quinta-feira, 21 de junho de 2012

Somos menos

Partiu o Abel… Para os amigos, carinhosamente, o “Abelha”, companheiro de tantas lutas “laranjas”…

É normal que o nome diga algo a muito poucos leitores… Para já atesto que, a mais de um amigo, era um tipo bem humorado, criativo e dedicado e lembro que, em 92, fez parte de um grupo minúsculo que, com uma média de vinte anos ou menos, passou uma noite a passar a “fava” de quem teria que enfrentar a geração dos vinte e muitos/trinta anos na luta de duas concepções distintas para a JSD. A tarefa parecia impossível, mas daí sairia o meu primeiro mandato distrital…

Já a propósito de muitos não saberem quem foi o Abel Ferreira, dei comigo a pensar em nomes de uma geração para quem a política parecia ser vício eterno, mas que estão hoje fora da política; além de mim, lembro o Nuno Freitas, o “Manel” Gouveia, a Maria João Matos Cabo, a Catarina Monteiro, o Ramiro Pastorinho, o “Jopa”, os Cerejo, os Africano, os Casimiro, o Leonel e tantos outros que ficam por mencionar e que, salvo excepções que desconheço, foram saindo de uma vida partidária que parecia uma segunda pele.

Existe, é claro, uma explicação parcial que é benigna: com a participação enorme do pós 25 de Abril, havia acima da nossa várias gerações (algumas pouco mais velhas) que congestionavam as oportunidades daquilo que chamámos a segunda “Geração de 70”. Ao invés do futebol, neste caso, não podíamos ir fazer política para o Chipre, para a Grécia ou para a Roménia, até haver oportunidades no “onze titular”…

Bastar-nos com esta ideia seria, porém, pouco. A meu ver, como venho escrevendo, a parte de leão do alheamento de uma ou duas gerações de partisans que tiraram os seus cursos ou/e começaram as suas carreiras profissionais é que o paradigma é diferente daqueles tempos das noitadas na sede até às cinco da manhã, da colagem de cartazes ao frio e à chuva (esperando que alguém do partido passasse com umas sandes e bebidas; geralmente a D.ª Graça não falhava), dos saques ao armazém de campanha do Sr. Pinto (o partido chegou a reunir sobre uma mesa debaixo de cujo tampo estava uma porta misteriosamente desaparecida, altura que marcou o bem humorado nascimento dos HSD – Hooligans Social Democratas), das campanhas feitas com stencil, tudo num ambiente que gerava camaradagem e que fazia com que se respeitassem regras e com que, mesmo nos conflitos, a dignidade das pessoas fosse preservada.

Já o modus faciendi de alguma da política actual é bem diverso: a boa escolha mede-se em quantidade de votos arregimentados, a hierarquia é crua (boas ideias devem vir dos submissos e os bons lugares ocupam-se com força), a difamação é arma legítima e a profissionalização política é aliada a um “cientismo” despido de alma.

É assim, Abel… Cada vez somos menos…

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