quarta-feira, 22 de março de 2006

Sérvia tu


A começar, diga-se que a região dos Balcãs sempre teve muita lenha para nos queimar a todos.

Como bem sublinha Kissinger, por ali passaram as linhas de divisão entre impérios romanos, entre alfabetos diferentes, e entre credos distintos.

Acresce que, entre outras refregas, a I Guerra Mundial começou "with a little help from our friends", os sérvios, ante o "olho gordo" do Império Austro-Húngaro.
Ora bem, dito isto, pode perceber-se a excepção que foram os anos de Tito, e a naturalidade da secessão posterior, na qual Milosevic vogou à vontade, exaltando o sempiterno nacionalismo dos seus conterrâneos.

O problema foram os métodos de Slobo, uma vez que as reivindicações das comunidades sérvias eram de esperar, quer na Bósnia-Herzegovina, quer no Kosovo (onde estão em minoria clara, mas onde as reivindicações nacionalistas sobem de tom, com base histórica).

Fica claro, desde já, que os ditos métodos de Milosevic não têm perdão, e que a sua figura era, por isso, odiosa. Não há causa, por mais legitima que possa parecer aos olhos dos seus defensores, que se justifique com grosseiros atropelos dos direitos humanos.

Porém, há dois pormenores que não são de somenos importância. O primeiro, confirmável nas exéquias fúnebres, é que o nacionalismo sérvio ainda "anda por aí". Aliás, quem visite o Museu Militar, em Belgrado, verá que as salas mais recentes têm a ver com a exposição dedicada aos despojos (fardamentos incluídos) dos soldados da NATO e do UCK (guerrilha muçulmana apoiada pela Albânia) abatidos em combate. O mesmo se diga dos edifícios bombardeados pela Aliança Atlântica que permaneciam, em 2004, propositada e parcialmente destruídos (de tal modo é pensada a atitude que não podem fotografar-se os edifícios).

O segundo prende-se com o facto de permanecerem por apresentar em Haia, que eu saiba, dirigentes croatas de nomeada (tirando o General Gutovina) ou qualquer dirigente ou cabecilha da guerrilha de origem muçulmana.

Espero eu que, neste último caso, não estejamos perante mais um caso da corrente auto-castração da civilização ocidental.

Crimes são crimes, independentemente de qualquer factor de distinção, seja ele a religião, a cor da pele, ou qualquer outro.

Não sendo peremptório, pergunto-me se o "pirata" era só Slobodan Milosevic.

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