Tal é a paranóia em torno da corrupção, que estou a ver muito neto, neste Natal, a acusar os avós perante o Dr. Pinto Monteiro, se o presente for um cheque ou dinheiro vivo…
Creio que, com culpa das magistraturas, estamos a induzir nos cidadãos um sentimento de putrefacção política e social inaceitável. Dito de outro modo e à maneira popular, das duas, uma: ou estamos perante uma vaga de corrupção sem precedentes, ou o caso ainda é pior e teremos que decidir entre uma inaceitável incompetência e um lodoso (exacto, não quis dizer doloso…) calculismo por parte das magistraturas.
Vamos por partes, todavia… Se optarmos pela primeira hipótese (e, com franqueza, acho que a resposta certa envolve um misto das duas), nada há de novo. Apenas se verifica que os políticos e os empresários, a mais da escala maior em que transaccionam, não são melhores do que o seu povo, pois dele emanam. E, aqui, tenho que repetir que me parece que se não estivéssemos na União Europeia, estaríamos a gerir um caos auto-subsistente como o que vi, há anos, na Albânia; sem desprimor para o valente povo do País das Águias, costumo dizer que somos “albaneses com dinheiro”, e mesmo este é cada vez mais escasso.
De resto, é o fado que se conhece: agimos de forma egoísta, desejamos a desgraça dos bem sucedidos, invejamos o vizinho e vivemos mais ocupados a tentar contornar a lei do que a pensar na bondade ínsita no seu cumprimento, designadamente dobrando uma nota à laia de gorjeta ou oferecendo algo mais em jeito de suborno. Isto, claro está, sem mencionar que somos o País onde a cunha é uma instituição. Assim sendo, como podemos esperar, no paraíso da esperteza saloia, que os nossos políticos e os nossos empresários não bebam desta fonte centenária?!
Contudo, e eis a segunda hipótese, no mais recente caso mediático - “Face Oculta” – não deixa de ser estranha a forma como, depois de uma investigação exemplarmente sigilosa pela Polícia Judiciária, se começam a divulgar a conta-gotas informações que lançam suspeitas sobre o Primeiro-Ministro. Sendo do PSD, estou à vontade para dizer que o cheiro a esturro sai por duas frestas: por um lado, não se entende este desejo de que o caso arda em lume brando, canalizando a informação em penosas e morosas prestações. Por outro lado, cientes de que a lei obriga à intervenção do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, a hierarquizada (o adjectivo está aqui propositadamente!) magistratura do Ministério Público não só não contém as fugas de informação, como não as pune eficazmente; aliás, não as pune de forma alguma…
Não fora eu achar que ainda não estamos nesse grau de mesquinhez e pareceria que estamos a caminho de uma variação perigosa da democracia, para a qual alguns teóricos já alertaram: a república dos juízes e dos media.
Seja como for, cuidado com os presentes de Natal e, sobretudo, não fale deles ao telefone…
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