Poucas horas antes da votação sobre o novo pacote de austeridade imposto aos gregos o país está em estado de sítio, com milhares de pessoas na rua em direcção à Praça Syntagma, onde fica situado o parlamento.
Convenhamos que os gregos não foram muito sérios na gestão das suas contas públicas, algo pelo qual estão a pagar, e bem.
As suas empresas fecham diariamente e a um ritmo avassalador sem serem dadas quaisquer indemnizações aos seus trabalhadores e aquelas que se vão aguentando vêm-se obrigadas a diminuir salários, em muitos casos para metade.
No plano económico e tendo por base as informações que nos vão chegando, conclui-se que a Grécia hoje não é um país pobre, mas sim em miséria.
Na vertente psicológica os relatos também não deixam ninguém indiferente. Um relatório oficial publicado recentemente pela Associação Psiquiátrica Grega mostra que 30% da população está a passar por uma situação patológica de depressão!
No meio de tudo isto vamos ouvindo e lendo que a UE/FMI irá injectar, a troco de mais austeridade, novas maquias nos cofres gregos.
Mas estas ajudas da UE/FMI não são de borla. São pagas com bons “spreads”. É certo que retiram a Grécia dos “maléficos” mercados durante 3 anos, mas após este período ficará com uma dívida pública de cerca de 150% do seu PIB!
Enquanto tudo isto se vai passando no “berço da democracia” vamos ouvindo e lendo palavrões técnicos como os “defaults”, “haircuts”, “yields”, “reprofilings” que poucos percebem mas muitos falam.
Esta eurocrise mudou a Grécia de forma dramática em apenas um ano e ameaça a União Monetária.
Aliás, segundo alguns especialistas já seria de esperar, porque não há União Monetária sem União Política.
Até lá os chamados periféricos com a Grécia à cabeça vão estando reféns dos países credores do núcleo central da Europa.
Mas o núcleo central da Europa sabe que não tem solução senão ajudar, sob pena de ver alguns dos seus bancos cheios de títulos públicos gregos estoirarem. Ganharam muito com o euro, mas ainda tem muitos créditos a receber.
O núcleo central da Europa sabe que as dívidas dos países periféricos estão nas mãos dos países desenvolvidos.
O núcleo central da Europa sabe que não são só as dívidas, o déficit dos periféricos também são o superavit dos mais desenvolvidos.
O núcleo central da Europa sabe que temos uma Europa dos ricos, e uma Europa dos pobres, e que normalmente quem é o rico, manda.
O núcleo central da Europa sabe que se a EU/FMI continuar a assistir a Grécia esta irá perdendo a sua soberania.
O núcleo central da Europa sabe que a alavanca para a tal União Política que se fala poderá ser uma continuada assistência à Grécia, para começar, diminuindo paulatinamente a soberania do seu governo.
O núcleo central da Europa se não sabe devia saber que este é um problema global e não resolúvel país a país, sob pena de andarmos no futuro a percorrer as peças do dominó.
Nós por cá, neste rectângulo a sul, sabemos que para diminuir a dívida não basta reduzir despesa. É preciso crescer. Isto porque se a obsessão com a redução do défice comprometer a actividade economia, a dívida tenderá a aumentar ainda mais.
Portanto, para não nos vermos gregos a solução é gastar menos e melhor. Mas acima de tudo, crescer, crescer, crescer...
2 comentários:
Excelente reflexão, Mamede!
Subscrevo o Gonçalo, excelente reflexão!!
Mas esta 'luta' dos gregos é bem menos ingrata que a nossa.. durante anos viveram no paraíso e continuam a achar que têm direito a ele...
Ele é reformas aos 50 anos, ordenado mínimo praticamente o dobro do que sempre foi o nosso, benesses para tudo e todos...
(Confirme-se aqui: http://www.abc.es/20110630/economia/abci-privilegios-grecia-201106300059.html)
Nós por cá, sempre vivemos em crise (desde que me lembro é esta a «palavra de ordem») e apesar de também termos os nossos telhados de vidro... nada se compara ao regabofe grego!!!
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