sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Djobi, Djoba


Ando há dias a ver a volta a dar ao texto… Percebi então que essa hesitação e a busca de eufemismos são em si sintomas pessoais da castração ética que atingiu as sociedades ocidentais em relação a assuntos que toquem minorias étnicas.

É certo que houve colonialismo e genocídios, mas tal não deveria implicar, desde que conservados o sentido de proporção e o bom senso, que se não possa reagir ante problemas concretos e geralmente detectados.

Nas sociedades ocidentais aguentamos atentados e surtos de criminalidade, mas depois parece que tememos a censura popular e o escrutínio dos media quando toca a contra-atacar. Neste comenos, enterramos a cabeça na areia e fazemos das forças de segurança pública o elo mais fraco do triângulo vítima-infractor-polícia.

Entendo mesmo que o caso se agrava em Portugal, mercê dos complexos de esquerda que chagam ainda a nossa sociedade, mesmo passados mais de trinta anos sobre o 25 de Abril (altura em que, presumo, a coisa ainda se compreendia). Basta ver a reacção da extrema-esquerda parlamentar, sempre que um qualquer desordeiro (basta que esteja matriculado algures, tenha mau aspecto e pareça fumar ou defender quem “fume umas coisas”) é, mesmo que apropriadamente, objecto de acção física por parte de uma força policial…

Cortando cerces os rodeios, tem isto a ver com a deportação de ciganos iniciada pelo governo francês.

Numa primeira abordagem, diria que a acção foi trapalhona, se não mesmo desastrada, pois, cedo ou tarde, a liberdade de circulação para os romenos (origem dos ciganos deportados) será total.

Na mesma passada, “estúpida” é a maneira mais branda que encontro para rotular a reacção da Comissária europeia, Viviane Reding, que comparou o caso às deportações da II Guerra Mundial (e não deve ser só ideia minha, já que a senhora e o Presidente da Comissão vieram com a tradicional varridela para de baixo do tapete; leia-se, foi um “mal entendido”).
Falemos com clareza e com base em alguns factos: a França é um país com alguns problemas desta sorte. A mais do caso sub judice, existe o problema de uma população ocidental envelhecida face à multiplicação geométrica da população islâmica nascida no país. Não que seja um mal em si, mas existem estudos que teorizam a hipótese de, em algumas décadas, haver uma maioria islâmica a votar para eleger o presidente gaulês.

Depois, creio que foi documentado o facto de, por vezes voluntariamente, estas comunidades arreigadamente nómadas viverem em condições da mais acabada insalubridade.
Em terceiro lugar, embora havendo casos de integração social perfeita de ciganos (e não creio que tenha havido problemas com estes), muitos membros destas comunidades recusam as regras (de ordem pública, de urbanismo, de ecologia, de fiscalidade, etc, etc…) dos seus anfitriões. E nem me venham com a história de que fazem parte dos países onde estão. Se assim é, mais uma razão para cumprirem as regras, dos rendimentos sociais a todas as demais.

Por fim, diga-se que existem problemas no combate à criminalidade cometida por membros desta comunidade. Quem não conhece alguém que teve medo de impedir um adolescente Roma de roubar um haver pessoal ou um supermercado com medo da represália dos mais velhos?

Quem nunca ouviu falar dos problemas das polícias em investigar delitos com esta autoria?
Quer isto dizer que todos os ciganos são criminosos? Jamais! Se calhar, a maioria não é, nem nunca será. O problema é que a cooperação pelos demais no combate aos episódios ocorridos é nula.

Resumindo: a solução para evitar radicalismos como o do caso francês é a aceitação de regras democraticamente aceites pela maioria, sem pôr em causa o direito à diferença cultural. Dito de outra forma, temos que deixar de viver em nações flácidas ou timoratas e de atar as mãos dos nossos agentes de segurança pública, desde que estes ajam com conta, peso e medida.

* texto da autoria de Gonçalo Capitão
foto d'aqui

5 comentários:

freitas pereira disse...

Excelente « post » e excelente analise do problema Roma francês. Pena é que Dulce não tenha “descoberto” que, o problema com essa etnia , não é de agora e houve mesmo alguns incidentes graves há dois anos. Mas sem duvida nenhuma, o facto que as eleições presidenciais sejam já dentro de 18 meses, e a necessidade absoluta para Sarkozy de recuperar a “clientela” da extrema direita de Le Pen, graças à qual ele ganhou as ultimas, ditou a urgência da acção contra os Roma AGORA !

A política dita “sécuritaire” de Sarkozy não visa outra coisa. Mas nunca a segurança das pessoas e dos haveres foi tão inexistente em França que durante este mandato sarkozysta !

freitas pereira disse...

Depois da minha reacção sobre o « post » de Dulce, gostaria, se a isso me autorizarem, de me estender um pouco mais sobre o assunto.

Como já disse, o Governo Francês decidiu, por motivos de oportunidade política bastante evidentes, “pôr lá fora” os Roms estrangeiros.

Escrevo Roms, porque em França é assim que se escreve. Mas poderia também escrever “Ciganos” como se diz na minha terra!

Rom vem de Rrom, em língua Romani ( amputado dum “r” em Francês), que significa “homem” no sentido do ser humano (Roma feminino; plural Romané) .

Povo sem tradição escrita, a cultura passa oralmente, a língua Romani falada pelos Roms e a genética indicam que são originários da região do Sinth, no norte da Índia, actual Paquistão e do Penjab , e abalaram para o oeste por volta do ano 1000 AC, para fugir a sociedade brâmane da índia que os rejeitava e os tratava como intocáveis ( já estão habituados a que os olhem de avesso !)

