quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

Chico e o Diabo

Se há recordação que guardo dos debates parlamentares sobre novas tecnologias (aquelas sobre que se dizia, por vezes, na distribuição interna de tarefas, "isto é 'computadores' não é?!") é a de ver Francisco Louçã chamar a si os debates, em que aproveitava, "dia sim, dia sim", para aspergir bílis oratória sobre Bill Gates e a Microsoft.
Defendia o premier bloco-anarco-trotskista que o chamado software livre deveria ser a regra - deveria haver sempre acesso ao código-fonte e a possibilidade de alterar os programas - e que o de licença (os programas que compramos, como, por exemplo, o famoso Office - sim, se fez cópia, fique a saber que muita gente compra) seria excepcional, desde logo na actividade da Administração Pública.
Não vou entrar nos pormenores desses confrontos ideológicos (na altura não havia blog bloquista que não me enxovalhasse), dizendo apenas que o PSD defendia que a solução a adoptar pelo Estado seria a que mais servisse os seus objectivos, independentemente de ser livre ou de licença.
O ponto, agora, é o de lembrar que Gates representava para Louçã o que Lucífer representa para a Bíblia.
Ora é este mesmo homem (Gates) que, a mais das causas sociais em que se empenha (e podia não o fazer), em todo o mundo, veio a Portugal com um programa de acção que, a mais de 19 projectos que passam pela Educação e pela segurança, se dirige também ao problema dramático da iliteracia tecnológica no sector têxtil, e ao da qualificação de recursos humanos carenciados, em geral.
A parceria com a Microsoft parece-me mais um sucesso para José Sócrates, que, aliás, exultou, ainda ontem, numa escola do 1º ciclo, com a extensão universal da banda larga na rede de escolas.
O nosso atraso é, claramente, educacional e cultural (aqui, então, há milhares de anos-luz a acelerar, com o próximo Ministro da Cultura).
Espero, depois disto, que o Grupo Parlamentar do PSD pergunte ao Deputado Louçã como conseguiria resultados sequer parecidos, com as alternativas "reviralhistas" que sempre propõe.

11 comentários:

el s (pc) disse...

Diz bem: comprar o Office à Microsoft, coisa que a maioria dos afortunados com os cursos doados pelo Bill vão fazer a seguir.

Todas essas pessoas vão estar a ser formadas em novas tecnologias (???? - explico mais tarde), vão saber trabalhar com um processador de texto (Word), uma folha de cálculo (Excel), uma base de dados (Access), um slide shower (Powerpoint), um criador de páginas web (Frontpage), o email (hotmail + outlook), um navegador de internet (explorer).

Quanto a novas tecnologias, tudo o que se aprenderá nesses cursos tem mais de dez anos e muitos dos programas descritos anteriormente tinham substitutos de muito maior qualidade que a Microsoft com o seu incentivo à pirataria (desculpa mas incentivava ao não colocar qq segurança nos office e poder-se copiar aquilo livremente - agora que são monopolistas já têm licenças e tudo o mais) destruiram (lembro-me do Quatro da Borland, folha de cálculo 100 vezes melhor que o Excel na altura).

Se calhar formar as pessoas para realmente poderem trabalhar com computadores independentemente do fornecdor do programa era mais vantajoso: queremos que saibam fazer páginas web, ensina-se html.
Queremos que saibam trabalhar com um processador de texto??? Ensinam-se as bases dos processadores de texto e que tal Latex?

Mais se não conheces projectos com pés e cabeça de open-source podes ir passando por aqui:

http://www.gnu.org/

E é este o próximo campo de batalha da Microsoft, depois de destruir concorrentes, destruir projectos open-source. É assim que ele é um filantropo, doando muita formação em software, só assim pode combater os projectos open-source.

Tenho pena de dizer isto, mas o Chico nisto (da necessidade de liberalizar o mercado de software e abri-lo à concorrência) tem razão, tu (manter o mercado sob o domínio de uma empresa e impedir a concorrência) não.
Parece-me que aqui o Chico é mais liberal do que tu.

O Politicopata disse...

