quinta-feira, 26 de julho de 2012

O estado dos Estados


Tendo como princípio que todas as profissões são importantes, pois dependemos uns dos outros para a vivência em sociedade, queria todavia realçar o que disse a Daniela Mercury numa entrevista à RTP aquando da sua passagem por Portugal para promover o Rock in Rio 2012: “em democracia, a profissão mais importante é a de político”.

Salvo medianas exceções diria que os políticos não costumam ter, por norma, indicadores de confiança esmagadoramente abonatórios junto das suas populações; especialmente depois da chamada democratização e massificação da informação. A consequência óbvia é que no geral os ciclos de governação política passaram a ser cada vez mais curtos, e esta “eurocrise” veio confirmá-lo. 

Esta crise que envolve vários países europeus tem vindo a tornar perigoso (e muito) o estado de alguns Estados! Mudou de forma dramática os seus semblantes em pouco mais de um ano e tem vindo a demonstrar as fragilidades de alguns governos europeus, algo que aliás já seria de esperar, a partir do momento em que se decidiu juntar na mesma equipa jogadores com qualidade para a Liga dos Campeões e outros que muito dificilmente arranjariam lugar na Liga Orangina portuguesa!

Sabia-se que os mercados eram imperfeitos, mas mesmo assim “quisemos” uma União Monetária sem antes salvaguardar uma União Política. O resultado está vista de todos: ficámos com uma Europa que para além de não se entender, está dividida entre ricos e pobres, e normalmente quem é rico, manda.

Hoje temos Estados que gastaram mais do que tinham e acabaram por perder a sua soberania, tendo agora de se curvar perante medidas de ajustamento previstas em documentos/memorandos, aos quais têm de se sujeitar e explicar às suas populações, que legitimamente duvidam das receitas impostas, porque os Estados per si não controlam todas as variáveis e percebem que estes não são problemas resolúveis país a país, mas sim globais, sob pena de estarmos a percorrer as peças do dominó.

Temos Estados sujeitos à especulação dos chamados Mercados (que a esmagadora maioria ainda não percebeu bem o que são!) e da avaliação que umas empresas americanas que entre o seu core business se dedicam a avaliar a capacidade que os Estados têm em pagar as suas dívidas, mas que no entanto mais não são do que uma autêntica gatunagem do “rating” e uma cambada de incompetentes (vejam o documentário “Inside Job” e percebem o que vos digo). Pior ainda, andam à solta e não há quem os coloque em su sítio.

Perante todo este cenário, aqui descrito numa versão minimalista, agora pergunto-vos: qual será a profissão mais importante em Portugal nos dias de hoje? Será que a Daniela Mercury tem razão? Se sim, agora imaginemos o tamanho da empreitada que têm pela frente tendo em consideração a dimensão política e financeira de um país como Portugal?

Há épocas em que precisamos de Estadistas, e não de políticos.

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