terça-feira, 11 de março de 2008

A minha pátria ERA a língua portuguesa... *

Não são só os relatos da ASAE que me dão a volta ao estômago. Também uma notícia recente me tem dado algumas náuseas: reporto-me ao anúncio da entrada em vigor do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa em 2014, iniciando-se ora o denominado "período de transição".
Ainda há pouco tempo comemorámos o Dia Internacional da Língua Materna e o Lodo - numa de serviço público - instava-nos a "falar e escrever em bom português". Contudo, a verdadeira e singular língua portuguesa tem agora os dias contados e, consequentemente, acabaram-se os motivos para a celebrar.
É que parece que a peculiariedade de se tratar do único idioma que dispunha de duas normas ortográficas incomoda muita gente. E vai daí, em prol da "unidade essencial à lingua portuguesa" e numa busca desesperada por uma ortografia simplificada rendemo-nos (e vendemo-nos) ao país irmão, acabando por suprimir muito do cariz etimológico da língua de Camões.

Para terem um breve ideia do quão repugnante será a nossa escrita daqui a pouco tempo, aqui vão alguns exemplos:

aspecto --> aspeto
facto --> fato
acção --> ação
óptimo --> ótimo
húmido --> úmido
lêem --> leem
arqui-inimigo --> arquiinimigo (sim, doi ii's seguidos!!)
...

* Se fosse vivo, Fernando Pessoa desculpar-me-ia pela indevida apropriação e distorção da sua frase, mas perante tamanha afronta à língua portuguesa, quase que juraria que o poeta me subscreveria!

5 comentários:

Luis Cirilo disse...

Uma coisa lhe garanto cara Dulce.
Escreverei até ao fim dos meus dias como apreendi na escola primária muitos anos atrás.
Comigo não há acordos ortográficos.

Tania Morais disse...

Podemos sempre fazer uma bolsa de resistência!
Estou com o Luís =) e espero que esta ideia absurda tenha os dias contados!
Como é que poderemos admitir estes ataques à riqueza da nossa língua? Não se trata de sermos reaccionários, mas as especificidades da língua são até uma marca importantíssima para a afirmação das Nações como unidades culturais... Não se admite!

Julguei que a centralização na esquerda portuguesa se manifestasse exclusivamente ao nível administrativo... nunca pensei que uniformizar tudo quanto se possa fosse bandeira deste Estado...
Enfim.

Gonçalo Capitão disse...

Já no tempo do Professor Anibal se tentou ir por aqui e deu asneira.

Dizem que o problema é que temos o único idioma "mundial" com duas ortografias diferentes e que tal põe problemas de tradução, nas instãncias internacionais. Mesmo na Net, vejam o caso da Microsoft e afins que, por razões de mercado, usam o português do Brasil.

O que eu não aceito é que a maioria das alterações se faça à custa da versão original...

Com vossa licença, dirijo uma dúvida aos lacaios que inventaram estas "chinesices": ainda vai dizer-se "vão à merda"?

freitas pereira disse...

Ora eu, que tanto mal tenho para conservar o “meu” Português da Escola de Santa Luzia, vivendo num oceano de línguas estrangeiras, até não vou ter mais coragem de cá vir nestes “blogs” deixar a minha opinião porque vou estar cada vez mais desactualizado!

Em França, fala-se o Francês de Victor Hugo, o que não impede os Franceses do Canada francofono de falar o Francês do XVI século ! Eles podem continuar a pedir um “bec” a uma “demoiselle”, enquanto que por cá se pede antes um “baiser”!

A Academia Francesa nunca permitiria de nivelar a língua nesse sentido.


“ Só existem duas coisas infinitas, o universo e a estupidez humana ... mas para o universo ainda não tenho a certeza.”
Albert Einstein

Anónimo disse...

Tive também uma palavra a dizer sobre o assunto:

http://vitaminay.blogspot.com/2008/05/no-ao-acordo-ortogrfico.html

No entanto, gostaria de corrigir que "facto" não vira "fato", pois em Portugal lê-se o "c". Continua, pois, a dupla grafia Portugal/Brasil.

Ora aqui está uma das razões porque sou 100% contra este Acordo Ortográfico - falta de coerência.