domingo, 15 de julho de 2007

Pobre política...

Para um militante do PSD, como eu, confirmaram-se os piores receios; o PSD ficou em 3º lugar nas fulcrais eleições para a Câmara Municipal de Lisboa (um "mini-governo", como dizem muitos).
A propósito de tudo isto, oferecem-se-me alguns apontamentos:
1. Marques Mendes, como já afirmei, errou ao judicializar algumas das suas decisões (arguidos dispensados de concorrer ou com apoio retirado);
* A Lei prevê a inocência até condenação por sentença transitada em julgado. O PSD não o presumiu.
* É penumbroso fazer coincidir momentos judiciais iniciais com juízos políticos.
* Nem todos os autarcas do PSD arguidos foram igualmente estigmatizados.
* Mesmo politicamente a decisão foi errada; para além da condição processual, custa perceber a linha que une Carmona, Valentim e Isaltino.

2. Não creio que possam dar-se graças na oposição interna. O PSD está mesmo mal e continuo a achar que o problema é geracional. As alternativas têm que seduzir e não apenas espremer Mendes.

3. Embora Helena Roseta tenha sido militante dos dois maiores partidos e Carmona governante e autarca pelo PSD, os movimentos independentes (ou até anti-partidários) colheram muita da repulsa que se sente no eleitorado em relação ao sistema partidário. Nasce a política alternativa, se não mesmo a anti-política (vide o BE e, quiçá, o PNR).

Quando políticos consagrados reconhecem nos corredores que o poder não se ganha, antes sendo perdido por quem o detém (a tal lógica "mansa" da rotatividade e dos ciclos máximos de dez anos), estão a dizer-nos que não conquistam as emoções nem convencem as razões. Esperam que o poder apodreça.

Os poucos lisboetas que votaram já viram tudo.

4. A fortíssima abstenção diz que a malta já deu e que é tudo a mesma fruta (até eu já tive mais certezas do contrário...).

5. O centro-direita saem de rastos. O CDS não elege um só vereador, num claro chumbo ao remake (geralmente o primeiro filme tem mais sucesso do que as sequelas...) de Portas. Tanto calculismo e mediatismo acaba por cansar, como, em parte, prova a lição de Santana Lopes. Afinal, se calhar (e por muito que tenha muitos e bons amigos na actual nomenklatura centrista) o problema não era (só) Ribeiro e Castro.
Manuel Monteiro ainda não percebeu a figura rídicula que vem fazendo e o descrédito que traz à política. A ideia de se fazer acompanhar, permanentemente, de um comediante e de organizar números de circo como uma gincana num passeio, entre supostos dejectos de cão, é "apalhaçar" o problema e não fica bem em que se afirma como paladino da política séria. Alguém o "desligue da máquina", por favor.
O PPM, sendo uma organização familiar (que apesar de tudo, mercê da visão estratégica de Santana Lopes, tem 2 deputados à boleia do PSD), também resolveu entrar na tenda e fazer circo. Desde afirmações do candidato a dizer que estivera nos assuntos agrícolas, por não ter tempo para a campanha, à entrega de papel higiénico nos serviços da câmara, tudo serviu para que muitos achassem que votar seria uma perda de tempo (e Deus sabe como aprecio a associação da política ao humor, dentro de certos limites...).
A extrema-direita (PNR), não obstante o gozo de ficar à frente de Manuel Monteiro, bem faria em não embandeirar em arco. Parece-me que menos de 2000 votos não traduzem uma adesão popular às propostas de fim de apoio para gays, imigração e manifestações culturais marxistas. O "mercado" eleitoral existe, mas o score actual mostra que o produto quase não vende.
6. Sendo que o partido que ocupa o Governo, regra geral, é açoitado em autárquicas, e mesmo não esquecendo que o PSD vinha com má folha de serviços na gestão da Câmara e da sua queda, fica clara a vitória do PS. Bem pode Sócrates rir ao ver o PS eleger o dobro dos vereadores do 2º classificado. Não fora Costa a maior ameaça eventual à sua liderança e a risada até podia ter sido mais sincera...
7. De todo o modo, cai muito mal a encenação festivaleira que o PS fez no Altis!... Gente da Covilhã, Famalicão, Mirandela e Alandroal (estas terras contei eu, via tv), confessando não saber que excursões a Fátima e a Mafra haveriam de acabar de bandeira em punho, em Lisboa, dá um ar artificial e ensaiado à política. É algo que ainda causa mais rejeição nos milhares que já nem aos noticiários prestam atenção. A geração que domina a actual classe política afasta os portugueses, assim se perpetuando (são os mesmos há "n" anos). Mais valia terem reservado uma sala pequena e terem feito uma conferência de imprensa mais sóbria e com mais ideias.
8. Fernando Negrão foi um gentleman, como sempre: generoso, sério, inteligente e trabalhador. Já Marques Mendes fez o que devia (pedir eleições internas antecipadas) e com justa proporção; é politicamente legítimo que se recandidate, já que, apesar de eu entender que o PSD perde Lisboa sobretudo por erros daquele, não está em jogo uma derrota em eleições legistalativas que, efectivamente, foram a razão primeira de uma liderança que, apesar de tudo, conta já com algumas vitórias.
9. Temo, porém, que o PSD, mais uma vez, faça uma eleição em que os interesses das "tribos" e o protagonismo pessoal (sempre desejado pelos actores secundários) vençam a ideologia e a visão institucional.
10. Reafirmo a minha ideia de que os partidos não são eternos e o PSD, dadas as suas origens exlusivamente nacionais, menos ainda (disse-o no último congresso).

