terça-feira, 14 de junho de 2011

Balanço e contas

Não era preciso ser mago para prever, como fiz, o que iria acontecer no dia 5 de Junho.



Começo por observações laterais para dizer, em primeiro lugar, que a jornalista da Rádio Renascença que fez a pergunta sobre o eventual (res)surgimento de processos judiciais contra Sócrates deveria ser internamente castigada, para defender o bom nome da emissora! As razões?! Ou impreparação (leia-se ignorância) ou calúnia.



Das duas, uma: ou afirmava claramente que os processos (Face Oculta, Freeport, etc...) tinham sido encobertos pelo desempenho cargo de Primeiro-Ministro (que ficaria rico com a indemnização que iria receber, presume-se) ou percebia que não pode insinuar coisas destas (a tal incompetência).



E escusam as boas gentes laranjas de ficarem contentes, pois este tipo de coisas vindas da comunicação social recai sobre qualquer figura pública, independentemente da "cor". O problema é deontológico e tem a ver com o fim do jornalismo de “escola” (e mais não digo…) e com a dessacralização excessiva da política. O poder ainda não caiu na rua, mas já foi prensado nas rotativas, depreciado nas ondas hertzianas e caricaturado nos noticiários.



Depois, registo o tremendo trambolhão que o Bloco de Esquerda deu, ficando com metade dos deputados que tinha (ao perder o Prof. Pureza perdeu, talvez, o mais sensato) e, sobretudo, com metade dos deputados do PCP, o que representa uma goleada nesta “liga dos últimos”. A lanterna vermelha mudou de mãos…



Finalmente, numa opinião pessoal, as pessoas perceberam o embuste e penalizaram o trotskismo aburguesado em desfavor do marxismo genuíno, embora anacrónico. E Louçã deixou cair a máscara na noite eleitoral, ao anunciar que não se demite. Até Daniel Oliveira entendia, na SIC N, que tal era inevitável...



Em terceiro lugar, não sendo de prever dramas de maior nas negociações entre PSD e CDS, o problema é fixar a altura da fasquia do sucesso governativo. A meu ver, tal pode medir-se situando a aprovação no cumprimento atempado e bem sucedido das metas da troika, fixando-se o louvor e distinção na eventualidade de se anteciparem essas metas.



Convenhamos que, sendo a situação grave e incómoda, vale a favor de quem governa a possibilidade de transferir parte do odioso para instituições estrangeiras (abertura que, todavia, penso que Passos Coelho não usará, dada a sua integridade rígida). Creio até que o mesmo acordo, que menciono implicitamente, será um obstáculo a qualquer laivo de acutilância por parte do PS que, ademais de tudo o resto, assinou o documento.



Por falar em PS e a fechar, creio que Assis é mais consistente, mas que Seguro é mais “vendável” eleitoralmente. Inteligente foi, mais uma vez, António Costa que, ao abrigo de um compromisso real e sério com a Câmara de Lisboa, percebeu que o próximo líder socialista dificilmente virá a governar.

1 comentário:

Diogo N. Gaspar disse...

O comportamento de PPC durante a campanha foi irrepreensível. Espero que mantenha a mesma perseverança e que seja coerente na resistência à clientela do bloco central e à colonização partidária do Estado. Os portugueses não esperam resultados imediatos e muito menos desejam consolar-se com a estatística. A confiança depositada no PSD e no CDS, traz-lhes o ónus de provar que é possível governar de forma completamente diferente, mais responsável e mais transparente. Além da necessidade de cumprir as vinculações externas da "troika", haverá muito a fazer ao nível de reformas (justiça, escola pública, economia, agricultura). A responsabilidade é grande e as expectativas muito altas: Portas carrega o estatuto de ex-líder da oposição; Passos Coelho recebeu dos portugueses uma maioria expressa, que confiaram num candidato que, há pouco tempo, quase desconheciam.

PS.: Quanto ao episódio da jornalista da Renascença, também achei a pergunta ridícula!