Infelizmente, nunca fui e estou certo que jamais serei encartado com o Nobel da Economia. Porém, creio que tal não me impede de vos confessar que não compreendo parte do artigo de Paul Krugman (norte-americano que ganhou o Nobel em 2008) e que hoje faz eco na imprensa.
Resumidamente, numa coluna de opinião publicada no New York Times, P. Krugman diz que “cortar no défice com o desemprego alto é um erro”.
Percebo que na base do seu articulismo esteja implícita a ideia de ser fundamental estimular a economia através de reformas estruturais e que Portugal, tal como a Europa, têm fundamentalmente um problema de crescimento.
Contudo, parece-me que o Nobel se esqueceu que face à voracidade dos mercados e das agências de rating, Portugal não tem tempo para esperar pelas reformas de fundo e torna-se obrigatório agir já, combatendo o défice no curto prazo. E para isso a teoria é elementar e não há grande ciência.
O cardápio para fazer face a desequilíbrios orçamentais é conhecido e não é preciso ir a restaurantes finos o degustar. Infelizmente, o problema que temos actualmente é que, devido à voracidade e agiotagem dos mercados financeiros, a contracção de empréstimos para financiar dívidas (ou seja défice) já não é possível, porque ninguém nos quer emprestar dinheiro e quando o querem é a taxas proibitivas.
Não tenhamos dúvidas que o problema é deveras preocupante. Principalmente porque os empréstimos e juros que hoje se fala são, ou para financiar a máquina do Estado ou para pagar compromissos assumidos. Ou seja, não se trata de pedir dinheiro emprestado para financiar obras de investimento das quais as gerações futuras também venham a usufruir. Não há aqui qualquer princípio de equidade intergeracional.
De facto, enquanto o crédito nos mercados financeiros estava acessível havia “mais vida para além do défice” porque o prejuízo podia ser abafado. Esta era, e sempre foi a solução mais fácil para os sucessivos governos e restantes agentes políticos.
Mas voltando à teoria de 1.º ano numa qualquer licenciatura de Economia ou Gestão para combater o défice. Se pedir dinheiro emprestado já não é solução, podemos sempre vender os anéis, ou seja, património. Só que, com estes indicadores de dívida pública e externa creio que teríamos de vender o Algarve à senhora Merkel ou a algum fundo petrolífero para equilibrar as nossas contas.
Portanto, quem está a acompanhar estas linhas já percebeu que goradas as duas hipóteses anteriores, restam outras duas: aumentar a receita via carga fiscal; ou então reduzir a despesa pública.
E como a União Económica e Monetária, à qual Portugal pertence, proíbe os Estados membro de manterem défices acima dos 3%, a solução passa mesmo pela adopção das medidas descritas no parágrafo anterior, escreva Paul Krugman o que escrever.
1 comentário:
A solução que defende é no mais puro « keynesismo », enquanto a situação económica actual não corresponde desde há muito àquela que Keynes previu, isto é, para uma economia escaldante onde o consumo é elevado, o desemprego nulo, e a inflação é uma ameaça para a moeda nacional.
Neste caso, a arma fiscal, para fazer baixar o consumo, fazer baixar os preços e reduzir assim a inflação e criar um pouco de desemprego seria de facto , talvez, a solução. O problema é que não há inflação, ou pouca, apesar dos preços das matérias primas e da energia aumentarem , a produção estagna, porque não há consumo, o desemprego é elevado e os salários e pensões já são miseráveis.
As alavancas de regulação da economia de Keynes são inoperantes desde o choque do petróleo de 1974.
E a moeda nacional, que noutros tempos era utilizada como alavanca de competitividade nos países onde esta é fraca, e permitia de “activar” as exportações também não existe.
Nesta situação como é possível comprimir ainda mais os cidadãos ? Porque hão de ser sempre os mesmos que devem pagar a factura dos desmandos da economia liberal deixada ao abandono nas garras dos especuladores financeiros do planeta?
Em contrapartida, a solução alternativa seria de promover uma taxa de inflação um pouco mais elevada nos países excedentàrios, pois que é a divida dos Estados que preocupa os “financeiros” planetários. Uma taxa de inflação mais elevada permitiria aos países deficitários de recuperar a competitividade aumentando simplesmente os salários menos rapidamente que a inflação dos países excedentàrios. Isso seria possível sem chagar ao nível de desemprego de dois dígitos do qual sofrem os países como Portugal .
Alem disso, uma taxa de inflação mais elevada teria o mérito de erodir o valor real da divida dos países endividados assim como os proprietários de alojamentos que estão na mesma situação. E permitiria à economia de voltar mais rapidamente a um nível de crescimento normal.
O nível de inflação de 2% fixado pelo BCA é mortal, quando as economias dos países são tão disparates num mundo como o actual. Como é possível aplicar o mesmo medicamento a doentes que não têm a mesma estrutura física para absorver o tratamento?
A obsessão da inflação engendrou um terrível desastre económico e humano e custou provavelmente ao mundo mais de 10 mil milhões em perdas de produção pondo ao mesmo tempo dezenas de milhões de pessoas no desemprego. Esta calamidade chega para descreditar uma política que só interessa àqueles que possuem capitais imensos , e para quem uma moeda estável e uma inflação zero é primordial.
Para a industria financeira, uma subida mesmo modesta da inflação é inaceitável porque isso reduziria o valor das fortunas e o valor real das rendas que recebem sob a forma de dividendos.
E os Bancos Centrais fazem tudo para evitar esta situação, mesmo se o preço a pagar são os milhões de desempregados no mundo.
Freitas Pereira
Enviar um comentário