Caro Gonçalo Capitão: Aspergir bílis oratória sobre Bill Gates e sobre a Microsoft, é bonito! Aliás só tenho mesmo um adjectivo:Gostei!
Ainda assim temos que reconhecer que o Loução é suficientemente manhoso, para já contar com 8 deputados no Parlamento... E qualquer dia levam a "família" atrás... De qualquer forma não se esqueça que o Bill Gates só vai investir 1/2 milhão de Euros ano, em Portugal (só o Euromilhões desta semana são 186 milhões) e é recebido por uma comitiva com todos os membros do Governo português... Triste este nosso Portugal não é???

Um abraço do
Politicopata

Gonçalo Capitão disse...

Caros Amigos:

Antes de mais, obrigado pelos vossos comentários, que têm razão em vários pontos, reconheço.

Como sabem a minha abordagem - até por formação - é mais teórica; olho mais ao impacto da tecnologia no sistema político.


Mas vamos a isto...

1-Amigo Sniper:
É evidente o interesse do sr. Gates em secar a concorrência. Porém, a verdade é que as ferramentas da Microsoft são mesmo muito "user friendly", até para leigos, como eu.
O "Pirolito" desapareceu, ao que dizem, porque apesar do berlinde, era uma zurrapa valente. Ou seja, não há de ser o marketing a salvar Gates, se o produto não for bom.
E quanto às regras de concorrência, creio que a UE tem agido equilibradamente.
Também eu creio que tem de haver espaço para os demais, agora o que não preconizo é a ideologia libertária do BE, que quer um fascismo do software livre.
A meu ver, há que impedir o monopólio e o quase-monopólio, mas dar espaço para que, quem faz bem, colha frutos.
Isto é que é ser liberal, à maneira anglo-saxónica, na minha opinião; espaço ao mérito, portanto.

2-Amigo Politicopata
A dignidade da recepção a Gates é sinal dos tempos...
Um minuto com ele, nos media, vale 500 discursos políticos, face à mediatização da sociedade, ao baixo crédito dos políticos e à dimensão mundial da Microsoft (não é só cá que ele recebe tantas honrarias).
Pensemos assim: os políticos que temos espelham, ao menos em parte, o povo que somos.

el s (pc) disse...

Três considerações e um epílogo:

1.
Isto é uma contradição nos termos:
...fascismo do software livre....

Só ataca o software livre quem não o conhece e não se dá ao trabalho de o conhecer. (Exemplo: Se gostava de fazer pdfs em casa e não quer comprar o acrobat writer há uma versão grátis - não é livre - chama-se ppf995, só tem de receber um ecrã de publicidade cada vez que cria um pdf, se calhar vai-lhe ser útil).

2.
Depois, é nos países anglo-saxónicos que mais se desenvolve o software livre o que diz algo sobre o sistema. Software livre significa que qq um pode usar o algoritmo para o seu produto final (que pode custar dinheiro). Afinal quando quer um martelo pode fazer um em casa sem ter de pagar direitos de autor, não é?

3.
Terceiro, o Word é uma zurrapa a todos os níveis. Não faz um espaçamento equilibrado, não suporta mais do que umas quantas equações num texto, não digere bem imagens, tem menus que são do mais complicado que há - a questão é que você aprendeu a trabalhar com eles de forma progressiva. Ora quem começa agora com aquilo é bem complicado.
Embora zurrapa tenho de o usar porque todos a usam (o pirolito tinha sucesso porque não se conhecia outras marcas, qd estas foram conhecidas desapareceu...).


Ep.

Mas porque é que quando o BE defende um mercado concorrencial no software a direita tem do o atacar? Pensava que aí estavam ambos do mesmo lado... ...liberdade, pelos vistos não.

Gonçalo Capitão disse...

Fascismo do software livre é aparentemente contraditório, mas quer apenas significar que o BE é totalitário, na matriz ideológica e, neste caso, queria substituir a suposta ditadura do Gates pela obrigatoriedade do software livre.

