terça-feira, 6 de dezembro de 2005

Por um canudo

Augusto M. Seabra - outro dos "cultos" portugueses - é, enquanto figura pública (articulista da área cultural e não sei mais quê...), verdadeiramente lamentável.
Todavia, nem ele consegue, por muito bem regada que seja a prosa, evitar um ou outro momento curioso e, assim, pediu-lhe o "Público" que comentasse o debate "Cavaco vs. Alegre" (por que raio lho pediram é uma incógnita, já que me pareciam capazes de coisas mais interessantes o Noddy ou mesmo a múmia de Lenine).
Mesmo a terminar o seu arrazoada, M. (nunca soube que "M" era este...) Seabra menciona que acha "ridículo" (sic) que o candidato-poeta se deixe tratar por "dr. Manuel Alegre".
A intenção é, obviamente, a de amesquinhar, com o que revela bem o tipo de sujeito que é, mas o facto permanece, sobretudo se nos lembrarmos de que Cavaco Silva o tratou por "Deputado Manuel Alegre" e que, a dado passo, um dos entrevistadores se lhe referiu apenas pelos nomes, continuando a tratar o futuro Presidente por "Professor".
Chegados aqui, admitamos a hipótese de Manuel Alegre não ser, de facto, licenciado. ´
Será imperioso que um candidato a Presidente ou a qualquer cargo político seja licenciado? A meu ver, não! Por exemplo, o Primeiro-Ministro sueco não o é, e a Suécia está um "nadinha" mais desenvolvida do que nós.
Somos um País de parolos em que os títulos importam imenso, mas em que o resultado roça a iliteracia? A meu ver, sim! Veja-se quão informais são os espanhóis, e que produtividade tem o país vizinho.
Porém, algo fica por perguntar: é ou não "ridículo" (para, uma vez na vida, citar o "nosso" M.) que quem não tem um título aceite o "honoris causa"? Ainda na minha modesta opinião, é!
A ser verdade, eis a coerência por um canudo...

4 comentários:

el s (pc) disse...

Gostei, gostei, mas no fim tiveste que estragar tudo:

É ou não "ridículo" (para, uma vez na vida, citar o "nosso" M.) que quem não tem um título aceite o "honoris causa"? Ainda na minha modesta opinião, é!

Na verdade o 'honoris causa' é exactamente para uma universidade distinguir alguém que contribuiu de forma assinálavel para um determinado campo de estudos ou para a sociedade, não dever ser monopólio dos que têm canudo. Não poderão Alegre ou Saramago receber um honoris causa na literatura? O contributo dos dois para a literatura portuguesa é maior do q o de qq doutorado.
Querer restringir o honoris causa aos q têm canudo é querer manter a Universidade na torre de marfim.

Gonçalo Capitão disse...

Certo, mas o problema é que ele não deve ostentar títulos académicos que não tem (nem sequer deixando tratar-se como tal), por muito que se lhe respeite a obra.

el s (pc) disse...

Certo também, o honoris causa não confere o uso do grau de Doutor, dr. , etc...

...mas já se sabe em Portugal todos gostam de ser tratados como tal (todos? bem os que de facto são doutorados muitas vezes não usam o título)...

...imagine que já vi nos cheques de um licenciado o seguinte:

Doutor XXXX XXXXX.

Para exemplo basta.

Gonçalo Capitão disse...

Sei disso...

Travei uma guerra com a CGD para retirarem dos cartões e cheques o "Dr."...

E ainda me perguntaram por que o desejava, já que era formado.

Perguntei, na minha inocência, se, sendo mestre (como sou), também punham nos títulos.

A resposta foi linda: que, ainda há não muito tempo, um cidadão mandara gravar "Dr. Mestre".

Valha-nos Deus!