Se por um lado é a CDU que avança, com toda a confiança – assim diz o respectivo slogan eleitoral – por outro, foi o BE quem saiu das eleições a cantar de galo.
A corroborar o sucesso de um discurso populista e, acima de tudo, moralizante (para a usar a definição de Clara Ferreira Alves, há umas semanas, no Eixo do Mal de Nuno Artur Silva) está, desta feita, o sucesso eleitoral do passado dia 7 – três deputados eleitos e a categoria de terceira força política nacional. Com dez anos de história e raízes que são a dos pequenos grupos políticos extremistas do PREC, mergulhados no exemplo de romanescos regimes autoritários e muito longes de obter qualquer expressão eleitoral significativa aquando da fundação da III República Portuguesa, o BE alimenta a curiosidade de muitos. Sobre o seu estilo já têm escrito o João Pedro, a Dulce e o Capitão da casa.
Abanão constante da vida política portuguesa, abdicando muitas vezes de falar de políticas, para falar de pessoas (ainda que Miguel Portas ou Ana Drago façam muitas vezes a alternância), o Bloco, sob a voz inflamada do seu líder, protagoniza acusações violentas, ora directa, ora indirectamente. Ainda ontem, Sábado, na senda das duras críticas que fez ao grupo dos economistas – todos eles de pouca fama, diz Louçã – que promovem o manifesto e o fórum Reavaliar Investimentos Públicos (à Antena 1 Louçã não falou nem de investimento público nem de endividamento externo, certamente por motivos ideológicos), não deixou escapar o comentário de que Cavaco Silva não aprendia com o que as bolsas lhe tinham feito – uma espécie de provocação à imagem de que goza o Chefe de Estado. Nesta soma "verdades" de que se acham donos, os responsáveis pelo BE, retomam, no entanto, propostas velhas e pouco criativas. João Marques de Almeida abordava, a 9 de Março no Económico, a crença inabalável na nacionalização da banca [e do sector energético, acrescente-se] como a melhor solução económica para o País (e a avaliar o discurso do BE, as razões estão na classe dirigente). Almeida previa assim o início do caminho que levaria ao fim da economia de mercado e da liberdade económica. E dá o exemplo da indústria alimentar, ensaiando o argumento ‘não se admite que haja capitalistas a ganharem dinheiro à custa da alimentação’, em que o Estado seria, “ao fim de poucos anos [e comprovam-no os exemplos históricos] incapaz de assegurar a existência de bens alimentares”. Ressalvando-se, claro, a elite tradicional de um Estado oligárquico.
Mas voltando ao estilo, é também importante averiguar ampliação que sofreu a mensagem bloquista. Se por um lado a sedução dos mais desfavorecidos é previsível (tenha-se em conta o desemprego crescente), bem como de uma boa parcela de jovens que, assim como eu, não auguram um futuro pleno de oportunidades, o BE comporta agora novos eleitores, provenientes de outras áreas políticas e com diferentes funções sociais. A classe média descrente na política (quase toda), mais abstencionista que votante, e que o Bloco já apaixona, sente-se como que parte de um discurso turbulento e impiedoso, face à elite económica e até política que, neste Estado da Arte, é assumida como um sector terceiro e dividido de todos nós – intolerável numa Democracia (em teoria o governo do povo pelo povo). A classe média descrente, demitida do seu papel cívico e interventivo, fica como que satisfeita, sentindo que o inefável verbo do Xico fez por si só, o papel de fiscalização que ela própria não faz.
Para concluir faça-se a ressalva - muitos políticos dão de barato (possibilitando) este discurso moralista. Isto é, muito boa gente, alimenta a descrença que se converte em votos no BE. E assim sendo, resta-nos constantar que, de cimento ou não, o Bloco vai durar...
A corroborar o sucesso de um discurso populista e, acima de tudo, moralizante (para a usar a definição de Clara Ferreira Alves, há umas semanas, no Eixo do Mal de Nuno Artur Silva) está, desta feita, o sucesso eleitoral do passado dia 7 – três deputados eleitos e a categoria de terceira força política nacional. Com dez anos de história e raízes que são a dos pequenos grupos políticos extremistas do PREC, mergulhados no exemplo de romanescos regimes autoritários e muito longes de obter qualquer expressão eleitoral significativa aquando da fundação da III República Portuguesa, o BE alimenta a curiosidade de muitos. Sobre o seu estilo já têm escrito o João Pedro, a Dulce e o Capitão da casa.
