quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Campanhas e piranhas

Há muito que nos habituámos a ver as campanhas eleitorais como um lodaçal em que partidos e candidatos trocam acusações, mostram rostos conhecidos (e mentes ausentes, se nos lembrarmos de Carolina Patrocínio…) e fazem promessas que ou simples e descaradamente não cumprem, culpando o Governo de outro partido que o os tenha antecedido, ou nem sonharam cumprir, porque nunca governarão (PCP) ou porque sabotar é a sua forma de estar na vida (BE).

É, por isso, com simpatia que vejo a decisão tomada pelo PSD de acabar com os comícios, caravanas e brindes. A mais do atentado ao desenvolvimento sustentável, as canetas, sacos e aventais com que os partidos soterravam os transeuntes constituíam pura intoxicação, não acreditando eu que um só voto tenha mudado em função de uma dessas ofertas (mau fora) ou sequer que uma delas tenha servido ao seu detentor como imprescindível lembrete para o dia eleitoral.

Numa altura em que as fontes de informação excedem em muito aquelas que estavam disponíveis acerca de quinze anos (quando fui, pela primeira vez, candidato à Assembleia da República), não faz sentido complementar imagens televisivas e documentos disponíveis na Internet com uma parafernália de objectos, regra geral de qualidade lamentável.

A única dúvida que ainda paira no meu pensamento prende-se com o grau de genuinidade da decisão de acabar com os comícios. Não será uma forma encapotada de disfarçar a falta de capacidade de mobilização dos partidos portugueses?!

Bem sei que as pessoas estão mais comodistas e que podem escutar as palavras daqueles que lhes pedem o voto na televisão, na rádio ou na Internet, sem saírem do conforto do lar!... Porém, também sei que os comícios eram uma ocasião magna para escutar de fio a pavio as propostas e as ideias (estou a ser benevolente, bem sei…) das mais conhecidas personalidades da freguesia, concelho ou mesmo do País. Aliás, se fossem inúteis, fica por perceber por que é que, por exemplo, o PSD afirma não realizar comícios, mas promete sessões em auditórios! Isto se não houver daquelas jantaradas de lombo assado, em que as mesas ajudam a preencher o chão dos pavilhões…

O meu ponto é simples: bem podem os partidos portugueses propor o fim dos comícios e brindes (PSD), o fim dos cartazes gigantescos na via pública (CDS) ou dar-nos fruta sem caroços (se o PS der o Ministério da Educação à empregada de Carolina Patrocínio, como é da mais elementar justiça), pois o essencial reside na credibilidade que lhes é atribuída e na fiabilidade das suas propostas.

Fazer figura de “santinho(a)” não ajuda, enquanto os eleitores persistirem em ver a maioria dos candidatos como um cardume de piranhas à espera do seu naco de poder. E nem se diga que os eleitores é que não se interessam (que o diga a, para mim, triste subida do Bloco de Esquerda que, para vergonha pessoal, está à beira de eleger um deputado por Coimbra)… E não se tente passar a ideia de que jamais haverá mobilização de massas, nos dias de hoje; a campanha de Obama prova o contrário…

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