quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

As ruínas de Coimbra

Se eu já achava que Coimbra entrara numa era de penumbra cultural – porque à minha cidade não basta um programa cultural, devendo, isso sim, ter “O” programa cultural devido a uma capital do saber – a novela em torno dos achados arqueológicos do Convento de S. Domingos vem a atestar que, das direcções regionais à lucidez da gestão patrimonial, tudo se esvai da nossa Cidade, numa sangria que me faz ter pena de não ter sido suficientemente competente para fazer a via sacra das ascensão partidária local ou de ter relevo quantitativo (leia-se, feitio de cacique) para condicionar as escolhas internas do PSD; outro galo cantaria…

Como o que me resta é a pena, cá vai a opinião de alguém que procura entender a leviandade com que o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) e a Direcção Regional da Cultura do Centro (dada a pilhagem ao estatuto de Coimbra, é de crer que este organismo ainda esteja cá por mero esquecimento) autorizam a prossecução da construção de um parque de estacionamento que arrasará, para sempre, os vestígios de um centro cultural de excelência, datado do século XIII.

Dizem-nos que se desconhece o estado de conservação, que está a oito metros de profundidade e que, por isso mesmo, há riscos na escavação.

Ora, vamos por partes: em primeiro lugar, deve saber-se que não sou um inimigo do progresso. Creio que não pode sacralizar-se qualquer calhau, obstando ao desenvolvimento de uma terra. Não obstante, também leio que não tratamos propriamente de uma casa de cantoneiros da extinta JAE, mas sim de um relevante edifício dominicano.

Depois, cumpre saber se não resta mesmo outro lugar para o parque de estacionamento… Será que não há, ainda que um pouco menos central (ou seja, afastado da Avenida Fernão de Magalhães), terreno que possa compensar a ala do betão?!

E se há risco na exploração arqueológica do achado – que creio não poder considerar-se irrelevante também pelo facto de ainda não estar suficientemente estudado – por que não conservá-lo intacto até que os meios tecnológicos permitam outra perscrutação?

O problema é que, depois de lá estar o dito parque, a memória será não a da História, mas sim a dos responsáveis por mais um acto de acriticismo cultural e de óbvia ganância.

Da parte da Câmara Municipal, não duvidando das boas intenções (desde logo, combatendo o flagelo da falta de estacionamento), pergunto apenas se não poderá ser feito algo mais…

O Convento é da Idade Média e esta decisão não parece mais “iluminada” do que isso… Dá pena ver Coimbra assim…

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