sexta-feira, 2 de abril de 2010

Os doze passos de Coelho

Depois da sua categórica vitória e usando a deixa de Asterix, creio que Pedro Passos Coelho tem que encontrar a sua poção para tornar o PSD numa alternativa credível e em que também o imenso eleitorado flutuante possa rever-se. Por simpatia de arrumação lógica, eis os seus doze trabalhos ou passos:

1.º - Persuadir o eleitorado de que, agora sim, alguém tem um projecto que resolve (e não remedeia apenas) os problemas de Portugal. É uma sensação que já não percorre os eleitores desde a primeira eleição de José Sócrates, em 2005. A diferença cifra-se em conquistar o poder e a disponibilidade da sociedade para a mudança ou esperar que o PS perca as eleições, recebendo o poder por “K.O. técnico” do adversário, sem entusiasmo do eleitorado.

2.º - Definir um modelo ideológico e, logo, um ideal social. Temos que explicar às pessoas o que queremos fazer com o seu voto, antes de lho pedirmos; esta foi uma máxima que escutei a Passos Coelho, em 1991, e que creio fazer todo o sentido, mormente quando a falta de clarificação ideológica do PSD tem dado margem de crescimento a um CDS que, não descurando alguns traços conservadores, se assenhoreou do espaço liberal clássico.

3.º - Para isso, entendo que deve repensar o Instituto Sá Carneiro, convertendo-o num gabinete de estudos que, mais do que ser chique e mediático, elabore doutrina e planos de acção para o partido, mas sem se metamorfosear num feudo de jovens “cientologistas” (uso o termo deliberadamente) da política, que o transformem numa célula de propaganda e de emprego para os amigos ou num Cavalo de Tróia, onde se acoitam reservistas para um domínio perpétuo do PSD. Deve tratar-se de uma estrutura com método, mas aberta ao caos próprio do pensamento criador, e aberta a todos sem excepção (quem avisa… ).

4.º - Olhar criteriosamente para os estatutos do partido, clarificando sem margem para dúvida quais as suas opções em matérias cruciais como a eleição directa do presidente e a disciplina, entre outras.

5.º Constituir uma equipa dirigente que faça o equilíbrio entre os capatazes e os arquitectos; ou seja, premiando quem arregimentou votos, mas não desprezando os que gostam de pensar a política sem que tenham, por razões variadas, militantes a toque de caixa (vale a pena fingir que os não há?!).

6.º Concomitantemente, terá Passos Coelho que domar os ímpetos pós-revolucionários. Quero eu dizer que não será fácil conter alguns generais e coronéis do seu exército, que terão vontade de fazer rolar cabeças. Há gente importante para o PSD e para Portugal no terço de militantes que não votou novo premier laranja, havendo que resistir à medíocre tentação do tiro à elite, que alguma rapaziada distrital (não, que saiba e felizmente, em Coimbra) nutre. O tempo é de conciliar, mesmo que, no mandato anterior, os ditos barões (também em Coimbra) tenham visto o PSD como uma coutada pessoal.

Para a semana, terminaremos a saga.

5 comentários:

luis cirilo disse...

A saga para já promete.
e devo dizer-te que estou inteiramente de acordo com os pressupostos que estabeleces para que a liderança de PPC possa ter sucessso.
Creio que ele ou marca a diferença, a começar já no próximo fim de semana,ou então será mais um introito até que das areias da nova Alcácer Quibir se erga o D.Sebastião pelo qual o PSD há muito anseia.
E esse erguer já tem data marcada:
Logo a seguir á previsivel reeleição de Cavaco Silva.
Por outras palavras:
Ou PPC daqui a menos de um ano tem as "pontas" atadas e lidera um projecto galvanizador ou então Rui Rio lá terá de fazer o "sacrificio" de descer á capital correspondendo ao apelo de capatazes e arquitectos para usar a tua feliz expressão.
Ambos sabemos que é asim que vai ser se PPC falhar.
A minha esperança é que não falhe.
E que tal como das janelas do Vaticano,noutro contexto, possamos exclamar "Habemus Lider".
Assim seja !

luis cirilo disse...

Essa dos capatazes e arquitectos é melhor que boa.
É genial!

Gonçalo Capitão disse...

:) Obrigado, Luís. Na semana que vem, publico mais seis "passos". Abraço.

Luis Melo disse...

Discordo Luís,

Rui Rio não é "cão de fila" de ninguém. Não fará "sacrifícios" por ninguém, muito menos por esse grupo de elite lisboeta.

Quando o PSD (as bases) precisar poderá chama-lo. Para presidente, vice-presidente, primeiro-ministro, ministro, presidente de câmara, etc.

Não anda a soldo de nenhum grupo de baronetes...

luis cirilo disse...

Caro Luis.
Sei bem que Rui Rio nao faz fretes.
MAs tambem sei que vao tentar com que ele avance.
A ver vamos