Numa economia globalizada em que um espirro de qualquer um destes países pode expelir ventosidades com impacto suficiente para abanar a Europa e a sua moeda, a empreitada que é avaliar a capacidade dos Estados pagarem as suas dívidas, determinando assim os juros que irão pagar não faz muito sentido que seja entregue a agências “manhosas” e de uma só nacionalidade, que por acaso até tem a sua moeda em competição com a europeia.
Apesar do “junk”, os últimos dias até trouxeram alguns sinais positivos, e o principal será mesmo a redobrada atenção europeia às futuras notações da Moody’s, Fitch e Standart & Poors. Deixar esta gatunagem do rating à solta é perigoso e já nem será preciso ver o “Inside Job” para percebermos que estes senhores das terras do Tio Sam são o maior logro deste início do século XXI.
E não sou eu que o digo, é o próprio Senado norte-americano que em Abril tornou público um relatório onde dizem (tradução minha) que estas “figurinhas” andaram a “vender” ratings máximos (AAA) a produtos tóxicos dos amigos para conquistarem quota de mercado, desencadeando assim uma crise financeira que é (para já) a mais grave de uma geração.
Faz-me espécie que, mesmo depois do ocorrido em 2008, estas três “eminências” ainda sejam levadas a sério, controlando cerca de 95% do mercado financeiro mundial. Lembremo-nos do triplo (AAA) ao Lehman Brothers e à Islândia antes da falência, a título de exemplo.
Tampouco percebo o estado de excepção decretado pelo BCE após o “downgrade” da Moody’s a Portugal no que toca à exigência de um rating mínimo para emprestar dinheiro, o que já antes tinham feito à Grécia e à Irlanda! É que se estes senhores não servem para avaliar o rating dos periféricos porque hão-se servir para avaliar o dos países que constituem o núcleo central da Europa?
E confesso-vos a minha apreensão com “receitas rápidas”. Isto a propósito da chuva de apelos à criação de uma agência de notação europeia. Não estando em causa a sua necessidade, importa cuidar da sua imparcialidade e isenção, senão arriscamo-nos a ver políticos darem notações às suas próprias políticas e ainda pode vir a ser “pior a emenda que o soneto”.
Para já e nós por cá não nos inquietemos em demasia até porque só voltamos aos mercados em 2013. Até lá preocupemo-nos em cumprir o acordado com a Troika e porque não, perguntar à Europa se, em vez de atirar dinheiro aos aflitos, não estaria disponível para uma emissão de dívida conjunta, como forma de diminuir a importância deste tipo de agências.
Os alemães e os restantes países do núcleo central irão torcer o nariz, obviamente, porque os prejudica e favorece os periféricos, mas quem disse que o projecto europeu não tem os seus custos?
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