quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A 11 metros do alvo

Diz-se que, no momento de cobrar uma grande penalidade, o avançado vê a baliza mais pequena, apesar de distar dela os onze metros de sempre... Ora, temo que tenha sido esse sindroma que, aparente e (desejo eu) temporariamente, afectou a Dra. Manuela Ferreira Leite: a baliza socialista parece mais “piquena” e o Eng. Sócrates parece enorme, “entre os postes”…

Digo-o pegando em dois exemplos concretos: o primeiro tem a ver com o aumento do salário mínimo nacional para 450€, em 2009. Pode até dizer-se que o Primeiro-Ministro deveria fazer bem as contas, que os empregadores estão sem folga para grandes banquetes salariais ou até que as coisas podem piorar, ao nível internacional. Todavia, não cabe à líder da oposição levar a sua seriedade ao ponto de ser trouxa, salvo o devido respeito.

Dito de outro modo, não duvido da seriedade e da inteligência da Dra. Manuela e tenho-lhe um enorme respeito e um imenso reconhecimento, mas entendo que, tendo o aumento faseado do SMN sido acordado, ainda por cima, em sede de concertação social, estando os portugueses com “a corda ao pescoço”, tratando-se, como dizia um amigo meu do CDS, de gente de parcos recursos que decidiu continuar a trabalhar com baixos salários, em vez de nos esmifrar o rendimento mínimo (ou rendimento de inserção social), e sendo que noventa contos de réis são um mero remendo, visto tudo isto, dizia, creio que o que qualquer líder do PSD deveria dizer era que estava muito bem, por muito que recomendasse, como tem sido feito, cortes noutras áreas.
O segundo exemplo tem, aliás, a ver com os cortes pedidos nos investimentos públicos e, mais concretamente com as declarações da Dra. Manuel Ferreira Leite sobre a geração de emprego pelas grandes obras públicas.

Ao que li, a Presidente do PSD, questionada sobre a matéria, terá respondido que “(Ao) desemprego de Cabo Verde, desemprego da Ucrânia, isso ajudam. Ao desemprego de Portugal, duvido”.

Ora bem… Até pode ser que o desemprego de mão-de-obra portuguesa não tenha muito a ver com o sector da construção – se bem que acho que há sempre gente à procura de trabalho, mormente no estado em que a economia está – mas o que a challenger do Engenheiro Sócrates não pode é dizer algo que é profundamente descortês para com duas nações amigas (uma das quais lusófona) e que, mal interpretado, roça (não a “irresponsabilidade”, como disse a Premier laranja sobre o camarada Primeiro-Ministro) a xenofobia, designadamente em relação à Ucrânia que, herdeira da União Soviética, tem hoje na sua mão de obra qualificada e nos seus níveis de literacia (superiores aos nossos, com toda a certeza) a chave do seu ressurgimento progressivo.

Em suma, creio que há que pensar que alternativa ao silêncio inicial não é o tiro à queima-roupa. Cumpre afinar o tiro, no PSD…

5 comentários:

Luis Melo disse...

Gonçalo, compreendo perfeitamente o que dizes, mas...

A Dra. MFL nunca disse que era contra o aumento do SMN. Ela disse que era contra a forma como foi anunciado pelo governo. Que antes de ser anunciado deveria ter sido novamente ponderado junto com a concertação social.

Ora, as pessoas inteligentes, que se interessam pelas coisas, lêem ou ouvem, e entendem o que ela diz. As pessoas menos inteligentes (ou burras), lêem ou ouvem, e entendem o que os outros dizem.

MFL ao contrário de Sócrates, não trata os portugueses como burrinhos. Ela fala claro, e fala verdade. Partindo do principio que todos os portugueses são inteligentes e percebem o que ela diz.

Gonçalo Capitão disse...

Luís

Espero que permitas a presunção de me considerar medianamente inteligente e a arrogância de ter opinião, mesmo quando não coincide com a da Líder do PSD, tal qual como eu prezo e agradeço todas as opiniões com que, livremente,enriqueces o Lodo.

Eu sei bem o que disse a dra. Manuela, que muito estimo. Porém, quando muita gente já conta os níqueis a ver se, literalmente, tem dinheiro para uma sopa, não pode sequer equacionar-se o adiar do anúncio de algo que fora prometido aos mais remediados dos nossos compatriotas.
Os portugueses não comem o jargão "economês" do PSD.
Um abraço discordante ;)

Luis Melo disse...

Gonçalo,

Bem sabes que quando falava dos "menos inteligentes" não me referia a ninguém em concreto. Muito menos á tua pessoa por quem tenho uma ideia completamente diferente.

Quanto aos portugueses, eles devem estar, pelo menos avisados, que o aumento do SMN os pode "mandar para o desemprego". E aí, não vão comer é nada...

Gonçalo Capitão disse...

Eu entendi, Luís. Apenas achei que isto pedia um pouco mais de detalhe ;)

Quanto ao aumento do SMN, não é por aí... Ainda hoje falava com o Presidente de uma das maiores empresas de Portugal, que me dizia que não é esse valor que o fará. Ironizou mesmo, dizendo que isso é o prejuizo diário da CP (ele não é da CP, sublinho).

Luis Melo disse...

Eu acho que o problema passa mesmo pelo que disseste. Não é nas grandes empresas que se pagam SM.

É nas PME. Principalmente nas PME da zona norte. Região onde, como sabes, está a maior parte do tecido empresarial português.

E falo, obviamente das empresas de produção. São essas que pagam SMN. Não são as prestadoras de serviços e outros. São as têxteis, as químicas, as metalomecânicas, etc.