vista da sua “popularidade”, ou que seja alguém que, em virtude de ser detentora de uma personalidade menos consensual, não reúna o aplauso da maioria. Caso diferente é, evidentemente, aquele em que essa pessoa confirma a vox populi e desfere um ataque pessoal contra mim. Porém, mesmo aí, entendo que devemos analisar a situação, exclusivamente, pelo lado que nos toca, pois bem sei o que é ser vítima de energúmenos (a maioria estão, lembrando o ensinamento parlamentar inglês, nas nossas costas e não na frente oposta) que, à míngua de argumentos que ponham em causa o mérito e porque, regra geral, atacam em matilha, colam o rótulo de desleal ou pouco fiável a todo aquele que, obstinadamente, pense por si e entenda a lealdade e amizade como valores que acolhem a crítica construtiva como crisma.

Relembro que, nos meus tempos de activista e parlamentar, acalentei este debate com o meu grupo de amigos (verdadeiros, pois leva já, na maioria dos casos, mais de vinte anos de sã comunhão de ideias) em relação a um determinado sujeito que merecia “veto” da maioria e que eu entendia portador de qualidades. Valha a verdade, os tais amigos, porque genuínos, sempre respeitaram a minha insistência, como eu respeitei a merecida sátira quando a personagem versada resolveu fazer-me provar do seu veneno.

Ao invés do que possa parecer, não é de um recado que se trata, mas do facto de, há poucos dias, ter reavistado um amigo (a quem, aliás, devo gratidão) que suscita controvérsia na vida pública portuguesa, facto que foi público e que suscitou alguns comentários - na sua totalidade de amistosa provocação, reconheço – que me levaram à meditação presente.

Faço, por isso, o resumo da dita peregrinação ética: mesmo quando não subscrevo o seu enquadramento ideológico (e que benção é ter amigos que ainda sabem o que isto é!) e/ou as suas opções concretas; ainda que muitos dos meus (outros) amigos não o estimem; não obstante tratar-se de uma pessoa mais ou menos conhecida; considerando tudo isto, dizia, um amigo será sempre um amigo. Sinto-me bem assim…

1 comentário:

freitas pereira disse...

Segundo a distinção que se pode estabelecer entre as espécies de amizades, os homens de pouco valor são unidos pelos motivos de utilidade ou de interesse, pois que eles se reúnem sob este motivo. Mas os homens virtuosos estimam-se por eles mesmos, porque é nisso que eles são virtuosos. Estes serão por conseguinte amigos no sentido absoluto do termo; ao passo que os outros só o serão pelo efeito de circunstâncias e pela espécie de semelhança que têm com os verdadeiros amigos.
Diz-se que entre homens, considerando-os em relação à virtude, uns são virtuosos por hábito, porque tal é a sua disposição natural ou a sua maneira de ser , enquanto outros se mostram ais pelos seus atos ou pela maneira de agir.
A amizade é um valor que não tem preço, não tem fronteira. Comparando-a com o dinheiro, a amizade resta mais importante na vida duma pessoa.
A amizade, de qualquer maneira, requer uma certa manutenção: a falta de manutenção rompe e destrui a amizade.

Freitas Pereira