quinta-feira, 1 de março de 2007

Estou velho...

O que eu pensei antes de escrever este texto...
Porém, eis a primeira confissão: a coberto do relativo anonimato da sessão da meia-noite, lá fui ver o sexto filme e epílogo da saga do Italian Stallion, Rocky Balboa (iniciada em 1976).
E as memórias que são recuperadas da adolescência, altura em que, entre outras coisas, me empolgava com coisas destas... Primeira ilação: tudo tem o seu tempo certo, querendo eu crer que não entrei numa espécie de andropausa cinematográfica, mas antes tive um momento de nostalgia...
O primeiro filme da saga que vi no grande ecrã - o do desaparecido Teatro Avenida (daqueles com plateia, 1º e 2º balcão e camarotes, lembram-se do género?...), em Coimbra - foi o Rocky IV (1985), talvez a sequela que oferece um case study mais interessante.
Basicamente, a história roda à volta da decisão de Rocky Balboa (Sylvester Stallone) de, na sequência da morte no ringue do seu amigo e ex-adversário Apollo Creed (Carl Weathers), aceitar o que antes recusara: enfrentar o capitão (não eu, sublinho, posto o que o resultado seria diferente) do exército soviético Ivan Drago (Dolph Lundgren), em Moscovo, se me não falha a memória, na véspera de Natal.
Para os amantes da ciência política, embora serôdio, este exercício de propaganda não deixa de ter o seu lugar na História (relembro que viviamos os últimos anos da guerra fria), não podendo deixar de esboçar um sorriso quando lembro o palco (o coração do inimigo), o dia (basta pensar que a religião era o ópio do povo e que, mesmo que assim não fosse, o Natal russo comemora-se em Janeiro e não a 24 e 25 de Dezembro) e as condições de treino (Rocky corre nas montanhas russas e trabalha num estábulo, enquanto Drago corre em pista coberta, tem máquinas sofisiticadas, é electronicamente monitorizado e, criação do "homem novo" oblige, convenientemente injectado com esteróides).
Não obstante, guardado estava o bocado para o dia do combate, no qual as forças do bem (entenda-se, E.U.A.) vencem o império do mal (com o devido respeito pela memória do dr. Cunhal, leia-se, U.R.S.S.), já que Rocky derruba o colosso soviético, com direito a um discurso estilo catequese, no fim da refrega, no qual, entre outras pérolas, o campeão americano fala do fim do ódio e da possibilidade de mudança interior que cada individuo teria em si (liberalismo vs. socialismo, versão kitsch), com direito a aplauso da multidão, que o recebera com apupos, e do próprio politburo!!! E ainda há gente que recorre a alucinogénios...
Tudo isto orquestrado com sons épicos como Eye of the tiger (Rocky III e IV) e Burning heart dos Survivor, Living in America de James Brown e os instrumentais, para exemplificar.

Baixa qualidade?! É provável...

Propaganda descarada e "barata"?! Quase de certeza...

Marco de uma época em qua ainda se aplaudiam as vitórias dos "bons" nos cinemas e em que não tinhamos que gramar o rilhar das pipocas e a luz dos telemóveis?! Sem dúvida.

Um sorriso final de simpatia e nostalgia :)

3 comentários:

Luis Cirilo disse...

Caro Gonçalo
Eu ainda não vi o "Rocky Balboa" mas vi os cinco filmes anteriores.
Do Rocky vencedor do òscar para O Melhor Filme do Ano ao Rocky IV em cinema,e o Rocky V já em DVD.
Mas tal como tu estou velho,bastante mais velho por sinal,e por isso tenciono ver o Rocky Balboa em cinema.
Também como homenagem,e saudade,aos trinta anos da saga Rocky.
Que me proporcionou bons momentos de entretenimento.
E tal como tu tambem tenho saudades do "velho" Avenida e do tempo em que os cinemas não estavam infestados por gente com telemóveis e a ruminar pipocas.
Estamos velhos amigo !

Ricardo Jesus Cândido disse...

Amigos, eu não estou velho mas tenciono ver o Balboa "idoso".
Deixem lá que a minha geração também ficou muito marcada com as "vitórias" do Rocky.
Uma das suas belezas é que, sendo a tal propaganda descarada e de baixo custo que o Gonçalo disse, atravessou gerações, não deixando ninguém indiferente.
Relativamente a pipocas ... NUNCA MAIS, desde que lasquei um dente que me valeu uma ída ao dentista no dia seguinte.

Gonçalo Capitão disse...

Barata era mais no sentido de ser pouco elaborada politicamente. O Rocky IV deve ter custado este mundo e outro.