Quanto aos programas: a verdade é que são fáceis de usar e bem tratados do ponto de vista da concepção. Nem toda a gente tem a sua versatilidade em informática.

O utilizador médio é apenas isso, um utilizador.

Nada me move contra o software livre, mas não entro na cruzada anti-Gates.

el s (pc) disse...

Pergunta muito estúpida...

Se é facilidade de utilização que queremos porque não usar como processador de texto o WordPad que vem com o Windows?

Gonçalo Capitão disse...

A pergunta é irónica, como assumido...

Ainda assim, há que procurar um justo equilibrio entre facilidade de uso e elaboração.

Mas ambos sabemos que estamos numa conversa de surdos...

el s (pc) disse...

Era irónica, e não acho que estejamos numa conversa de surdos...

...em primeiro lugar porque penso que é uma pessoa inteligente e que pensa por si.

... em segundo lugar porque a pareceria com a Microsoft é boa para Portugal, mas tem-se de dizer que tb é boa para a Microdoft (e não fazer o Bill aparecer como um filantropo que gosta de nós).

... terceiro que percebo os problemas de Louça, porque:
Exemplo 1: Porque é que uma Universidade terá de pagar 500 euros por licença (uma por computador) por ano para ter um programa de cálculo matemático quando os algoritmos internos são na maior parte das vezes free source (publicações científicas)???
Claro que eu sei porquê, basicamente pq as organizações internacionais mais as editoras científicas REQUEREM que se faça as coisas nesses programas, fazendo a regra que tudo seja SOFTWARE PAGO.
Exemplo2: pq diabo uma revista universitária EXIGE ao publicante um texto em WORD????? Quando o WORD não suporta mais de 20 equaçóes (a partir daí começa a crashar)?
O problema de Louçã tem a ver com a realidade na qual trabalha que é diferente da sua.

Mas nas avaliações do software para a administração pública nunca se faz as contas nos custos para o cidadão individual de adoptar o programa X Y ou Z.
Exemplos:
1 - se um F. Pub. em vez de ter o Micorsoft Office no seu escritório
tivesse um free software não tinha de COMPRAR o Office para trabalhar em casa (a compra do OFFICE no local de trabalho leva ao fascismo do software pago em casa).
2 - Se uma escola adopta o Office como padrão isso requererá que os alunos que tenham computador em casa, se querem tirar vantagem destes, tenham de pedir aos pais para COMPRAREM o Office - mais uma vez imposição do estado sobre a escolha individual.

Como em tudo é necessário um equilibrio, mas não me venha com a história de mercado com o Estado como cliente à mistura, pq onde entra o Estado nunca há um mercado livre e concorrencial pleno, será sempre distorcido, daí que será de perguntar.
Valerá a pena distorcê-lo numa só direcção? (Livre ou Pago)
Deveria o Estado procurar um equilíbrio justo entre programas?
Deveria o Estado fazer uma escolha mas pedir contra-oartidas (usamos o Office, mas este é à borla para a Adm. Pública)?


PS: Penso que deveriamos refelctir sobre que padrões usamos e esquecer o sound bite do BE.
As posições do BE sobre determinados temas só prejudicam quem pensam que ajudam (ou será que é premeditado)?.

el s (pc) disse...

Desculpe estar a ser chato, mas tb temos isto, free source:
http://pt.openoffice.org/index.html

Às vezes é bom ver o que o outro lado oferece.

Gonçalo Capitão disse...

Não me expliquei bem...

O ponto é mesmo esse: o Estado tem que conseguir um equilibrio, optando sempre pela melhor escolha, independentemente de ser software livre ou de licença.

Isso não está a ser feito?! Bem, então aí requer-se trabalho de campo, mas aí reconnheço que não tenho dados de facto.

By the way, o meu amigo nunca é chato.

O Politicopata disse...

HAHAHAHAHAHAHA! Fónix, há muito que eu já tinha dado razão ao "El_Sniper"....
Softwares pá e nada de Hardwares pá???? Então e o input output??? Sobre isso ninguém diz nada, não é???
Aliás, para quê que são precisos os computadores??? Como se está a ver só dão chatices....