terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A farsa

Depois de termos pensado um pouco sobre o que quereria dizer o episódio de alegada censura em torno de um artigo de Mário Crespo, eis que o “Sol” – que me aparece como uma fusão de “Tal & Qual” com “Independente” – nos revela escutas “laterais” do processo “Face Oculta” (o tal das sucatas), nas quais Armando Vara, Paulo Penedos e um administrador da PT, supostamente, debatem um plano de José Sócrates para adquirir o grupo detentor da TVI (através daquela empresa de telecomunicações, onde o Estado detém uma posição privilegiada) e, assim, silenciar noticiários adversos.

Ora bem, a primeira coisa que se me oferece dizer é que estamos atolados em processos e suspeitas. Mal vai um país que, a mais de estar em mau estado no que ao nível de vida respeita, ainda vive sem respeito e sem sentido.

Depois, em sede de abordagem política, creio que os partidos da oposição só podem mesmo acreditar que todos “nascemos ontem”. Vale isto por dizer que só mesmo em delírio ou ataque agudo de toleima podem os demais partidos pensar que a coisa se resolve com uma declinação da tradicional dicotomia “céu versus inferno”... Seria assim estilo “o Sócrates é mau”, mas todos nós (leia-se, PSD, CDS, PCP, BE e o inútil PEV) “somos bons e redentores”. Como se diz na América: “for God’s sake” (em bom português podemos sempre bascular entre um salvífico “pelo amor de Deus” ou um zoófilo “vão dar banho ao cão…).

A verdade é, senhoras e senhores, meninas e meninos, que se poderá ter passado pelos corredores do PS a ideia de amainar as noites televisivas de sexta-feira (o que, sendo verdade, é assunto sério) não menos se poderá dizer que o súbito ataque de pudor da oposição e subsequentes projectos de audições em sede de Comissão Parlamentar de Ética (parece ter ficado de fora a ideia de uma comissão de inquérito) também são fruto da sede de exposição mediática; resta saber se a dita o medo de que depressa se acabe o pluralismo informativo ou mesmo a tradicional ideia de que “apareço, logo existo”. Vou pela última hipótese…

De uma ou de outra, que vos não resta dúvida de que os “auditados” vão repartir-se entre o “sim, fomos muito pressionados” e o “não, não sentimos nada disso”…

Se não acreditam na minha acidez analítica, a ver vamos se não serão as “vedetas” de cada grupo parlamentar a protagonizar as inquirições. Ou julgava que seriam os anónimos deputados que fazem quórum na Comissão que iriam ter a sua hipótese de mandar beijinhos lá para casa?! Nada disso! Já quando eu passei por São Bento, sempre que o assunto envolvia câmaras de televisão lá vinha o estado-maior (lembro-me, por exemplo, da demissão do Ministro Pedro Lynce). A única excepção que me ocorre ocorreu aquando da saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI; aí, suponho eu que devido ao incómodo, não havia ninguém com vagar para questionar Pais do Amaral (então, patrão da TVI e restante grupo).

Nesta fase, o que se perde é a capacidade de separar o que é judicial (e que deve ter o seu curso nos tribunais, doa a quem doer) e o que é carnaval…

E continuamos entretidos pela saga justiceira dos partidos, rezando para que nos façam esquecer de que, lá para Março (creio eu), os juros do crédito à habitação voltam a subir. De todo o modo, os bancos não se esquecerão…

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