sexta-feira, 10 de novembro de 2006

É fruta ou chocolate!...

Tenho escrito inúmeras vezes sobre os problemas cívicos que, a meu ver, explicam muito do nosso atraso.

De facto, olhando outras nações que progridem, mesmo não detendo riquezas naturais de vulto (como sucede connosco), tenho vindo a afirmar que valores e atitudes como o mérito, a honestidade, a lealdade, o esforço, o estudo, entre outros, podiam fazer-nos, atendendo às imensas qualidades de que também somos fieis depositários, estar na liderança dos países desenvolvidos, em não muito tempo.

Em quatro andamentos (quatro singelas e reais situações que me sucederam) abordo a ideia pelo lado comercial, em torno do qual gira muito do que é a maneira de agir de um povo, nas economias de mercado.

Dispenso-me de gastar o meu latim com o lado da procura, já que, também em mais do que uma ocasião, me debrucei sobre o fenómeno do sobreendividamento e a histeria actual pelo supérfluo.
Resta-nos, assim, olhar a oferta e tentar ilustrar as razões pelas quais, mesmo nos actos comerciais mais simples, começa a ser interessante deixar o seu dinheiro e pagar os seus impostos associados ao consumo noutros países, sempre que possível. É neste âmbito que caiem as duas primeiras situações, que relato esta semana.

Assim, e pegando na deixa, começo pelos casos em que isso foi possível, recentemente. Opto por situações comuns do dia-a-dia, já que são aquelas que mais me interessaria perceber, visto que começa a avolumar-se em mim a ideia de que, sendo verdade que, em média, recebemos menos a título de remuneração e consumimos bens mais caros (o exemplo mais célebre é o dos carros, mas, neste caso, com uma explicação tributária óbvia), é duvidoso sonhar com o ideal de equalização que preside ao chavão da “coesão”, tão apreciado pelos que vêem em Bruxelas o paraíso.

Exemplificando, posso dizer-vos que, num sítio da Internet dedicado à electrónica e baseado em Espanha é possível comprar, por exemplo, um telemóvel que custe cerca de 280€, na loja do fabricante (Nokia), em Portugal, por menos de 230€ com portes e comissão do revendedor incluídos, economizando aproximadamente 18%, sem sair de casa.

Mas, mudando a agulha, também em bens culturais pode evitar os comerciantes com sede ou filiais em Portugal, com vantagens notórias. Aponto o caso de um livro que aborda a cultura ocidental dos últimos dois séculos, que pode adquirir por mais de 53€, na FNAC, em Lisboa. Com meia dúzia de toques no rato do seu computador, câmbio efectuado e impostos liquidados, a Amazon do Reino Unido envia-lhe a mesmíssima obra, no mesmíssimo idioma (inglês), por 40€, números redondos, posto o que também reteve no mealheiro cerca de 25% do que lhe pediram na capital portuguesa.

Ou seja, torna-se fácil optar pelo estrangeiro, numa altura em que a retoma precisa de nós. A verdade, porém, é que termos como “retoma”, “crude”, “OPA” e afins não satisfazem as nossas necessidades de consumo, pelo que haveria que repensar a competitividade da nossa economia, refrescando (eufemismo deliberado) a atitude de Estado, trabalhadores e empresários.
No próximo post, voltaremos ao tema com dois outros exemplos que ilustram o défice de competitividade, desde logo, da nossa atitude.

Numa altura de personalização da procura, a nossa oferta continua a tratar o assunto a granel, digo eu…

2 comentários:

Ricardo Baptista Leite disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Ricardo Baptista Leite disse...

Falta também espírito empreendedor no nosso País... Compete sobretudo aos mais novos serem inovadores e creativos! A busca incessante pela ideia que mais ninguém teve e ter orgulho de produzir em e de exportar a partir de Portugal.

Poderá dizer-se que há ideias mas que faltam incentivos... no Concelho de Cascais há um exemplo recente de como as autarquias podem "dar asas" a quem tem adn empreendedor :)

Aconselho vivamente visita ao site: www.dnacascais.pt