Como sempre chega o dia em que se não pode varrer mais nada para baixo do tapete, chegou a altura em que, abusando da vossa benevolência, há que confrontar a poeira que o actual estado do PSD acumulou debaixo do meu super-ego (uso os termos da psicologia para descrever uma auto-censura que me tem vindo a impedir de escrever sobre “isto”)…
E pego em declarações que, salvo erro, pertencem ao mandatário de Luís Filipe Menezes, Ribau Esteves – que terá dito que nenhum dos candidatos lhe “enchia as medidas” – para confrontar o estado de espírito da militância do PSD. Por exemplo, no blog em que escrevo regularmente, apenas dois dos sete elementos que militam no PSD afirmam convictamente (e não o escrevem) que têm um candidato. Ou seja, a desmotivação existe, mas a vida agitada e a cultura mediática destruíram aquilo que existiu até meados da década de 90: lideres intermédios, instâncias de debate e moderação (designadamente, as sedes partidárias eram lugar de convívio e de debate) e capacidade de mobilização de base para arranjar alternativas ou, simplesmente, para lançar avisos à navegação.
Hoje, o militante partidário (e ainda mais o eleitor) é um consumidor de política que, qual comensal, escolhe de uma ementa mais ou menos vasta aquilo que os chefes decidiram cozinhar.
E também não é difícil de explicar por que é que o pouco debate que poderia ter lugar não é estimulado: porque não interessa à imensidão de “cinzentões” e “seguidistas” que se apoderou do famoso “aparelho”.
E porque é feio não concretizar estas coisas, cá vai disto: tendo empurrado a parte da geração fundadora (os não menos célebres “barões”) para a galeria de memórias - sem se ter preocupado em aprender coisas como “bagagem” cultural, sentido de Estado e ética comportamental – e apenas franquiando de bom grado as portas aos elementos das gerações mais novas que joguem o “jogo” com as regras daqueles ou que, reverencialmente, “beijem o anel”, grande parte das segundas linhas tornaram o partido numa sede de impressão de panfletos para eleições, à boa maneira do que se fazia, quando se concorria a eleições para associações de estudantes (deste naipe excluo os candidatos e os nomes mais conhecidos, embora os não isente de responsabilidades por celebrarem autênticos pactos com esses “diabos”).
Com isto fica de fora o debate ideológico – importante para que se defina a sociedade que se quer concretizar – e a possibilidade de governar com metas de longo prazo – as únicas que podem contraria a tendência que Portugal tem tido para se afundar na União Europeia, mesmo com 27 países. Por cá, em consequência disto, vamos esperando que os governos do partido oposto caiam de podres e governa-se com metas de gestão corrente (o défice e outras contas de mercearia), como se o mundo, para citar Rui Reininho, terminasse às Portas de Benfica…
O mais sério, a meu ver, é que se instalou, em virtude de ter perdido densidade o debate interno, uma cultura de intolerância que causa estranheza a quem, como eu, ainda pode participar em assembleias concelhias e distritais marcadas por acesas, elevadas e democráticas trocas de argumentos. Hoje - senti-o na pele - candidatos ao lugar de primeiro-ministro permitem que os seus mais directos colaboradores (têm nome, mas a hora não é de “homenagem”) enxovalhem alguém cuja opinião não cumpra o diktat oficial, tornando quase pecado qualquer referência à génese do PSD e a Francisco Sá Carneiro (que não conheci, mas sobre e de quem li bastantes textos).
E é neste contexto que José Sócrates se permite presidir com calma olímpica aos destinos da União Europeia, sem qualquer receio de que a vida política nacional o faça cair do pedestal de popularidade em que as sondagens o colocam, bem como ao PS. Seria isto pensável, havendo boa oposição, tendo ainda em vista os sacrifícios que têm sido impostos aos portugueses?
O PSD, perdida a elite, dedica-se, hoje em dia, ao “delete” (termo popularizado pela informática, que significa “apagar”)!...
1 comentário:
Continuando no espírito do texto: Para quando um reset?
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