domingo, 29 de junho de 2008

Crescer para baixo

Vi duas vezes na televisão e custou ter coragem para vir à Internet verificar uma das notícias do dia, que versa o jogo Miss Bimbo.

O facto é que o jogo existe e, desgraçadamente, nada tem a ver com pão ou com parolos...

Trata-se de um enredo virtual que começa a viciar crianças e adolescentes (dos 7 aos 17 anos), por todo o Mundo, e que remexe em todos os complexos e receios de quem está a formar a personalidade.

A boneca que deve evoluir às mãos da jogadora (destina-se mais a raparigas) começa por ser feia, burra e sem vida. A ideia, bem entendido, é faze-la linda, brilhante e rica.

Ora, se a ideia é o sonho cor-se-rosa de toda a jovem dos países ocidentais (há gente com necessidades bem mais básicas por satisfazer), a verdade é que sabemos que apenas uma minoria chega aos picos desse alegado Éden.

Começamos pelo facto de se exaltarem, embora não exclusivamente, valores fúteis e geradores de desgosto para as muitas pessoas que, induzidas a essa ambição pela sociedade mediatizada, não conseguem aperfeiçoar-se a tal ponto.

Depois, estimula-se o gasto, já que, depois de um crédito inicial gratuito, há que mandar mensagens via telemóvel, para recarregar o fundo de maneio e, notem bem, cada mensagem custa cerca de 2€. Como também estão a adivinhar, a coisa não se faz com uma, havendo até relato de uma adolescente britânica que terá gasto cerca de 400 Libras (aproximandamente 505€) ao paizinho...

Em terceiro lugar, é magnífico que o sítio do jogo o apresente como uma "ferramenta educativa", pois estará, eventualmente, a dar mais uma soberba ideia ao nosso psicadélico Ministério da Educação; é que, vendo bem os conteúdos pedagógicos do jogo, no seu nível 11, a aprendizagem passa por ter dinheiro para implantes mamários (bigger is better, é o conteúdo filosófico), deixando de lado os retoques nos lábios e as dietas rigorosas (as tais que, na vida real, podem dar anorexia). Já no nível 17, a nossa inocente bonequinha só tem mesmo que engatar um milionário que está de férias, assim dando roupagem adequada ao que, até há bem pouco, se chamava prostituição. Aqui, como é de luxo, deve chamar-se consultoria amorosa...

O problema é que, de hoje para amanhã, pode ter uma filha ou uma irmã a utilizar esta encantadora enciclopédia virtual de socialização. Acha que não lhe acontece?! E se eu disser que, segundo o que li, há mais de 1 milhão de jogadores em França e que o jogo já chega a dezenas e dezenas de países?!...

E de nada serve que os pais tenham de validar a inscrição, pois, entre falta de tempo e lacunas de esclarecimento dos mais velhos, está a ver-se a falta de insucesso (apeteceu-me a dupla negativa...) do jogo, junto dos mais novos.

2 comentários:

Dri disse...

Depois da leitura do post, senti-me tentada a ver o site e o jogo em si. Sou sincera preocupa-me este tipo de divertimento. Não sou da geração dos jogos de pc e da internet, cresci a ler, a saltar, a andar de bicicleta, a fazer amigos, a chatear-me com os amigos e a aprender o valor das relações na sociedade. Hoje em dias as crianças crescem viciadas no computador e cada vez mais se tornam mais egoistas e sem valores.

Dulce disse...

Gonçalo,

já havias abordado o tema, embora com outros intervenientes, aqui:

http://lodonocais.blogspot.com/2007/02/carta-bella.html

Bem sei que o ideal é sempre 'arrancar o mal pela raíz', mas crê-se não ser possível pôr um travão a uma sociedade cada vez mais frívola e que revela preocupantes sintomas que já damos como crónicos. Esperaria-se assim que dos pais e dos educadores surgissem atitudes responsáveis pelos seus, que são - sublinhe-se - o futuro. O problema é que aqueles na sua larga maioria não ligam aos alertas, menosprezam sintomas de um crescimento veloz e desprovido de valores e chegam a ser coniventes com as precocidades dos filhos. Temo bem que não tarda nada já não se dê uso ao termo "infância"...