3 comentários:

JAIME ALVES disse...

Eleições intercalares de Lisboa.

Noite desgraçada para a vida política portuguesa...

Abstenção:
Trata-se de uma marca negra, especialmente para todos os partidos políticos, mas, também para os ditos “independentes”, tal como para os candidatos “amargurados com tudo e mais alguma coisa ou provedores de palhaçadas”.

Tristes figurantes: constrangedor...

PSD:
A noite passada foi de tal forma vergonhosa para o actual “líder” do PSD que se deveria demitir imediatamente, abandonado a vida política. É pena que se recandidate... é um péssimo sinal... como sabiamente disse em tempos: “o PSD precisa mudar de vida”!
Quem disse o que disse acerca de Santana Lopes, assumindo para si o paradigma político positivista, imune a erros e a instabilidades emocionais não tem margem de manobra para seguir outro rumo... Que ao menos os militantes promovam a sua saída a curto prazo da “liderança” do Partido Social Democrata Português.


Futuro:
Que se abra uma nova página na vida do PSD!
Não nos esqueçamos que D. Sebastião não entra na corrida... este dado é fundamental!

Para atingirmos bons resultados basta falar verdade:
Que se desmascare o logro que é a governação socialista!
Que se credibilize, credibilizando, gastando pouco o termo.
Que se apresentem propostas corajosas, arrojadas e reformistas para governar Portugal!
O eleitorado não nos virará costas, bem pelo contrário...

Jaime Bernardino Alves
Resende.

rei dolce disse...

caro jaime, vejo que estas em forma.

em relação ao nosso partido, pelo que vejo há gente que já esta preparado há alguns anos(ate assinaturas em lisboa angariou!!!), mas o PSD esta muito dividido, não sei, mas cheira-me que ainda vem gente de lisboa.
o que sei é o proximo congresso e as directas vão ser tudo menos mornas,bem pelo contrário.

Dulce disse...

Bem tentei ignorar as eleições do passado domingo, na vã tentativa de não me aborrecer com o que não devo... mas ao ler esta exímia apreciação do Gonçalo, não me contive:

1 Custa dizê-lo, mas o PSD colheu o que semeou. No que respeita a Mendes, a sua prepotência e a sua postura de ‘dois pesos, duas medidas’ face a Carmona, foi claramente punida pelos Lisboetas que – ficou provado - confiam mais no rostos independentes que nos rostos partidários. Lamento apenas que Negrão se tenha sujeitado a este negro episódio autárquico.

2 Os ditos pequenos partidos de direita oscilaram entre claros erros de casting e constantes surpresas – umas más, outras nem tanto.
Manuel Monteiro acreditou que se com credibilidade as coisas “não iam lá”... com palhaçada a coisa resolvia-se! ... ...

Já Gonçalo da Câmara Pereira é de uma boçalidade tal que arrepia. Isso até podia ser ultrapassado, mas de tão mal preparado e de tão inconsequente e infeliz que foi o seu comportamento... não havia volta a dar ao fadista/agricultor/homem dos mil ofícios, que só soube dizer aquilo que é pra lá de óbvio - ” Lisboa é uma cidade linda”.

Quanto ao extremista PNR, este mostrou - é inegável - ter um líder com os pés assentes na terra. No último debate Pinto Coelho não falou muito, mas quando falou mostrou saber do que falava e mostrou combatividade. São um partido extremista, destinado à pequenez, etc etc, bem sei... mas nos últimos tempos têm dado nas vistas. Cuidem-se os seus ‘parentes’...

Outro personagem cujo mau resultado lamento é o de Telmo Correia. Foi mais um que manchou o seu percurso político com as nódoas que se derramaram à direita nestas intercalares.

3 À esquerda, mais do mesmo.
Um PS eufórico com a frouxa vitória que lá conseguiu alcançar. Festejou esta esmola obtida nas autárquicas alfacinhas e acredita que este “balãozinho de oxigénio” é o suficiente para continuar a sobreviver....

Reprovável, a meu ver, a campanha do “Zé” Sá Fernandes.
Narcisista qb, desde logo com “O Zé faz falta” (como dizia alguém, levava a crer que o Zé tinha batido as botas...), passando pelas entrevistas e debates em que “eu” foi a palavra record e culminando com o flyer nas caixas de correio que começava com um “Sabia que...” e continuava com “o Zé isto, o Zé aquilo, o Zé aquel’outro!.... Haja pachorra!

4 Conclusão: fala-se nos últimos dias na crise à direita, mas esquecem-se de que a esquerda também está enferma q.b. .
Aliás, os partidos políticos estão todos eles a pagar uma factura cara e o PSD só deve ter um caminho: o da credibilização interna, para que esta passe para fora e vá, de uma vez por todas, ao encontro dos militantes, que antes de se reverem na ideologia X ou Y, desejam rever-se num partido “arrumado” e transparente.