quarta-feira, 25 de julho de 2012

QUEM REPRESENTA QUEM ?

Porque é que nos regimes democráticos, os governos têm tanto medo de exercer o poder executivo para o qual foram eleitos?
Esta questão suscita-me algumas observações e dúvidas e por isso recorro a alguns exemplos:

Segundo os sindicatos dos transportes públicos, as greves que fazem e as reivindicações que apresentam, são sempre em defesa dos utentes e da qualidade dos transportes públicos.
Dúvida: Estes sindicatos representam os utentes ou os interesses dos trabalhadores dos transportes públicos?

Segundo o sindicato dos médicos, enfermeiros e auxiliares de saúde, as greves que fazem e as reivindicações que apresentam, são sempre em defesa dos utentes, do SNS e da qualidade dos serviços que prestam
Dúvida: Estes sindicatos representam os utentes ou os interesses dos profissionais ligados à saúde?

Por ironia do destino, o resultado da última greve dos profissionais de saúde, inédita porque juntou sindicatos e ordem na defesa de interesses corporativos, redondou em dois dias de excelente negócio para hospitais e clinicas privadas e é assim que que se quer defender o SNS retirando-lhe receitas.

Certeza: Estas observações e dúvidas, aplicam-se a todos os sindicatos e ordens sem excepção e para as quais a maioria do POVO Português não foi chamado a pronunciar-se.

A democracia tem destas coisas. Quando pensamos que votamos e elegemos um governo para conduzir os destinos do País, não estamos mais do que a eleger um conjunto de personalidades em que a principal função é negociar e encontrar equilibrios neste imenso turbilhão de interesses. No fim, quem paga sempre é o elo mais fraco, o POVO.

1 comentário:

Defreitas disse...

Os sindicatos estão inscritos na Constituição dos países democráticos. Nos países regidos por regimes ditatoriais não há sindicatos, ou então “sindicatos da casa”, os Grémios, como nos tempos do Estado Novo.

Com a extinção progressiva dos empregos ditos típicos ( horários completos, estatuto do assalariado), a pertinência dos sindicatos é posta por vezes em causa.

Os trabalhadores precários ou a tempo parcial podem realmente beneficiar das vantagens do sindicalismo? Em certos casos, sim.

A repartiçao do "bolo" da riqueza produzida pode ser deixada ao unico livre arbitrio dos empresàrios ? Nao.

Em tempos de crise raros são os empresários que não foram afectados pela crise económica que lavra desde há alguns meses. Neste contexto os sindicatos foram obrigados a rever as suas posições afim de se conformar a uma realidade mais sombria.
Eles estão hoje, claramente, na defensiva .

Tendo dirigido uma empresa de 300 pessoas , com quatro sindicatos, dos quais um, majoritário, nitidamente da esquerda, nunca me questionei sobre o assunto porque , como disse, existem na Constituição.

Mas posso dizer que eles não têm um grande poder, mas considero que os sindicatos obrigam os empresários a negociar de boa fé e a evitar as decisões arbitrárias. São realmente um contra poder útil e são essenciais na boa marcha das negociações entre o empresário e os trabalhadores.

Enfim, não esquecer que os sindicatos estão na base do nosso modelo social.

Quando às relações entre o governo e os sindicatos, não creio que seja uma questão de poder, porque o verdadeiro poder, o económico, não depende do governo, mas dos empresários, que têm, alias, também , um sindicato.

O problema que constato frequentemente é a profusão dos sindicatos. Esta divisão do poder sindical cria graves problemas, porque as negociações são mais difíceis quando existem interlocutores que não estão de acordo entre eles. E um sindicato minoritário, segundo o ramo industrial ou económico no qual se encontra, como o dos transportes, por exemplo, pode realmente afectar a vida dos utentes e do povo em geral.

Na Alemanha, onde o capitalismo é mais evoluído que no resto da Europa, o espirito de dialogo existe desde há muito, os sindicatos são fortes e, em certos casos,chegaram mesmo à co-gestão das empresas como na Volkswagen.

Em conclusão, penso que o principio da economia de mercado, enquanto este prevalecer, implica que o Estado não interfira nas relações entre os sindicatos e os empresários.


Freitas Pereira