Continuando o meu “diagnóstico” pessoal (mais um pouco e teremos que escrever “autópsia”…) sobre o PSD, entendo que há dois pólos claros de responsabilidade: a “corrupção activa” e a “corrupção passiva” (para usar termos da nossa triste moda…) da missão de um partido político democrático e a venda a pataco da ideologia social-democrata (para o efeito poderia tratar-se de qualquer outra, aliás).
Do lado activo, destaco dois focos de infecção: por um lado, a já debatida conversão das distritais e concelhias em sociedades anónimas de votos, com distribuição de cadeiras proporcional aos votos cacicados. Contudo, aqui chegados, não me interpretem mal: sei bem que as vitórias, mesmo as de figuras conceituadas, sempre se fizeram com a inclusão de caciques nas campanhas e com a mobilização em massa de grupos de militantes. O que contesto é o atraso na forma – Obama utilizou as novas tecnologias como meio de quebrar os custos de intermediação e de dar mais poder a cada apoiante, individualmente considerado – e o soldo que hoje é devido a estes “fantasmas” cujo nome nem se chega a saber, mesmo quando se arrastam pelo Parlamento, pelas câmaras municipais ou por quaisquer outros “abrigos” de luxo. Ganhar a liderança do PSD é, hoje e quase só, uma questão de regateio.
Por outro lado, contesto também o relativo aroma a naftalina que exala a presença de algum baronato. Sempre entendi que as elites do PSD eram preciosas e que o sucesso do partido vinha, em larga medida, do seu propalado interclassismo. Aprendi muito com nomes consagrados da política e da academia e ainda hoje agradeço esse privilégio, de que muitas das gerações mais recentes não desfrutaram, mercê da agonia da vida e do debate interno que percorriam as sedes partidárias até à segunda metade dos anos noventa.
Todavia, entendo que muitas das verdadeiras elites já se retiraram de cena, permanecendo um misto de algumas que assumem um papel de “senhorias” do partido e de pessoas que pretendem tomar os lugares que, entretanto, vagaram no camarote laranja. O maior problema é que toda esta gente – que continua a ter o seu relevo, já que condeno qualquer forma de populismo – terá que perceber que, guardando os ensinamentos de Sá Carneiro e a saudade do sucesso de Cavaco Silva, os tempos são outros, os temas em debate mudaram, a vida das pessoas está submetida a uma forma de ditadura bem mais opressiva e imperceptível do que a do Estado Novo (falo da voragem financeira e da vertigem consumista actuais) e a próprio receptor da mensagem política mudou, enquanto ser humano (a concentração e o interesse são menores e forma de comunicar pelos media tem que ser cirúrgica).
Resta falar da responsabilidade dos próprios militantes e simpatizantes, algo a que voltarei.
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