sexta-feira, 14 de setembro de 2012

“Desvalorização fiscal” obsessão ou ignorância


Começando pela declaração do 1º Ministro de Sexta-feira e acabando na conferência de imprensa de ontém do Ministro das finanças, tudo foi mau e ou me engano muito ou estamos a assistir ao princípio do fim. Mais uma vez não me custa nada dizer que sou social democrata e fui desde a primeira hora apoiante de Pedro Passos Coelho, mas esta condição não me limita nem me tolda o raciocínio.

Sei que a memoria é curta e demasiado selectiva por vezes, mas quem já se esqueceu, de palavras como, transparência, rigor, equidade, honestidade, seriedade, verdade e outras tantas proferidas por Pedro Passos Coelho, tanto em campanha eleitoral como no discurso da vitória. Eu não me esqueci, voltámos a ouvi-las? Não. Seria importante ouvi-las de novo? Não, porque o importante é que isto seja uma prática e uma realidade.

Mas vamos aos factos políticos mais relevantes:
O 1º Ministro assumiu pessoalmente a responsabilidade por uma medida que é uma monstruosidade e uma aberração do ponto de vista conceptual e dos efeitos que em si encerra, porquê?

Porque acredita nela e desconhece os efeitos preversos que ela gera?  Porque não tinha outra escolha? Por vingança ao Tribunal Constitucional? Por imposição da Troika ? Por puro experimentalismo? Por ignorância e incompetência? Por imposição daqueles que serão os grandes beneficiários?

Pessoalmente estou em querer que por nenhuma delas, mas por todas.

Então anuncia-se uma medida detalhadamente no que respeita ao esforço adicional para os contribuintes e à poupança para as empresas e não se detalham mecanismos de segurança para assegurar a sua efectividade?

 Estima-se que no caso da EDP, este medida possa gerar uma poupança anual directa de 10 milhões de Euros, desconhecendo-se para já outras poupanças indirectas por via das sub-contratações, outsourcings e outros contratos que envolvam recursos humanos.

No fundo, subtraem-se aproximadamente 12 milhões de euros dos rendimentos anuais dos trabalhadores da EDP, para dar 10 milhões à própria EDP e 2 milhões aos cofres do Estado.

Ora, segundo entendemos das explicações dadas tanto do 1º Ministro como pelo Ministro das Finanças, o objectivo desta medida seria não só o de conter o desemprego, mas também gerar alguma tesouraria tão necessária às pequenas empresas, numa altura em que o acesso ao crédito é limitado ou muito restrito. 

Nada mais falso e porquê, recorramos à matemática!!!

EDP, não tem dificuldades em aceder ao crédito, tem aproximadamente 7.000 trabalhadores, com um salário médio médio anual de 25.000€ X 5,75% que é a redução na TSU = 10. 062.500€

Sejemos sérios e apliquemos a medida ao verdeiro tecido empresarial Português, as PME’s, estas sim, com dificuldade na obtenção de crédito.

Segundo dados do INE, existem mais de 1 milhão de PME’s que em média empregam 8,28 trabalhadores e é com esta realidade que vamos refazer as contas.

PME, 8 trabalhadores, com um salário médio de 20.000€ X 5,75% de redução na TSU = 9.200€/ano, que para efeitos de tesouraria representa 767€/mês.

Perante estes factos, creio que nas razões invocadas anteriormente esqueci-me de uma, que essa sim terá estado na origem da comunicação do 1º Ministro na sexta-feira passada.

A media é tão estupida do ponto de vista da racionalidade económica, é tão injusta e tem efeitos tão preversos,  que o Ministro da finanças se terá recusado a ser ele a anuncia-la em primeira mão.

A saber esta medida retira 2.8 mil milhões de euros aos trabalhadores, gera uma poupança para as empresas na ordem dos 2.3 mil milhões de euros e o remanescente ficará para os cofres públicos para continuarem a desbarartar como o têm feito até hoje.

Os efeitos preversos a que me refiro são os seguintes:

- São menos 2.8 mil milhões de euros retirados ao consumo, que tanta falta fazem para sustentar pequenas empresas que vivem exclusivamente do mercado interno, geram dificuldades economicas acrescidas a quem fica sem esse rendimento.

