Continua a causar polémica a candidatura de Fernando Nobre à Assembleia da República, como cabeça de lista do PSD no Círculo de Lisboa. Ao contrário do que muitos possam pensar, a aceitação do ex-candidato presidencial não é assim tão surpreendente. Em mais que um acto eleitoral anterior, Nobre demonstrou que, sob o rótulo moralista de independente, é possível apoiar partidos da esquerda à direita (entenda-se o BE, o PS e o PSD).
Com isto, Pedro Passos Coelho contraria as críticas que pairam sobre a sua direcção, alegadamente escrava do aparelho - Nobre não participou no processo de angariação de votos interno, nem acompanhou o actual líder do PSD no roteiro da carne assada; além disso é um homem dedicado à causa da ajuda humanitária e este espírito aberto do PSD só lhe fica bem.
Vejamos: não haveria mal nenhum em que o ex-candidato presidencial aceitasse integrar a lista, mas fazê-lo depois de ter jurado que nunca aceitaria um ingresso partidário (ao mesmo tempo que protagonizava violentas críticas à partidocracia portuguesa) e sem consultar nenhum dos seus apoiantes mais próximos a Belém, revela uma lamentável falta de carácter.
Dito isto, o anúncio de que Nobre será investido na segunda figura da Nação, caso o PSD tenha a maioria, também significa correr um risco. O ex-candidato a Belém poderá aprender com facilidade as figuras regimentais de que dispõe o Presidente da Assembleia da República, mesmo sem nunca ter sido Deputado; pelo contrário, dificilmente limpará a nódoa do seu contorcionismo político.
10 comentários:
Ainda não consegui definir muito bem a minha posição quanto a este coelho que Passos tirou da cartola...
Por um lado percebo a ideia, a de provar que o partido não está fechado em si mesmo e que neste 'refrescamento' que agora procura pode incluir «homens de causas» que deram provas noutros campos que não o político... e percebo também a estratégia (que poderá sair gorada dado o que já se viu...), a de alargar o espectro de votantes para lá das fronteiras partidárias...
Mas depois, foram buscar um homem que tanto serve a Louçã como faz a vontade a (ex)dirigentes socialistas (não esquecer que foi Soares quem o «empurrou» para a disputa eleitoral...), que num dia faz violentas e populistas críticas à partidocracia (como bem referes no texto) e no outro não hesita em aliar-se a ela... não sem antes garantir, está claro, a sua verdadeira ambição: ser a 2ª figura de Estado, mesmo sem conhecer os meandros da Assembleia...!!
A ver vamos no que isto dá...
Gostaria de ver mais pessoas independentes que, independentemente dos partidos, estivessem disponíveis para participar na vida política.
Tenho pena que, sempre que aparecem, haja motivos para dizer que não são adequadas.
Eu nem votei Nobre nas presidenciais. Nem vejo problemas em que tenha apoiado diferentes partidos em diferentes ocasiões.Custa-me assistir à falta de respeito que existe relativamente a um homem de causas e de provas dadas fora da política.
Do PS, não me admira a violência das criticas. Estão em combate feroz e não olham a meios para atingir os seus fins. Mas do PSD? Porquê esta violência de alguns ilustres? Não percebo!
Espero que mais como Nobre apareçam na política portuguesa. Ajudam-nos a ser um pouco melhores.
Ser independente obriga a ter um fio condutor e a não cruzar linhas incompatíveis...
concordo com o GC
Dulce, vamos ver é se o tiro de Passos não lhe sai pela culatra, e a escolha de Nobre não prejudicará o PSD. As críticas chovem de todos os lados!
PP, não está em causa a carreira de Fernando Nobre nem a sua dedicação à ajuda humanitária. Porém, isso não o torna inimputável, muito menos quanto às suas incursões na política. Também gostava de ver uma participação maior de independentes na política e nos partidos. O PSD escolheu alguns que são adequados. Francisco Viegas, Abreu Amorim e Carlos Moedas serão certamente bons candidatos independentes pelo PSD. Nobre também o poderia ser, mas comprometeu-se com um discurso e um eleitorado que defraudou, sem sequer prestar contas aos seus apoiantes, sem sequer consultar o seu núcleo mais próximo. Isso fere a sua credibilidade e, pior ainda, a sua verticalidade.
Gonçalo, concordo! Infelizmente multiplicam-se os casos em que a condição de ser independente se torna uma espécie de diplomacia de interesses.
Quando o objectivo é Portugal, tenho maior dificuldade em ver linhas incompatíveis!
E o PSD está cheio de pessoas que cruzaram linhas ditas incompatíveis.
E alguns têm feito bom trabalho.
E esta questão é transversal a todos os partidos (talvez o PCP possa ser excepção).
Além disso, os partidos estão cheios de gente que seguem linhas incompatíveis. E os últimos anos de PSD demonstram perfeitamente isso (com muita pena minha).
Está certo, não é preciso dizer nada!
Como diz Pedro Rolo Duarte no seu mais recente post, "só não muda o que já morreu". Aplico este aforismo a Nobre, mas também à minha opinião sobre Nobre.
Nobre veio, na entrevista no Expresso, dar-vos mais razão do que a mim. Mas a filosofia de base de considerar novas pessoas nos partidos, independentemente das suas origens, continua a fazer sentido para mim.
É certo que a disponibilidade de ir numa lista e participar na democracia apenas enquanto Presidente da Assembleia, desilude-me.
Espero que os exemplos de Francisco Viegas, Abreu Amorim e Carlos Moedas apresentados pelo Diogo Gaspar sejam melhores.
1 - Não creio que Nobre tire votos ao PSD. Os que protestam jamais votariam na laranja...
2 - As linhas cruzadas por Nobre são intelectualmente incompatíveis por algumas razões:
2.1 O apoio ao BE foi recente e não há mais de 30 anos.
2.2. Embora o Dr. Nobre seja sério, o BE não é.
2.3. Concordar com a extrema-esquerda numa eleição europeia contraria parte essencial do ideário de PSD, que é europeísta.
"Concordar com a extrema-esquerda numa eleição europeia contraria parte essencial do ideário de PSD, que é europeísta."
Totalmente de acordo Gonçalo.
A frase mais inteligente que li até agora sobre esta telenovela em torno do Dr. Nobre.
Gonçalo, a escolha de Nobre é um tiro no pé de Passos Coelho. É quase unânime que foi uma má escolha e, nesse sentido, acredito que também influencie o eleitorado do PSD. Veja-se o que disseram Marcelo Rebelo de Sousa ou António Capucho. Quanto ao facto do candidato ter alinhado com o BE estou, como o Ricardo, de acordo. Um abraço.
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