quinta-feira, 23 de agosto de 2007

"Ponha na conta"

O caso de alegado (e reconhecido) pagamento por uma construtora (Somague) de facturas de serviços prestados por outra empresa (Novodesign) ao PSD é um daqueles que, sendo eventualmente sintomático em termos de vox populi, pode bem dar no costume: nadinha.


Ora porque o ilícito é meramente administrativo (o financiamento irregular dos partidos era-o, em 2002, data do sucedido), ora porque prescreveu algo, ora porque não há elementos de prova suficientes, ora porque pode nem ser interessante, ora porque a memória é curta, nas democracias meditizadas, ora... Ora, bolas!!!
Vamos aos factos:

1 - A empresa de construção civil em causa tem ligações a obras públicas e ao futebol.

2 - José Luís Vieira de Castro (então, Secretário-Geral Adjunto do PSD com o pelouro financeiro, à data, a quem desejo rápidas melhoras) é um gentleman que, acredito, terá agido de forma que atendeu de admitir e José Luís Arnaut cumpriu, assumindo a responsabilidade objectiva (a que decorre de ser, então, o Secretário-Geral).


3 - É popular a convicção de que há promiscuidade no financiamento partidário e de que existe o chamado "bloco central de interesses" (que proporcionaria, a existir, cobertura a membros de ambos os lados do arco de governação, que ostentariam ou mandariam parentes ostentar, ainda a ser verdade, fortunas sediadas em Portugal e não só, que dificilmente se explicariam por rendimento, herança ou qualquer jackpot.

E que fazer dos factos? Se for como habitualmente, esperar sentados até que o assunto se apague da agenda mediática. No caso até desejo que nada de grave se passe - é o meu partido e são figuras que aprecio - mas começa a tomar tons latino-americanos o pulsar do mercado político paralelo.

Judas, Morais, Loureiro, Felgueiras, Carmona e por aí fora são nomes que enchem jornais e passam-se anos, com danos irreversíveis para quem prova a sua inocência, até que saibamos que o arguido era inocente ou que o processo deu em nada por motivos menos nobres.

O que quero não é uma fúria condenatória! Deve ser ilibado aquele que não vê provadas as acusações contra si esgrimidas, desejando eu que se chegue aos 100% de arquivamentos ou absolvições.

Mas acredita mesmo que somos o único País do mundo com 100% de rapaziada honesta?

O caso em análise (PSD-Somague) nem é do mesmo estilo. Em 2002, os factos descritos não preenchiam qualquer tipo legal de crime. Mais e como disse, espero que se prove que se tratou de algo meramente operacional e não de um pagamento de qualquer favorecimento (não acredito que Vieira de Castro e Arnaut alinhassem nisso)!

Porém, mesmo fumo sem fogo intoxica a credibilidade do nosso já doente sistema de partidos. Por que não se chega ao ponto de credibilidade em que as meras suspeitas não cheguem a fazer sentido?...

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