quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

A cor do dinheiro

Nesta quadra natalícia e, naturalmente, de maior consumo, os portugueses usam e abusam do crédito para satisfazer tudo e todos. Esquecem, no entanto, que tais ‘facilidades’ podem conduzi-los a um fenómeno que já ocorre com muitas famílias portuguesas e que dá pelo nome de “sobreendividamento”.

Se o agravar das condições financeiras dos portugueses leva ao aumento de situações de endividamento, o mercado de crédito ao consumo não fica alheio a esta tendência e responde ‘à altura’. Basta atentar à pletora publicidade com que somos bombardeados neste âmbito.
Com efeito, a juntar ao tradicional crédito bancário, proliferam as empresas de crédito especializado e as cadeias de lojas e supermercados apostam cada vez mais nos cartões de "pagamento em suaves prestações”.

Quanto à publicidade, pode ser do mais subtil: um dia destes li um horóscopo de um jornal diário*, no qual Paulo Cardoso (sim, o astrólogo!), instava o nativo de determinado signo a recorrer a instituições financeiras caso sentisse uma maior capacidade de realização a nível financeiro..!!!

A pergunta que se impõe: onde irá parar a tendência de crédito vivida no mercado português?
Não sei responder, mas não auguro um cenário muito próspero.
Pelo menos, tendo em conta o auxílio do Governo que, indiferente ao esboroamento da economia nacional, esquece-se de medidas que pode (e deve...) tomar no sentido de estimular uma maior moderação e responsabilidade por parte do consumidor.

Neste contexto, ocorre-me uma recente medida do Governo que me deixou um bocadinho preocupada: lançamento do crédito a estudantes do ensino superior, ao abrigo do programa com garantia mútua. Agora que o Bolonha vigora, não deixa de ser oportuna este “ajuda” aos universitários, mormente no segundo ciclo de estudos. Mas não estará o Governo, deste modo, a incitar precocemente os jovens ao crédito?

Em suma, o crédito está cada vez mais facilitado - ao alcance de um simples telefonema e de uma simples subscrição - mas já diz o provérbio que "nem tudo o que luz é ouro"... e o efeito “bola de neve” não tarda a fazer-se sentir.
O problema, é que nós – povo luso – só despertamos para a realidade quando temos a corda ao pescoço. Até lá, que o brilho do Natal e o dourado dos cartões nos continue a ofuscar.
* Jornal "Meia Hora", edição 18 Dezembro 2007

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