quarta-feira, 17 de maio de 2006

Cardápio

O próximo congresso do PSD, a ocorrer neste fim-de-semana, promete baixos níveis de adrenalina, excepto no que tocar a fazer listas ao conselho nacional.

Marques Mendes foi eleito a solo, mas com boa participação, e a margem de demarcação será curta.
Creio (alma poética, a minha), por isso, que será um bom momento para afinar o método, tendo em vista três anos de difícil oposição. A minha agenda seria, assim, quadripartida:

1º “Comunicação”: o PSD tem, rapidamente, que reflectir sobre as razões de vogar atrás nas sondagens, depois de eleger um líder de estilo diametralmente oposto ao anterior, de vencer duas eleições (autárquicas e presidenciais), e estando face a um governo que (também) aumentou impostos, que diminuiu as pensões (ou, pelo menos, a facilidade de as obter), que promete fechar maternidades (por muito ponderosas que pareçam ser as razões), que ficou ligado a “n” aumentos dos combustíveis e que, last but not least, com maior ou menos adequação, tem interpelado vários sectores sociais, com alto grau de crispação.
Aqui chegados, ou o PSD culpa genérica e acriticamente a comunicação social (havendo que encontrar quem faça o papel de Manuel Maria Carrilho) ou encontra uma formula para comunicar que seja atractiva sem cair no simplismo apelativo que requerem muitas das mentes adormecidas pela ”cultura” da televisão, tão característica dos tempos actuais.

2º “Renovação”: quando surgem novas figuras, mormente no domínio da reflexão política, há sempre um qualquer gabinete de estudos ou estrutura honorífica afim para onde “empandeirar” os incómodos pensadores, tantas vezes denegridos com o rótulo de “intelectual”.
O mais comum é que se não perturbem os “accionistas” que se vão revezando nos lugares, de maneira a que sejam, em bom rigor, os mesmos, há mais de vinte anos.
A renovação é Belzebu para os partidos portugueses, dado que, entre a geração fundadora e a que agora começa a discutir o partido, existe uma outra que, aproveitando as oportunidades de participação do pós 25 de Abril, se profissionalizou tacitamente, estando pouco atreita a sair de jogo, e “ameaçando”, dada a idade que tem em média, mais vinte ou vinte e cinco anos de “sacrifícios” pelo povo.

3º “Esperar para ver”: outro ponto a repensar pode bem ser a cautela (vulgo, credibilidade) com que se faz politica, na oposição.
Estando o País com alto grau de ingovernabilidade, os partidos que almejam o poder têm optado por não elevar demasiadamente as expectativas, procurando esperar até que os governos percam o poder.
O problema é que, com tamanho decréscimo de expectativas, a capacidade de, uma vez no poder, mobilizar os portugueses para os esforços a fazer torna-se quase nula. As pessoas passarão a escolher por notas carismáticas ou por descrédito do executivo.

4º “Ideal social”: por fim, entendo que deveria o PSD reflectir não apenas no plano táctico (ou seja, medida a medida ou, no máximo, a quatro anos), mas também no plano estratégico e prospectivo.
A previsível, e mil vezes anunciada, falência da segurança social, o encerramento de unidades de saúde com argumentos económicos, a saturação do meio ambiente, a escassez de recursos fósseis, a proliferação de armamento nuclear, entre outras, são questões que afectarão, sem dúvida, os filhos e netos de muitos dos actuais lideres partidários, sem que se lhes vejam soluções corajosas e pouco raladas com resultados eleitorais imediatos.

Estes são, em suma, pontos que me pareceriam decisivos para elevar a bitola da nossa politica.

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