- Os 2.3 mil milhões de euros que vão para as empresas, 90% não serão reinvestidos, nem servirão para manter ou criar postos de trablho, mas pelo contrário serão canalizados para os accionista que através de SGS e outros artifícios os colocarão em offshores, carros de luxo, barcos de luxo e afins.

- Esta transferência de rendimentos dos trabalhadores para as empresas, é de uma preversidade nunca vista e uma provocação a todos os Portugueses

- O consenso que se conseguiu gerar ao longo destes tempos muito positivo e elogiado por todos, foi colocado em causa e não me parace bem que se acusem os partidos da oposição, sindicatos e outras organizações de não apresentar alternativas, porque perante esta medida imoral a única solução é suspende-la, re-estuda-la e pedir desculpa aos Portugueses.

Finalmente e só a titulo de exemplo, na próxima reunião de direcção da empresa em que sou gestor e caso esta medida vá para a frente, proporei que o valor retirado aos trabalhadores lhes seja reposto, através de prémios de productividade por forma ao saldo ser ZERO.

Estou certo de que muitos empresários com o mínimo de consciência social e visão de futuro farão o mesmo, não só pela imoralidade e preversidade da medida, mas também, porque os efeitos negativos na desmotivação e productividade dos nossos colaboradores  será muito acima dos 5,75% de uma suposta poupança.

Espero com este texto ter contribuído para aclarar algumas mentes menos esclarecidas e desejar que tudo isto não tenha passado de um mal entendido.

3 comentários:

Defreitas disse...

"Porque acredita nela e desconhece os efeitos preversos que ela gera? Porque não tinha outra escolha? Por vingança ao Tribunal Constitucional? Por imposição da Troika ? Por puro experimentalismo? Por ignorância e incompetência? Por imposição daqueles que serão os grandes beneficiários?"

"Pessoalmente estou em querer que por nenhuma delas, mas por todas."

O nosso Amigo Tavares , na ultima frase, em poucas palavras, disse tudo!

O que é extremamente grave é que os povos estejam à mercê de políticos deste nível.

Na realidade, trata-se duma crise económica e política, mas também duma crise moral sem precedente. Porque aquilo que expõe é realmente imoral.

E quando escreve , e muito bem, que " - Esta transferência de rendimentos dos trabalhadores para as empresas, é de uma perversidade nunca vista e uma provocação a todos os Portugueses", é exactamente o que se verifica ao nível europeu.

Em França, em 1980, o valor acrescentado foi partilhado entre 77% aos assalariados e 23% aos accionistas. Hoje, o raport estabelece-se em 68-32, isto é dez pontos de riqueza nacional, captados pelos accionistas em detrimento dos assalariados.
Este é o símbolo das derivas do capitalismo financeiro contemporâneo.

A restauração da partilha do valor acrescentado ao seu nível de 1980 permitiria de reinjectar 200 mil milhões de euros por ano em beneficio do poder de compra: seja mais de 3000 euros anuais por cada Francês. Imagine em Portugal, não ao nível da EDP mas do país!

Exactamente o ponto de vista que defende no seu excelente "post" !

São os cálculos que o vosso PPC deveria saber fazer, se a politica que ele defende não fosse a dos "mandões" que o governam.
Mas, Caro Companheiro do Lodo, tem a certeza que isso tem alguma coisa a ver com a social-democracia ou o PSD ? Ou com a "Troika" ?

Quando a elite politica nacional, vem exigir ainda mais sacrifícios ao povo, não pode incriminar estes organismos internacionais , porque na realidade é ela que põem em pratica as politicas de austeridade e de empobrecimento das quais eles esperam recolher algumas migalhas.

Freitas Pereira

Ricardo Jesus Cândido disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricardo Jesus Cândido disse...

Não escreveria melhor. Excelente.
Mas isto não vai para a frente! Sabe porquê? Porque o povo não vai deixar...
BTW, também eu votei em Passos Coelho, 3 vezes!!!
Abr