quinta-feira, 26 de março de 2009

A novela e a vida real

O que é que as telenovelas tem a ver com fertilidade e natalidade? E com divórcios? Enganam-se aqueles que responderam "nada". A penúltima edição da The Economist traz um resumo de um estudo recente que concluiu que no Brasil as novelas tiveram relevante influência no comportamento dos brasileiros. Se foi influência positiva ou negativa, isso já depende dos pontos de vista...

Segundo o estudo, a taxa de fertilidade no Brasil caiu, ao longo das últimas décadas, de 6,3 filhos por mulher para 2,3 no ano 2000. O impacto nos divórcios pode ser menos relevante, mas não deixa de ser espantoso. Se em 1984 ocorriam 3,3 divórcios por cada 100 casamentos, em 2002 essa taxa rondava os 17,7.

Claro que não se pode fazer da Rede Globo o bode expiatório do decréscimo da fertilidade e um considerável aumento nos divórcios, mas o facto é que as telenovelas difundiram estilos de vida mais apetecíveis(ou não...). Em 115 novelas analisadas, 62% das personagens femininas principais não tinham filhos, sendo que 26% eram infiéis. E foi assim que as mulheres emancipadas, as famílias monoparentais, a crítica aos papéis e valores tradicionais, a aspiração à classe média e determinados padrões sociais difundidos nas novelas deram uma "mãozinha" nas mudanças sociológicas.

Isto dá que pensar sobretudo quando atentamos à TV portuguesa que, bem sei, não é pior que as vizinhas espanhola e italiana. Deste lado do Oceano também consumimos muita Rede Globo, e não nos contentando com isso, lançamo-nos em ficção sem qualidade, programas medíocres, violência televisiva, programação que desinforma, que deseduca, que foge aos seus fins.

Há honrosas excepções e sim, há quem faça esforços, veja-se a televisão pública e o trabalho que tem feito com o seu Provedor. Também o quarto canal melhorou a olhos vistos quando desistiu de nos impingir reality shows, fiéis e infiéis e outros tipos de lixo televisivo. Mas, feitas as contas, isso não chega. As novelas e os ocos talk show's ocupam as tardes e as noites das tv's e os portugueses consomem fraco alimento.

Sendo incerto que isso afecte a taxa de natalidade ou os divórcios por cá, certo é que continuamos a menosprozar a influência que a televisão tem em nós, pior, insistimos em não aproveitar as potencialidades da caixinha mágica para educar e (in)formar o nosso povo.

1 comentário:

Luis Melo disse...

Independentemente de ter muita ou pouca influência na sociedade, desde sempre me irritaram as novelas. Pelo simples facto de que trazem sempre a mesma história.

Vejamos: Há sempre a familia rica e a familia pobre. A familia rica é sempre muito rica, tem mordomos, empregadas e motoristas. Um dos filhos da familia rica apaioxona-se pela filha da familia pobre. As familias não aprovam. A familia rica tem sempre uma empresa, onde trabalha alguém da familia pobre. Há relações de prepotência, de discriminação. Há intriga, há crime e corrupção. Há sexo e muita infidelidade.

Enfim... já chega... mas é sempre assim.