Chegaram à Europa, via a Turquia, no XIV século, após as invasões dos Tártaros e Tamerlao, e instalaram-se no império Bizantino ( onde lhes chamavam Ατσίγγανος , Atsinganos, não tocados, do nome duma seita pré-islàmica desaparecida, os quais recusavam o contacto físico.

Isto explica a presença actual nos três principais países Rom - Bulgària, Roménia e Hungria, e nos Balcãs (ex-Yougoslàvia).

As profissões exercidas pelos Roms iam dar-lhes outros nomes – ferreiros e caldeireiros - Γύφτοs, V Gypsies , em inglês, Gitano em espanhol, Gitan em Egípcio e Francês .
O rei da Boémia ( Tchéquia actual) permitiu-lhes a libre circulação na Europa, e dai as “Boémias” !

Gente com pouca sorte, devendo fugir em permanência como os judeus errantes durante séculos.

Como os judeus, também os Roms foram exterminados pelo Hitler,à volta de 500.000, e praticamente 95% para os ciganos alemães !.

A maioria dos Roms de França são Franceses e aqui instalados há séculos, e por isso Franceses muito antes do Sarkozy .(Curiosamente, o chefe da etnia Rom na Hungria, chama-se ..Sarkozy !)

Eles adoptam os nomes e a religião do pais que os acolhe : Católicos, em França, Protestantes, na Alemanha, Muçulmanos na Turquia, etc.
Um dos meus colaboradores da firma onde trabalhei era Rom. So o soube quando o convidei a almoçar na minha casa !
Sem esquivar o problema da delinquência, devemos dizer o seguinte:
As causas primeiras são a pobreza e a precariedade do emprego, que toca também os não Rom, o fraco nível de instrução que impede de pretender às profissões mais remuneradoras. Mas isto seria um parágrafo muito longo.

Dulce disse...

Caro Freitas Pereira,
antes de mais, «o seu a seu dono»: o texto é da autoria do Gonçalo, por lapso meu não fiz essa referência ao (re)publicá-lo!
Mas estou certa que o autor virá aqui rebater a sua sempre benvinda opinião. :)

Gonçalo Capitão disse...

Meu Caro Freitas Pereira

Saudando o seu regresso, não posso deixar de discordar da parte final da sua soberba prosa.

Os culpados da discriminação são, ab initio, os próprios ciganos que, em largo número, se excluem do "circuitos" laboral e social convencionais!

Acresce que nenhum mal adviria daí se não vampirizassem prestações sociais da sociedade cujas regras rejeitam. Ademais, a sua colaboração para punir os abusadores e criminosos é nula!

Não digo com isto que todos os ciganos sejam assim, mas o problema é real e não se resolve com a tradicional desculpa da opressão ocidental.

Um grande abraço

freitas pereira disse...

Desculpe Caro Amigo, de tomar mais um bocado de espaço do seu excelente blog.

Sabemos todos que os Roma estão implicados mais que outras etnias na delinquência.

Sabemos também que não se integram facilmente na nossa sociedade. Sabemos que aproveitam as nossas leis sociais tanto como as outras etnias que chegam de todas as partes do mundo. Mas sabendo que eles são mais ou menos 12 milhões na Europa, e que a abertura do espaço Schengen lhes permite viajar na Europa, a expulsão parece me contrária aos fundamentos mesmo da EU , E SEM RESULTADO DEFINITIVO.

Mas o fundo do problema encontra-se no facto que estes 12 milhões de indivíduos são parias mesmo nos países de origem- Roménia, Bulgária e Hungria.
Países onde os governos respectivos “sacodem o capote” deixando aos países ocidentais a responsabilidade do acolhimento deste povo.

Pretendo portanto que se trata dum problema europeu, e não nacional, que as autoridades europeias devem tomar as medidas necessárias para integrar este povo nos seus países de origem. Financiando sem duvida a integração, mas com um controlo efectivo da utilização dos meios financeiros .

Mas a expulsão não resolve nada, porque a libre circulação permite o regresso daqueles que foram expulsos, sobretudo quando se sabe de que maneira eles são tratados nesses países.

A educação deste povo é a chave da integração. Esta será muito mais fácil nesses países que nos nossos. Sobretudo quando se sabe de que maneira são considerados os ciganos nos nossos países ocidentais, devido à sua reputação ancestral

Por outro lado, vê-se bem que o mal estar europeu é profundo e o assunto dos Roma é sintomático de dinâmicas subterrâneas onde tudo se entrechoca : globalisaçao-laminagem, medo do amanha, rejeição do estrangeiro, choque das culturas e mesmo das civilizações.

Os elos fracos são , actualmente, primeiramente os imigrantes, depois os Roma que parecem incomodar a Europa.

A Europa, foi capaz em 1945, de criar as condições para a instalação do povo judeu. Mesmo se aparentemente as dificuldades são grandes ainda, a base da sua integração no Médio Oriente existe.

Ora os Roma , são inferiores, em numero , aos Judeus, no fim da guerra.

Quaisquer que sejam as razoes evocadas para os lançar no inferno das minorias, o futuro desta gente será cada vez mais problemático se não se fizer nada.
A dignidade não sendo um produto mercantil, não encontra nenhum comprador nem mesmo um filantropo . O verniz da tolerância dos Direitos do Homem explode.

Senão, temos de admitir que Nietzsche tinha razão ;” Neste XXI século, “perecem os fracos e os falidos”


Um grande abraço Amigo.