Abanão constante da vida política portuguesa, abdicando muitas vezes de falar de políticas, para falar de pessoas (ainda que Miguel Portas ou Ana Drago façam muitas vezes a alternância), o Bloco, sob a voz inflamada do seu líder, protagoniza acusações violentas, ora directa, ora indirectamente. Ainda ontem, Sábado, na senda das duras críticas que fez ao grupo dos economistas – todos eles de pouca fama, diz Louçã – que promovem o manifesto e o fórum Reavaliar Investimentos Públicos (à Antena 1 Louçã não falou nem de investimento público nem de endividamento externo, certamente por motivos ideológicos), não deixou escapar o comentário de que Cavaco Silva não aprendia com o que as bolsas lhe tinham feito – uma espécie de provocação à imagem de que goza o Chefe de Estado. Nesta soma "verdades" de que se acham donos, os responsáveis pelo BE, retomam, no entanto, propostas velhas e pouco criativas. João Marques de Almeida abordava, a 9 de Março no Económico, a crença inabalável na nacionalização da banca [e do sector energético, acrescente-se] como a melhor solução económica para o País (e a avaliar o discurso do BE, as razões estão na classe dirigente). Almeida previa assim o início do caminho que levaria ao fim da economia de mercado e da liberdade económica. E dá o exemplo da indústria alimentar, ensaiando o argumento ‘não se admite que haja capitalistas a ganharem dinheiro à custa da alimentação’, em que o Estado seria, “ao fim de poucos anos [e comprovam-no os exemplos históricos] incapaz de assegurar a existência de bens alimentares”. Ressalvando-se, claro, a elite tradicional de um Estado oligárquico.
Mas voltando ao estilo, é também importante averiguar ampliação que sofreu a mensagem bloquista. Se por um lado a sedução dos mais desfavorecidos é previsível (tenha-se em conta o desemprego crescente), bem como de uma boa parcela de jovens que, assim como eu, não auguram um futuro pleno de oportunidades, o BE comporta agora novos eleitores, provenientes de outras áreas políticas e com diferentes funções sociais. A classe média descrente na política (quase toda), mais abstencionista que votante, e que o Bloco já apaixona, sente-se como que parte de um discurso turbulento e impiedoso, face à elite económica e até política que, neste Estado da Arte, é assumida como um sector terceiro e dividido de todos nós – intolerável numa Democracia (em teoria o governo do povo pelo povo). A classe média descrente, demitida do seu papel cívico e interventivo, fica como que satisfeita, sentindo que o inefável verbo do Xico fez por si só, o papel de fiscalização que ela própria não faz.
Para concluir faça-se a ressalva - muitos políticos dão de barato (possibilitando) este discurso moralista. Isto é, muito boa gente, alimenta a descrença que se converte em votos no BE. E assim sendo, resta-nos constantar que, de cimento ou não, o Bloco vai durar...
3 comentários:
Diogo
Creio que falta um passo na tua análise: o BE benificia de tanta atenção dos eleitores descontentes não apenas por ser uma forma de protesto (é um partido de protesto), mas também porque, sendo contra-sistema, goza do favor dos media que, cada vez mais, querem ser um poder que confronta os poderes democraticamente legitimados.
Junte-se-lhes a camada jovem urbana e pseudo-irreverente, que só sabe ser do contra "porque sim", porque estão convencidos que isso lhes fica bem, um bocadinho «a la geração rasca».
Por exemplo, têm coragem (para não recorrer a um outro vocábulo de foro hortícola)para não usar gravata quando a coisa assim exige (uiiii,que atrevimento!!)mas depois, falta-lhes coragem para optar, para debater ideias ou para enxergar ideologias. Aí, optam pelo caminho fácil, o de contrariar por contrariar, de maldizer por dá cá aquela palha, de contestar porque outra coisa não sabem fazer. E acham-se os maiores. Enfim, chega a meter dó...
Diogo, de resto, não faria melhor análise.
Errata:
"beneficia" e não "benificia".
Enviar um comentário