terça-feira, 26 de julho de 2005

Canal de História

E, pronto!... Num ápice, lá se foi o défice, a demissão do Ministro das Finanças e a entrevista do Ministro dos Negócios Estrangeiros. A pré-candidatura do dr. Soares à Presidência da República conseguiu obnubilar as aparentes dificuldades de governação.

Fiel ao seu cariz tropical (embora a geografia nos desminta), a nossa vida política já só discute Soares, Alegre, Cavaco, Marcelo, e se A disse mal de B, e se C esteve no passado com D.

Pelo caminho ficam as dificuldades de pagar as contas, as restrições medonhas (que começarão realmente em 2006) e essa aparente “insignificância” que passou a ser o poder local, que vai a votos em Outubro.

Quanto ao dr. Soares é sabido que me põe “doente”, dado que, embora tenha sido no século passado, não deixo de ser céptico em relação à descolonização que fizemos (embora se diga que era inevitável, então), relutante em apreciá-lo como Primeiro-Ministro, e contestatário sobre a forma como “derrubou” Cavaco Silva com as suas intervenções tribunícias. Mas a vida é mesmo assim… Se todos gostássemos dos mesmos, não haveria eleições.

Contudo, não contarão comigo para o já escutado argumento da idade. Entendo que é politicamente irrelevante, e que há sempre hipótese de censurar uma eventual prescrição política, através do voto.

Em relação ao embate, lidos os factos, oferecem-se-me três apontamentos: em primeiro lugar, que a dicotomia direita-esquerda ainda colhe todo o sentido. Com o BE e o PCP a admitirem entronizar Soares, mais uma vez, e com o CDS a vencer a priori o seu anti-cavaquismo, o combate pode ser polarizado ideologicamente, o que o torna aliciante.

Em segundo lugar, creio que há que pensar bem no papel e nos poderes do Presidente, antes de votar: Procurando vencer a debilidade de Soares nas matérias económicas, os seus adeptos menorizam o papel do Chefe de Estado no nosso semipresidencialismo. Todavia, o dr. Soares interferiu várias vezes na governação com vetos, censuras públicas e almoços no Aviz, e o actual Presidente chegou mesmo a dissolver o Parlamento, quando a querela era com o Executivo.

Neste tipo de sistemas deve olhar-se à prática e não apenas ao enquadramento constitucional, sendo por isso mesmo que estamos a meio caminho entre o Presidente francês e o austríaco, em matéria de poderes do PR.

Ora, aceite o facto de o nosso Presidente ter uma intervenção política importante, balizadora e mesmo condicionadora, e sendo que os tempos são de globalização e de luta pelo modelo de Estado social mais sustentável, diria que um Presidente versado em Economia e Finanças seria uma ajuda preciosa, desde logo para mobilizar os portugueses para a necessidade de acatar as agruras futuras.

Pensadas as coisas desta forma, Cavaco seria o Presidente ideal para Sócrates. Apoia a contenção, sabe explicá-la, e arruma de vez o “obstáculo” que o soarismo ainda é para a nouvelle vague socialista, com a vantagem de que a derrota será personalizada no próprio.

Por fim, o terceiro apontamento prende-se com a indigência da nossa democracia. Se os aparelhos partidários (no PSD afianço-o em larga medida) se converteram em sociedades anónimas governadas por shares de votos, agora é o palanque dos senadores que não rejuvenesce.

Por este andar, em 2011 voltará Sampaio ou mesmo Eanes…

1 comentário:

Tiago Sousa Dias disse...

Curioso que eu estava a escrever uma resposta e ao mesmo tempo estavas a colocar um novo post. Quanto ao Soares...não acho que uma eventual derrota do nosso ex-presidente seja uma derrota dele. É sem dúvida também dele pois é ele que vai dar a cara, mas julgo que mesmo antes de se realizarem as eleições isto revela já uma derrota da esquerda, isto porque os tais novos socialistas não foram capazes de encontrar um candidato próprio dos tempos que correm.