quarta-feira, 25 de julho de 2012

O preço incerto

Se a vida se resumisse a um concurso televisivo, o preço das coisas seria coisa de somenos importância. Como assim não é, vale a pena perguntarmo-nos, ainda que retoricamente, por que é que o dinheiro adquiriu um papel que o passou de meio de pagamento a centro da nossa existência. Volto a dizer que o “ter”, tristemente, manda no “ser”…

Vem isto, evidentemente, a propósito da crise que vivemos e sobre cuja dimensão gostaria de dizer que, apesar de a angústia ser a sensação dominante, estará bem longe de significar o fim do nosso modelo civilizacional ou sequer a rendição de um povo que sempre arranjou maneira de superar as piores dificuldades, tenham elas a forma de exércitos castelhanos ou napoleónicos ou mesmo a actual roupagem engravatada do FMI que, ao que sei, veio e foi com naturalidade nas anteriores passagens pelo nosso País.

Porém, algumas questões vão ficar como marcas desta “guerra”. Em primeiro lugar, creio que, dada a inversão da pirâmide etária (cada vez menos gente a trabalhar para suportar cada vez mais gente que atinge a idade da reforma), teremos todos que trabalhar até mais tarde, acompanhando aliás a maior longevidade que nos deu a extraordinária evolução da medicina. É, neste caso, a sustentabilidade da segurança social que se joga.

Onde a compreensão me começa a falhar em relação ao que tenho ouvido e lido é quando se diz que temos salários altos. Se me dizem que se limitaram a olhar os recibos de vencimento de alguns jogadores de futebol ou dos gestores de topo, mesmo aí direi que o problema reside na generalização, pois se alguns valem o dinheiro que ganham, muitos mereceriam pouco mais do que o salário mínimo. O problema é que me parece que os doutrinadores da “tesourada” no vencimento falam da população portuguesa activa em geral, o que me sugere uma pergunta com assumido e alto teor de ignorância: se a maioria das pessoas já tem que cortar em coisas essenciais e tem dificuldade para viver com conforto (só me vem à cabeça, por exemplo, o gasóleo a quase euro e meio!...), como propõem os génios da finança que as pessoas façam mais do que sobreviver, se um qualquer governo os levar a sério?!

E, depois, surge o meu eterno dilema em relação à Saúde: se todos concordamos que o nosso Sistema Nacional de Saúde é de elevada qualidade (depois de viver no estrangeiro, confirmo-o sem rodeios), por que razão não encontramos alternativas para o financiar? Bem sei que todos pagamos impostos para o suportar. Contudo, se tal se revela insuficiente, por que não pensar num pagamento adicional por utilização devidamente adequado ao nível de rendimento do utente? Creio que é preferível do que a rendição ao mercantilismo dos seguros de saúde…

1 comentário:

Defreitas disse...

Ah Caro Amigo, o problema do custo da saúde é geral. Veja Obama e o combate dele para criar uma assistência medica mínima para 45 milhões de Americanos! Os Republicanos não gostam! Quando há crise e não há trabalho, que os doentes morram! Eles são pobres ! E talvez votem democrata!

Em França, os hospitais precisam de 1.300 milhões de euros para pagar os salários do pessoal em Setembro! Vamos encontrà-los, sem duvida! Chez les spéculateurs! E a um bom preço ! Incrível como os especuladores enriquecem com a crise! Com taxas de juro de 7%, é melhor que o Eldorado! Nunca se enriqueceram tanto e tão depressa!

Mas a angustia de que fala é compreensível.

E não é só Portugal que vive com uma certa angustia. Claro que o “tableau” é sombrio !

Em Setembro, grandes problemas em França com a explosão de milhares de despedimentos, em planos sociais enormes escondidos até às ultimas eleições !

Problema da Grécia e da Espanha que poderão ir definitivamente para a falência, com as falências em cascada das instituições financeiras, fundos de pensões e bancos que pensavam ter encontrado o "maná" emprestando com juros usurários , e que perderão totalmente ou parcialmente.. As regiões estão paralisadas com a falta de dinheiro. Mesmo a Catalunha!

Nos Estados Unidos, numerosas municipalidades abriram já falência, mesmo na Califórnia. Os funcionários não receberam os seus salários desde há meses! E ficam em casa!

Ainda nos USA, e depois das “subprime”, em Setembro, a crise vai agravar-se com a crise dos empréstimos feitos aos estudantes, não reembolsados por falta de empregos , sobretudo quando os pais perderam também os seus próprios empregos e não podem ajudar!

Ah meu Amigo, os investimentos ditos “sem risco” , em OURO-papel , que se arriscam a não valer quase nada, visto a fraca quantidade de ouro extraído no mundo !

As duvidas exprimidas na imprensa internacional sobre a realidade do ouro armazenado em Fort Knox e o seu regresso eventual aos seus legítimos proprietários internacionais que não são nada optimistas!
E não falemos daqueles que descobriram tungsténio no interior dos seus queridos lingotes, adquiridos através dos intermediários “honestos”, isto é , a banca ou mesmo nos organismos oficiais!

Sem falar do contágio da guerra civil na Síria ! Passei há algumas semanas no Bósforo! Os submarinos nucleares russos em fila indiana em direcção da base de Tartous ! Aviso aos interessados! Visto de Istambul é um espectáculo!

E não podemos mesmo contar com a China que vai dever enfrentar os sus próprios problemas de baixa das exportações...

Setembro e Outubro 2012 poderão ser ainda piores que 2008 e mesmo 1929...

Estou a pensar comprar uma leira de terra lá para o meu Minho natal, para cultivar e preparar-me a viver em autarcia com a família e os vizinhos para fim de 2012 e os anos seguintes... Ou um" lodge" em Skukusa, em White River, de que gosto muito!

A não ser que um milagre surja... Mas não parece estar a caminho, e ainda menos para os países pobres!!! Penso no nosso Portugal!

Disse angustia ?

Alma até Almeida ...


Freitas Pereira